A BRACE, organização sem fins lucrativos que presta assistência a imigrantes, registrou um aumento drástico no número de faltas: 90% das pessoas com agendamentos importantes deixaram de comparecer nas últimas duas semanas.
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Operações do ICE provocam medo e esvaziam comércio brasileiro em Framingham

O centro da cidade, antes movimentado por vozes em inglês e português brasileiro, hoje enfrenta um silêncio desconfortável. Restaurantes vazios, lojas sem clientes e ruas praticamente desertas revelam o clima de medo instaurado após uma série de detenções realizadas por agentes do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, sigla em inglês) nas últimas semanas.
A comunidade brasileira, uma das maiores do país em proporção populacional, está em alerta. Muitos imigrantes — inclusive aqueles com visto, Green Card e até cidadania americana — estão evitando sair de casa.
“Não sabemos quem são essas pessoas”, afirmou Liliane Costa, diretora do Brazilian American Center (BRACE). Segundo ela, há relatos de agentes mascarados, que se recusam a mostrar identificação ou mandados de prisão. “Eles usam coletes com as letras ‘ICE’, mas não tiram as máscaras nem mostram distintivo. Poderiam ser impostores”, disse Liliane, que mostrou seu cartão de passaporte dos EUA durante entrevista à rádio WBZ NewsRadio. “Nunca carreguei isso comigo antes. Agora está sempre na minha bolsa.”
Um caso emblemático ocorreu recentemente em Framingham: um homem foi detido enquanto estava com uma criança de 12 anos, cena que chocou os moradores. Outro episódio semelhante ocorreu em Waltham. A ausência de comunicação clara dos agentes, somada à falta de transparência nas abordagens, tem gerado pânico generalizado.
A BRACE, organização sem fins lucrativos que presta assistência a imigrantes, registrou um aumento drástico no número de faltas: 90% das pessoas com agendamentos importantes deixaram de comparecer nas últimas duas semanas.
Muitos imigrantes cogitam deixar o país voluntariamente por medo de serem presos. Mesmo Liliane, que vive nos EUA há 27 anos, teme viajar de avião. “Hoje, ter documentos não garante nada. Sempre serei uma imigrante neste país”, lamentou.
Impacto econômico direto
A crise migratória já começa a impactar o comércio local. Durante a visita da WBZ NewsRadio ao centro de Framingham, diversos estabelecimentos estavam vazios na hora do almoço. Um comerciante brasileiro, cidadão americano, relatou que cogita fechar seu negócio. “Framingham sobrevive dos imigrantes. Nunca vi um medo tão grande como esse”, disse.
Desde os anos 1980, a comunidade brasileira tem sido parte vital do desenvolvimento da cidade. Dados mostram que, em 2009, algumas áreas já concentravam até 60% de residentes brasileiros. A retirada desse grupo pode gerar efeitos colaterais severos para a economia local.
“O tipo de trabalho que essas pessoas fazem — jardinagem, limpeza — é difícil encontrar quem queira substituir”, alertou Liliane Costa.
Enquanto isso, o ICE ainda não respondeu às denúncias feitas pela comunidade sobre a forma como as prisões estão sendo conduzidas.
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