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Revista # 73

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Indústria das corridas de cavalos teme repressão a imigrantes nos EUA

Setor bilionário depende de trabalhadores imigrantes, muitos deles indocumentados, e teme aumento da fiscalização sob nova gestão Trump

Enquanto os holofotes das corridas de cavalos nos Estados Unidos se voltam para os chapéus extravagantes, ternos elegantes e drinques sofisticados como o mint julep, longe da vista do público, uma realidade bem diferente se desenrola nos bastidores. Ali, antes do amanhecer, centenas de trabalhadores — em sua maioria imigrantes — cuidam dos cavalos com dedicação e jornadas exaustivas.

A indústria, que movimentou cerca de US$ 36 bilhões em 2023 e sustenta quase meio milhão de empregos, está em alerta com a possibilidade de uma repressão mais severa à imigração indocumentada. Segundo especialistas do setor, muitos desses trabalhadores fundamentais para o funcionamento das corridas não possuem visto nem status legal para permanecer no país.

“Se não pudermos contar com os imigrantes nos bastidores, não sei como a indústria sobrevive”, declarou Dale Romans, treinador de cavalos de corrida no Kentucky.

A maior parte dos trabalhadores legais entra com vistos temporários do tipo H-2B, mas muitos outros continuam atuando sem documentação. Durante o primeiro mandato de Donald Trump, a indústria foi em grande parte poupada de ações de imigração. No entanto, com um novo mandato, representantes do setor não têm a mesma certeza de proteção.

Sinais de endurecimento

Empresários e dirigentes observam uma postura mais rígida do governo em relação à fiscalização nos locais de trabalho. A Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) já emitiu mais de 1.600 notificações de inspeção a empregadores desde fevereiro, o que pode levar a auditorias e prisões. Pelo menos 1.400 pessoas já foram detidas em operações desse tipo em diversos setores, como construção, manufatura e agricultura.

A Associação Nacional de Corridas de Cavalos Puro-Sangue relata relatos de que trabalhadores confiáveis deixaram de comparecer ao trabalho por medo de serem detidos. Outros simplesmente não saem dos limites das pistas de corrida, onde sentem maior segurança.

“Estamos preocupados com a possibilidade de a ICE entrar e levar os trabalhadores embora”, afirmou Romans. “Nunca vi tanta tensão entre eles como nos últimos seis meses.”

Dependência estrutural do trabalho imigrante

O presidente da associação, Tom Rooney, reconhece que o setor depende integralmente da mão de obra imigrante, e teme o impacto de uma repressão em massa. “Se tirarem essa força de trabalho, colocam em risco o funcionamento de toda a engrenagem dos Estados Unidos”, disse.

Trump tem adotado um discurso duro contra a imigração ilegal, mesmo ao admitir que setores como o agrícola e hoteleiro — dos quais ele próprio já dependeu — precisam desses trabalhadores. Em entrevistas recentes, sugeriu que empregadores poderiam recomendar o retorno de trabalhadores deportados, mas ainda não apresentou planos concretos para garantir a continuidade da força de trabalho nesses setores.

Condições precárias e falta de alternativas

Além da instabilidade migratória, há a preocupação com as condições de trabalho. Izzy Trejo, diretor da Comissão de Corridas do Novo México, afirma que há escassez de mão de obra até mesmo entre os imigrantes, que preferem empregos com melhores salários e condições mais dignas. Ele relata que, em algumas pistas, trabalhadores vivem em alojamentos improvisados ao lado dos próprios estábulos, em pisos feitos de paletes e sem ventilação adequada.

O advogado Will Velie, que atua com casos de imigração ligados à indústria, tenta orientar os trabalhadores sobre como buscar legalização. Mas, segundo ele, em muitos casos resta apenas aconselhar cautela e fé: “Se não houver alternativa legal, a orientação é simples: não beba e dirija, não brigue em casa — e reze por uma anistia”.

Futuro incerto

Apesar do temor crescente, alguns ainda nutrem a esperança de que a contribuição econômica da indústria e sua ligação histórica com o país possam protegê-la de medidas mais radicais. “Talvez tenhamos um falso senso de segurança”, admite Trejo.

Enquanto isso, a indústria das corridas de cavalos, uma das mais tradicionais dos EUA, vive uma tensão crescente — dividida entre a dependência dos imigrantes e a ameaça constante da fiscalização migratória.

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