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Publicado em 18/10/2016 as 2:00pm

Propostas para a imigração ilegal dividem eleitores nos Estados Unidos

O que americanos pensam sobre a proposta de construir um muro para separar o México? Veja na reportagem de Alan Severiano e Lucas Louis.

Nessa disputa pelo governo da maior potência mundial, Hillary Clinton e Donald Trump discordam de quase tudo, principalmente sobre um dos assuntos mais delicados dos Estados Unidos: o que fazer com os 11 milhões de latinos ilegais do país. A questão da imigração é o tema de uma série de três reportagens dos correspondentes Alan Severiano e Lucas Louis.

John Ladd não tem vergonha de confirmar o estereótipo: fazendeiro e conservador do Arizona. Os bisavós viraram donos de um mundão de terra na fronteira com o México há 120 anos, antes mesmo de o Arizona existir. É um assunto sensível para o fazendeiro, que perdeu a conta dos imigrantes ilegais que invadiram o rancho. Ele conta que já encontrou um corpo na fazenda e que um vizinho foi morto por um traficante mexicano.

"Os políticos não querem proteger a fronteira, os republicanos querem mão-de-obra barata, os democratas querem eleitores baratos e os consumidores americanos querem tomates baratos", diz ele.

Ladd vai votar em Donald Trump, na esperança de que o empresário faça a lei valer mais do que a economia. O republicano promete deportar milhões de ilegais e se orgulha da proposta mais politicamente incorreta da campanha: obrigar o México a pagar pelo muro que ele quer construir para proteger os americanos dos vizinhos.

O Jornal da Globo percorreu 1.000 km para mostrar como é hoje a fronteira entre os dois países. Em muitos lugares, a barreira é natural como no Rio Grande, que separa o Texas do estado mexicano de Chihuahua e que, apesar do nome, não tem nem 5 metros de largura.

Em cerca de 1.000 km o muro já existe. Alguns trechos com uma grade de 6 metros de altura e quase 2 metros de profundidade, que atravessa áreas rurais No deserto, a cerca é mais baixa porque o clima é o maior inimigo dos imigrantes.

Sol forte e calor de mais de 40ºC. "A gente passava o dia debaixo de uma árvore e, de noite, caminhava", conta Victor, que deixou mulher e filho no México para tentar o sonho: trabalhar como jardineiro nos EUA e comprar uma casa para a família. As preces não adiantaram. Três dias depois de cruzar a fronteira foi preso, ficou seis meses na cadeia e foi expulso.

Os migrantes que ganham a vida do lado americano são uma importante fonte de renda do lado de cá. no ano passado, eles mandaram US$ 24 bilhões para o México. É mais dinheiro do que o país ganhou com o petróleo.

Trump ameaça proibir essas remessas de ilegais para forçar o México a pagar pelo muro.
Hazel acha que um muro não vai funcionar. "As pessoas arranjam um jeito de passar por cima ou por túneis", diz uma americana.

Glenn Spencer, um republicano que vive na fronteira, também é cético: "Trump é um cara bom de marketing, mas essa não é uma boa ideia, porque com um muro de concreto você não consegue ver o que tem do outro lado. Por exemplo, 500 pessoas prontas para pular".

Hoje os americanos gastam US$ 18 bilhões com a segurança da fronteira. Em 15 anos o aumento do policiamento e fatores econômicos derrubaram o número de ilegais entrando: de US$ 1,6 milhão para US$ 330 mil.

É entre os latinos legalizados e que se sentem humilhados que Hillary Clinton tenta abocanhar votos. Ela promete um caminho para regularizar imigrantes que pagam impostos e não cometeram crimes, mas muitos americanos ainda vêem os imigrantes como ameaça ao próprio emprego e culpam as drogas que chegam do México pela criminalidade.

Ciudad Juarez já foi a cidade mais violenta do mundo e continua sendo um dos principais centros do tráfico de drogas. Um morador conta que há áreas proibidas e que as mortes, que tinham caído, agora estão subindo de novo.

Do lado americano só a patrulha de fronteira apreendeu no ano passado 700 mil toneladas de maconha, cocaína, heroína e metanfetamina. "O tráfico de drogas nunca vai parar", diz este senhor mexicano.

Jeremy Slack, professor da Universidade do Texas, vai além: "A grande maioria das drogas passa pelas pontes principais, passam dentro de carros lícitos, que vão cruzando a fronteira legalmente, porque essas drogas são muito rentáveis, há muita corrupção".

Entre a repressão ao tráfico e a repressão aos imigrantes, os efeitos colaterais vão ficando pelo caminho. Nos últimos 15 anos as autoridades encontraram restos mortais de mais de 2,2 mil pessoas, supostamente imigrantes que morreram depois de cruzar a fronteira. Muitos não foram identificados até hoje. A maioria morreu de calor e de sede na travessia do deserto.

O antropólogo Bruce Anderson diz que não acha que o muro e o ódio sejam soluções. "É impossível impedir pessoas desesperadas por razões econômicas de fugir para sobreviver. Você faria isso, eu faria isso".

É a ironia da placa na fronteira: tentar impedir alguém de querer alcançar um sonho.

Fonte: http://g1.globo.com/

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