A cantora carioca Luciane Dom subiu ao palco do Sahara Lounge, no leste de Austin (Texas), no último dia 11 de maio, e, entre canções, pediu às autoridades que parem de matar pessoas negras e indígenas.
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Visibilidade dos brasileiros aumenta no Texas em meio a debates sobre deportações nos EUA

A cantora carioca Luciane Dom subiu ao palco do Sahara Lounge, no leste de Austin (Texas), no último dia 11 de maio, e, entre canções, pediu às autoridades que parem de matar pessoas negras e indígenas. Como ela, a maioria dos brasileiros afirma ter ascendência africana. Sua fala refletiu não apenas um apelo por justiça, mas também a crescente visibilidade da comunidade brasileira em um momento de tensão com a política migratória norte-americana.
Enquanto os debates sobre deportações continuam preocupando imigrantes, famílias e autoridades eleitas, brasileiros também se veem no centro da discussão. Apesar da atenção frequentemente se voltar para mexicanos, haitianos e centro-americanos, somente em janeiro deste ano, 88 brasileiros foram deportados — algemados e com os pés acorrentados — para o sudeste do Brasil.
Segundo o Censo dos EUA de 2020, pouco mais de 4 mil brasileiros vivem na região central do Texas. Eles podem estar ao seu lado no bar, ser professores de seus filhos ou seus vizinhos — sem que ninguém perceba. “Não existe estereótipo de brasileiro”, afirma Marco Mussi, proprietário do Brazil Market & Café em Round Rock. Mussi tem filhos nascidos nos EUA e uma filha na Universidade do Texas, em Austin. De ascendência libanesa, ele é carioca e ilustra a diversidade étnica brasileira, que inclui indígenas, africanos, europeus e imigrantes asiáticos, como os japoneses.
Na loja de Mussi, é possível encontrar produtos típicos como coxinha, açaí, suco de caju e uma variedade de doces e salgados congelados e frescos. Ele é apenas uma das muitas faces do Brasil nos EUA.
A política migratória tem se tornado cada vez mais rígida sob a liderança do presidente Donald Trump, que prometeu intensificar o controle das fronteiras em seu segundo mandato. No entanto, erros recentes questionam a eficácia e a justiça das ações do governo. Cidadãos norte-americanos como Nicole Micherino e Lisa Anderson relataram ter recebido notificações ordenando que deixassem o país. Já Kilmar Ábrego García, de El Salvador, foi deportado indevidamente em abril, enquanto outros, como a doutoranda Ranjani Srinivasan, optaram por sair voluntariamente para evitar confrontos com agentes de imigração.
Para muitos especialistas, a falta de compreensão sobre os imigrantes brasileiros colabora para o tratamento injusto. “Em meu livro Little Brazil, escrevi um capítulo sobre etnicidade brasileira, com uma seção chamada ‘Eles não ensinam geografia nas escolas americanas?’, porque os americanos são incrivelmente ignorantes”, disse a antropóloga Maxine Margolis, professora emérita da Universidade da Flórida.
Adriana Grande, brasileira naturalizada cidadã americana desde os anos 1990, relata ter ouvido perguntas como: “Vocês vivem em árvores?” ou “Vocês falam espanhol?”. Margolis e Grande lembram que o idioma oficial do Brasil é o português — um fato ainda desconhecido para muitos nos EUA.
Segundo Margolis, é difícil estimar quantos brasileiros vivem atualmente no país. “Provavelmente 60 a 70% estão indocumentados, e quem está nessa situação não quer ser contado”, afirma.
Eduardo Siqueira, professor emérito da Universidade de Massachusetts Boston, destaca que os brasileiros estão entre os dez grupos mais deportados dos Estados Unidos. “A imigração do Brasil aumentou e o ICE está com os olhos e ouvidos atentos aos brasileiros”, afirma.
Um retrato dessa diversidade é Natalia Shiroma, descendente de japoneses, que jantava com a família no restaurante brasileiro TorresBee, ao norte de Austin. O Brasil abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão.
Para muitos brasileiros, a atual política migratória é desumana. “Às vezes estão deportando pessoas sem motivo. Pessoas indocumentadas estão aqui trabalhando, contribuindo com o crescimento do país”, diz Rod Maia, educador especializado que vive em South Austin e é natural de Porto Alegre.
O sentimento anti-imigrante vem crescendo no Texas, segundo pesquisa recente do Texas Lyceum. A maioria dos entrevistados acredita que Trump cumprirá a promessa de deportar imigrantes indocumentados.
“Existem pessoas que talvez devessem ser expulsas do país, mas há maneiras legais e humanas de fazer isso”, diz Adriana Grande. “Não vamos colocar pessoas em jaulas. Não vamos separar pais de filhos. Isso foi feito na Alemanha nazista. E nós não somos assim.”
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