Mãe tenta enviar filhos ao Brasil após marido ser preso pelo ICE em Martha’s Vineyard e deportado

Eram início de uma manhã quando Aline (nome fictício) se preparava para levar os dois filhos, de 7 e 9 anos, para a escola. A rotina, no entanto, foi interrompida por uma vizinha que chegou com uma notícia devastadora: o marido de Aline havia sido preso por agentes do ICE, o Departamento de Imigração dos Estados Unidos.

Moradora de Martha’s Vineyard, Aline viu a notícia se espalhar rapidamente pelos grupos de WhatsApp da comunidade brasileira. Em poucos minutos, fotos tiradas por outros moradores confirmavam o pior — seu marido havia sido detido. A família está em situação migratória irregular no país.

“Fiquei desesperada. Disse para os meninos que não iríamos trabalhar nem para a escola. A vizinha me levou para a casa dela para eu tomar um copo d’água, e os meninos ficaram em casa. Logo depois, vimos pela porta de vidro os agentes se aproximando da minha casa”, contou Aline.

Os agentes, na verdade, buscavam outro brasileiro, que já havia morado no imóvel e também foi preso. A situação, no entanto, se intensificou.

“A filha da minha vizinha entrou na minha casa pelos fundos e tirou meus filhos de lá. A gente ficou escondida. Eles entraram na minha casa, não encontraram ninguém, e foram direto para a casa da vizinha. Tentaram abrir a porta de todas as formas possíveis. Aqueles dez minutos pareceram um ano”, lembra.

Aline e o marido, que chamaremos de Jefferson, saíram de Roraima rumo aos Estados Unidos há cerca de três anos. Com o aumento das operações de imigração, o casal já planejava voltar ao Brasil neste ano. Jefferson já havia comprado passagem para retornar em julho. Aline queria ficar um pouco mais para aproveitar a temporada de verão, mais lucrativa.

Mesmo com a passagem em mãos, Jefferson foi levado para o centro de detenção de Burlington, onde informou à esposa que, por superlotação, dormia no chão de concreto. Esse é o mesmo centro onde o estudante Marcelo Gomes, de 18 anos, ficou preso após ser detido a caminho de um treino de vôlei.

Jefferson, que trabalhava com jardinagem, foi deportado esta semana.

Agora, Aline tenta nomear um guardião legal americano para que seus filhos possam viajar com segurança para o Brasil nas próximas semanas. Ela já gastou tudo o que tinha com passagens e despesas legais para ajudar o marido. Ainda assim, pretende permanecer mais um tempo nos EUA para tentar recuperar parte do dinheiro — mesmo vivendo com medo.

“Eu só queria terminar a temporada e voltar com um pouco de dignidade. Mas agora, tudo virou incerteza”, disse, emocionada.

A história de Aline reflete o drama de muitas famílias imigrantes nos Estados Unidos: divididas, assustadas e tentando encontrar esperança em meio ao endurecimento das políticas migratórias.

(com informações da Folha de São Paulo)