Agência é acusada de enganar imigrantes sob monitoramento e ampliar repressão diante de pressão da Casa Branca por mais deportações
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ICE realiza número recorde de prisões em um único dia, incluindo centenas em compromissos agendados

O Departamento de Imigração e Alfândegas dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) realizou no dia 03 a maior operação de prisões de imigrantes em um único dia em sua história, detendo mais de 2.200 pessoas, segundo fontes ligadas à operação e confirmadas por um porta-voz da agência.
Parte significativa dos detidos participava do programa de Alternativas à Detenção (ATD), voltado a imigrantes indocumentados considerados não perigosos, que são monitorados com tornozeleiras eletrônicas, aplicativos de rastreamento ou check-ins regulares em escritórios do ICE. De acordo com advogados e relatos de familiares, muitos dos presos foram convocados para comparecer mais cedo a esses escritórios por meio de mensagens de texto enviadas em massa — e acabaram detidos ao chegarem.
Em Nova York, um repórter da NBC News testemunhou ao menos sete pessoas sendo algemadas e levadas em carros não identificados após se apresentarem para o check-in. Entre elas estava um colombiano de 30 anos, cuja esposa e filha presenciaram a prisão, desesperadas. Segundo a advogada da família, Margaret Cargioli, ele havia comparecido a todas as convocações anteriores e cumpria rigorosamente os requisitos exigidos pelo ICE.
“Estamos vendo uma mudança preocupante nas práticas da agência. A prisão em massa de pessoas que estavam colaborando e comparecendo aos compromissos mina a confiança no sistema e espalha o medo”, afirmou Atenas Burrola Estrada, advogada do Amica Center for Immigrant Rights.
O ICE declarou que todas as pessoas presas tinham ordens finais de deportação emitidas por um juiz e que não haviam cumprido essas ordens. No entanto, diversos advogados de imigração contestam a afirmação, dizendo que muitos de seus clientes ainda têm processos pendentes, inclusive pedidos de asilo ou apelações em andamento.
O clima de apreensão se intensificou após revelações de que Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca para políticas, teria ameaçado demitir líderes do ICE caso a agência não passasse a realizar 3.000 prisões por dia. A meta estaria alinhada com promessas do presidente Donald Trump de deportar “milhões” de imigrantes, ainda que ex-funcionários do ICE considerem essa meta logisticamente impossível e juridicamente duvidosa.
Dados da própria agência indicam que mais de 20 mil imigrantes estão atualmente sob monitoramento no programa ATD, e que 98,5% deles comparecem voluntariamente aos compromissos agendados. Essa alta taxa de comparecimento estaria tornando esses indivíduos alvos fáceis para as novas táticas da agência.
“É uma operação que parece mais teatro burocrático do que medida de segurança pública”, declarou Jason Houser, ex-chefe de gabinete do ICE na administração Biden. “Essas pessoas estão sendo acompanhadas, são avaliadas e, muitas vezes, têm status legal ou processos legítimos em andamento.”
A repressão crescente tem levado muitos imigrantes a hesitarem em comparecer a audiências ou check-ins por medo de serem presos. “As pessoas estão assustadas e confusas. Não sabem se estarão seguras ao cumprir as exigências do próprio governo”, afirmou Greg Chen, diretor da Associação Americana de Advogados de Imigração (AILA).
Apesar das prisões em massa, nem todos os detidos podem ser deportados imediatamente. Muitos ainda aguardam decisões judiciais sobre seus casos. O aumento repentino nas detenções levanta preocupações sobre o uso político das ações do ICE e os impactos humanos de políticas migratórias cada vez mais rigorosas.
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