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Revista # 73

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Medo e incerteza causam evasão escolar e consulados brasileiros registram alta na demanda por passaportes

Com tantos brasileiros e latinos pensando em voltar, cresce o número de histórias de separação familiar. Em alguns casos, pais voltam com os filhos pequenos e deixam os adolescentes mais velhos nos EUA para concluírem os estudos.


Nos últimos meses, o medo tem falado mais alto do que o sonho americano para muitas famílias imigrantes, incluindo brasileiras. Com a intensificação das políticas de deportação do presidente Donald Trump, centenas de famílias estão optando por deixar os Estados Unidos — e as escolas já sentem os reflexos dessa fuga silenciosa.

O venezuelano José Alberto González, por exemplo, viveu por dois anos em Denver com a esposa e dois filhos pequenos. O casal chegou cheio de esperança, com planos de permanecer por uma década. Mas após a vitória de Trump e o aumento da perseguição a imigrantes, principalmente venezuelanos e latino-americanos, a família decidiu voltar para casa.

“Não quero ser tratado como criminoso”, disse González. “Sou da Venezuela e tenho tatuagens. Para ele [Trump], isso já me faz um bandido.”

Durante os dois últimos meses nos EUA, a família quase não saiu do apartamento de um quarto onde viviam com outra família. Evitavam ao máximo circular nas ruas e só levavam os filhos à escola porque acreditavam na importância da educação. Mas em fevereiro, depois de boatos sobre agentes da imigração próximos às escolas, preferiram manter o filho em casa. Poucos dias depois, partiram em direção à fronteira, dando início ao retorno à Venezuela.

Casos como o de González se repetem por todo o país — e incluem brasileiros. Em Chelsea, Massachusetts, por exemplo, uma mãe brasileira retirou os dois filhos da escola para voltar ao Brasil. O aumento de prisões de pais de alunos após batidas da imigração tem provocado medo e insegurança. Em Bellingham, Washington, 16 crianças ficaram sem os pais depois que agentes prenderam trabalhadores em uma empresa de telhados.

As consequências para as escolas são evidentes. Só em Denver, 3.323 estudantes foram retirados da escola até meados de abril — um aumento de quase 700 em relação ao ano passado. A maioria desses alunos é filha de imigrantes que vivem com medo ou já decidiram deixar o país.

“Não posso garantir a segurança deles fora da escola”, diz Andrea Rentería, diretora de uma escola que atende alunos imigrantes. “Muitos pais estão apavorados. Quem pode culpá-los por decidir ir embora?”

Dados obtidos por organizações e distritos escolares mostram quedas significativas de frequência escolar após a posse de Trump. Em alguns locais, a presença caiu até 4,7%. As famílias relatam que pararam de mandar os filhos à escola com medo de que agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) apareçam nos arredores.

Enquanto isso, consulados brasileiros relatam alta na demanda por passaportes. Em março, os pedidos subiram 36% em relação ao ano anterior. Já o registro de nascimento de filhos de brasileiros nascidos nos EUA — necessário para tirar o passaporte — aumentou 76% em abril.

Em Boston, o hondurenho Melvin Josué viajou de Nova Jersey para tirar o passaporte dos filhos. “A situação está cada vez mais difícil. Se eu ou minha esposa formos detidos, não sabemos o que acontecerá com nossas crianças.”

Com tantos brasileiros e latinos pensando em voltar, cresce o número de histórias de separação familiar. Em alguns casos, pais voltam com os filhos pequenos e deixam os adolescentes mais velhos nos EUA para concluírem os estudos.

O futuro, para muitos, parece cada vez mais incerto. E a promessa de segurança e prosperidade nos Estados Unidos, especialmente para quem vive sem documentos, está se desfazendo diante do medo de perder tudo — inclusive a liberdade.

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