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Jornalista brasileira é intimidada por agente da imigração ao desembarcar no Texas: “tratamento hostil”

Fonte: Da redação

Ao desembarcar no aeroporto de Houston, no Texas, em 16 de março de 2025, a jornalista brasileira Maria Martha Bruno viveu na pele o tratamento hostil direcionado a certos viajantes nos Estados Unidos sob o atual governo. Mesmo com visto regular, passagem de retorno e histórico acadêmico no país, ela foi interrogada de forma agressiva por um agente do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês), que questionou seu uso de óculos escuros, a viagem sozinha, sua passagem pela Colômbia e insinuou que ela estaria carregando drogas.

“Você está carregando drogas?”, perguntou o agente. Ao tentar entender o motivo da abordagem, Maria Martha ouviu uma resposta emblemática: “Meu único propósito é colocar a América em primeiro lugar” — frase que repete o slogan de campanha do presidente Donald Trump. Naquele momento, ela foi escoltada até uma sala de inspeção secundária, onde seu histórico e pertences foram verificados, embora os pacotes de café em sua mala — presente para amigos — nem sequer tenham sido abertos.

A situação só começou a se acalmar quando a jornalista mencionou sua relação com a Universidade Texas A&M, onde concluiu um mestrado e lecionou até o final de 2024. A conexão local humanizou sua história aos olhos de um segundo agente, mais cordial, que desviou o assunto para futebol americano universitário e churrasco texano. Apesar da liberação, o impacto emocional foi profundo: “Não sou de chorar fácil, mas chorei por três horas. Chorei pela política, pela intimidação, pelo medo e por saber que fui alvo pelo meu gênero, profissão e nacionalidade.”

Cerca de um mês após o episódio, o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) divulgou recomendações a profissionais da imprensa que enfrentam situações semelhantes ao entrar nos EUA, alertando sobre riscos como revistas em dispositivos eletrônicos e longos interrogatórios.

O episódio vivido por Maria Martha expõe uma realidade já conhecida no Texas, estado que tem servido de campo de testes para políticas conservadoras extremas. Desde 2021, a Operação Lone Star já consumiu US$ 10 bilhões em esforços para patrulhar a fronteira com o México e deter mais de meio milhão de imigrantes. Tropas infiltraram até grupos de WhatsApp para monitorar migrantes.

Em 2023, muito antes de Trump anunciar o fim nacional dos programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), o Texas já havia aprovado medidas semelhantes. A Universidade Texas A&M, a maior instituição pública dos EUA em número de alunos, passou a ser palco de embates ideológicos. Em um dos casos mais emblemáticos, o centro de saúde da universidade suspendeu o tratamento hormonal para alunos trans após pressões de ex-alunos conservadores.

No campus, professores e pesquisadores relatam autocensura e receios de perseguição política. Um docente do departamento de jornalismo afirma manter os conteúdos de suas aulas, mas evita termos como “diversidade” e “inclusão”, substituindo-os por expressões como “multiplicidade” e “variedade”. Já um pesquisador da comunidade LGBTQ+ teme perder financiamento antes de concluir sua tese.

“Estamos preocupados, mas não surpresos. O que está acontecendo nos EUA já aconteceu aqui”, resume um professor da universidade.

O clima de vigilância não atinge apenas estrangeiros. Até mesmo cidadãos americanos, como professores e acadêmicos, demonstram cautela ao expressar opiniões políticas nas redes ou no ambiente de trabalho. “Se um cidadão gay norte-americano, acostumado à realidade texana, fala em voz baixa, quem sou eu para levantar a minha?”, refletiu a jornalista, durante uma conversa com amigos em sua antiga universidade.

Cem dias após reassumir a presidência, Donald Trump cumpre o que prometeu: com deportações em massa, ataques às políticas de inclusão e o fortalecimento de um discurso nacionalista, seu governo deixa claro que há cada vez menos espaço para a diversidade — e para o jornalismo independente.

(texto originalmente publicado na newsletter da Agência Pública em 29 de abril de 2025)

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