Casos semelhantes levantam temores sobre políticas que desestimulam imigrantes a denunciar crimes
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Vítima de violência doméstica é denunciada ao ICE após pedir ajuda à polícia no Texas

Uma mulher imigrante de El Salvador passou de vítima a alvo das autoridades ao procurar ajuda contra a violência doméstica no Texas. Após acionar a polícia, ela foi detida por mais de uma hora e denunciada ao Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, sigla em inglês), colocando em risco sua permanência no país e a segurança de seus filhos.
Segundo o boletim de ocorrência, a mulher só não foi levada sob custódia porque informou aos agentes que não havia ninguém disponível para cuidar das crianças. Apesar disso, a ocorrência reforçou o alerta de organizações de direitos humanos sobre o impacto da cooperação entre forças policiais locais e autoridades de imigração em comunidades imigrantes vulneráveis.
Em nota enviada ao Houston Chronicle, o Departamento de Polícia de Houston defendeu a conduta dos oficiais. “Um agente que atendeu a um chamado de agressão realizou uma verificação de antecedentes e identificou um mandado ativo do ICE. Como em qualquer outro mandado judicial, o policial tem a obrigação de notificar a agência responsável. Ainda assim, ele ofereceu à vítima recursos de apoio e manteve um padrão elevado de atendimento”, afirmou um porta-voz.
O caso reacende o debate sobre a criminalização do status imigratório e seus efeitos diretos na segurança pública. Especialistas afirmam que a prática de reportar imigrantes às autoridades federais desestimula vítimas e testemunhas de crimes a buscarem ajuda, criando um ambiente de medo e silêncio.
Casos semelhantes vêm sendo registrados no estado. Em abril, Guadalupe Perdomo, uma avó salvadorenha residente em Cleveland, no Texas, foi detida por agentes locais após relatar um incêndio em seu veículo. Ela, que possuía autorização de trabalho e aguardava há cinco anos a audiência de seu pedido de asilo, também foi denunciada ao ICE por estar sob ordem de deportação.
Segundo dados de organizações de apoio a mulheres, políticas como essas afetam desproporcionalmente mulheres negras e latinas – grupos que já enfrentam taxas alarmantes de violência doméstica. Estudos apontam que mais de 40% das mulheres negras e uma em cada três latinas sofrerão violência física por parte de parceiros íntimos ao longo da vida.
“Essas políticas empurram mulheres para a invisibilidade e para o silêncio”, afirma Maria Torres, coordenadora de um centro de apoio a vítimas de violência em Houston. “Elas sabem que, ao ligar para a polícia, podem perder a guarda dos filhos ou ser deportadas. Isso as força a suportar abusos caladas.”
A preocupação cresce diante de novas regulamentações estaduais, como as regras em vigor em hospitais do Texas que exigem o registro do status migratório de pacientes. Para defensores de direitos humanos, tais medidas criam barreiras perigosas entre as vítimas e os serviços essenciais.
Enquanto o debate se intensifica, especialistas alertam: a segurança pública não deve depender do status imigratório. “Quando o medo supera a confiança nas instituições, todos perdem — vítimas, comunidades e o próprio sistema de justiça”, conclui Torres.
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