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Publicado em 3/05/2016 as 10:00am

Em casa, menina que deixou de ser cega se acostuma à claridade

Com pupila sensível, criança deve ficar em ambientes mais escuros. Catarinense Nicolly, de 2 anos, tem glaucoma e fez cirurgia nos EUA.

Há uma semana, Nicolly, de 2 anos, e a mãe, Daiana Pereira, de 26, voltaram para casa, em Balneário Piçarras, Litoral Norte catarinense. Elas estavam nos Estados Unidos, onde, após passar por uma cirurgia, a menina, que era cega, começou a enxergar.

Em casa, a criança deve ficar em ambientes mais escuros por enquanto, pois a pupila ainda está bastante sensível, como mostrou o RBS Notícias desta segunda-feira (2).

O procedimento ocorreu no dia 17 de março em um hospital de Miami graças à ajuda de pessoas que souberam do caso pelas redes sociais. O momento em que os tampões são retirados e Nicolly vê o mundo – e a mãe – pela primeira vez, no dia seguinte à cirurgia, foi registrado em vídeo.  "Filha, você tá vendo!", disse a mãe, entre lágrimas, naquele momento.

Nos ambientes em que a menina fica em casa, é preciso evitar a claridade, com cortina fechada e até outro pano na janela. Isso porque a Nicolly ainda tem bastante sensibilidade.

A pupila do olho direito dela, que controla a entrada da luminosidade, foi reconstruída. Por isso, por cerca de duas semanas, o ambiente precisa ficar mais fechado.

A expectativa é que em 10 anos a Nicolly possa passar por um transplante de córneas. Mas antes disso, os médicos querem descobrir qual é a síndrome que, além de afetar os olhos e os ouvidos, também compromete um rim e o desenvolvimento motor da menina.

De qualquer forma, os sonhos já estão se tornando realidade. "Ela tem a visão. Então é um milagre muito perfeito", disse a mãe.

Risco de perder os olhos

Nicolly nasceu com uma forma agressiva de glaucoma congênito. Por causa da elevada pressão intraocular, corria o risco, além da cegueira, de precisar ter os olhos retirados. “O glaucoma dela não tinha controle.” Além disso, descobriu-se depois que Nicolly também não ouvia. Ela também enfrentava problemas renais.

Vida nova, agora de óculos

De volta a Piçarras, no litoral norte catarinense, Nicolly aos poucos retoma a rotina, e vem evoluindo. "Está escutando, antes da cirurgia falava meio embaralhado, agora repete tudo, até canta em inglês com as musiquinhas dos brinquedos que ganhou nos Estados Unidos”, diz Daiana.

A visão da criança está longe de ser 100%, mas a família considera que o que aconteceu foi um “milagre”. “Ela está usando óculos com 5 graus cada”.

Para Daiana, a filha é um caso a ser estudado: "A Ni tem comportamentos diferentes, tem seu mundinho, se concentra, bate palmas com mãos e com os pés, é muito flexível. E cativa todo mundo, digo que ela não é sinônimo de um anjo, ela é um anjo".

Nos últimos dias, por causa do frio, Nicolly tem ficado em casa. "É por causa da imunidade. Mas ela está bem, vai se adaptando. À noite fica meio chorosa, porque nos Estados Unidos ela dormiu seis semanas comigo, e aqui ela tem o quartinho dela, dorme sozinha. Só que agora ela enxerga!", diverte-se a mãe.

Sete cirurgias no Brasil

Com nove dias de vida, a menina passou por uma cirurgia. Foi a primeira de sete operações que fez no Brasil, das quais saía sem qualquer esperança de melhora.

Quando Nicolly nasceu, Daiana e o marido, Alexandre, levavam uma vida de classe média relativamente tranquila. Ela trabalhava como operadora de máquinas e ele, como motorista. Com a chegada de Nicolly, a família começou a gastar o que tinha e o que não tinha com os tratamentos da menina.

Campanha na internet

Sem coragem para dizer às pessoas a sentença dos médicos, de que era quase impossível Nicolly enxergar, aos três meses de vida da menina a mãe postou uma foto em uma página criada para ajudar outra criança doente, que tinha muitos seguidores. “Uma menina do Rio de Janeiro, Luciana, viu a foto e sugeriu criar também uma página de ajuda”.

Com os recursos arrecadados, a família se mudou para Sorocaba, no interior de São Paulo, para buscar outras opções de tratamento. “Eu e meu marido fomos trabalhar no lava-jato de uma amiga, quando não estávamos com a Nicolly nos hospitais”. Em uma das viagens, acabaram batendo o carro, que foi vendido para custear o tratamento.

“Muita gente achava que ela nunca enxergaria, mas nunca duvidei. Ficava até sem o que comer para pagar um exame que ela precisava. Às vezes eu entrava confiante no consultório e saía arrasada, mas ela dava um sorriso e toda decepção acabava naquele sorriso dela”.

A mobilização na internet cresceu e despertou o interesse de uma internauta que vive nos Estados Unidos, fala português e cuja mãe também tem glaucoma. A jovem decidiu pesquisar hospitais que pudessem fazer a cirurgia para tentar salvar a visão de Nicolly.

Viagem para os EUA

“Uma fundação se interessou pelo caso dela e decidiu ajudar. Ganhamos a hospedagem, a comida e a cirurgia”, conta Daiana.

Mas ainda eram necessários US$ 17,5 mil para cobrir outros custos hospitalares. Mais uma vez, uma campanha foi lançada. Um casal fundador de uma ONG nos EUA doou US$ 15 mil, e um corredor de kart de 10 anos deu as passagens, diz a mãe de Nicolly.

Em pouco tempo, Daiana e a filha embarcavam para os Estados Unidos para uma temporada de seis semanas. A cirurgia a qual Nicolly foi submetida durou três horas e, além da visão, devolveria à menina também a audição.

No início desta semana, a família voltou para Santa Catarina. Nicolly, que não enxergava nada, apenas pontos de luz com o olho direito, agora enxerga melhor até com o esquerdo, que era considerado praticamente perdido, conta Daiana.

Futuro

Daiana ainda não sabe como será o futuro. Talvez voltem para Sorocaba, onde há mais recursos do que na cidade onde vivem. Nicolly ainda não anda, e a fisioterapia poderá ajudar nos movimentos. Um médico de lá, escolhido pela família, terá a oportunidade de receber treinamento especializado nos Estados Unidos, para, quem sabe, trazer ao Brasil a técnica que salvou a visão de Nicolly e ajudar outras crianças.

“Antes de a Ni nascer eu não sabia o que era glaucoma. Fui pesquisar e as pessaos dizem que as dores são muito fortes. Mas eu nunca vi ela reclamar. Quando chegamos a pressão no olho estava a 50 e ela sorria”, diz a mãe, antes de resumir: “A guerreira é ela”.

Fonte: g1.globo.com

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