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Publicado em 2/01/2009 as 12:00am

Brasil adota reforma em meio a incertezas no mundo lusófono

Quatro países lusófonos ainda não ratificaram acordo para reforma

Neste 1º de janeiro de 2009, o Brasil se torna o primeiro país de língua portuguesa a adotar as novas regras ortográficas, enquanto no resto do mundo lusófono o acordo ainda está cercado de polêmica e incerteza.Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Portugal também já ratificaram o acordo, mas nenhum deles tem data marcada para implementar a nova ortografia.

 

A nova grafia da língua portuguesa

                É o que manda o acordo ortográfico firmado em 1990 pelos integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Timor Leste também assinou, depois, a unificação da grafia da língua, mas os prazos de implantação das novas regras não foram cumpridos e o governo brasileiro sempre adiou as mudanças por falta de adesão de Portugal. Essa situação perdurou até em março, quando Lisboa anunciou o desejo de fazer parte da reforma. Em setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou decreto com o cronograma de aplicação do acordo no país.

No Brasil, as edições impressas do Correio Braziliense e do Estado de Minas circularam nesta quinta-feira já respeitando as novas regras. Voo virá sem acento, assim como enjoo. As consoantes siamesas de microondas sofrem uma cirurgia e passarão a andar separadas pelo hífen: micro-ondas O trema desaparece para descansar o u de lingüiça e de tranqüilo. Livres dos dois pontinhos, que há anos carregam nas costas, passarão a ser escritas assim: linguiça e tranquilo. Uma boa idéia não terá mais acento grave, será simplesmente ideia. O corretor do computador vai estranhar, mas com o tempo se acostumará. Mas cuidado: a pronúncia é a mesma, com ou sem acento, com ou sem trema.

Se por caso o leitor esbarrar com essas palavras grafadas sem as modificações, não deve se assustar nem considerar um erro. Os brasileiros têm um período de adaptação. Até dezembro de 2012, as duas formas vão caminhar em harmonia e as mudanças não poderão eliminar candidatos em vestibulares, concursos e exames escolares. A reforma ortográfica vai modificar cerca de 3 mil verbetes, o equivalente a 5% das palavras reconhecidas oficialmente no idioma português. O alfabeto, hoje com 23 letras, vai engordar. Ficará com 26, com a incorporação definitiva do k, do w e do y, que sempre viveram à margem, mesmo compondo algumas palavras da língua.

 

O hífen entra na revolução

Mas há um rebelde na reforma. É o hífen. Ele, que já castiga tanta gente na atual norma ortográfica brasileira, continuará incomodando. Sua aplicação em algumas palavras que hoje o ignoram ainda não está completamente definida. Seu futuro depende de um documento que a Academia Brasileira de Letras divulgará, provavelmente em fevereiro. Em caso de dúvida, o melhor esperar a publicação dos acadêmicos, que se chamará Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

Os governos dos demais países – Timor Leste, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola - se dizem interessados em aprovar o acordo, mas ainda não o fizeram. Segundo Godofredo de Oliveira Neto, presidente da Comissão de Língua Portuguesa, órgão ligado ao Ministério da Educação brasileiro, os outros países de língua portuguesa acompanham com atenção o início da adoção do acordo no Brasil, assim como a situação em Portugal, e devem definir nos próximos meses como será feita a implementação das novas regras internamente. “A expectativa é de que todos os oito países tenham ratificado (o acordo) até a metade de 2009”, afirmou.

A iniciativa do Brasil de ser o primeiro país a colocar em vigor as novas regras ortográficas foi vista como “um impulso” aos demais países pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Luís Amado. Mas a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa deixa claro que o objetivo da reforma é a unificação e que “o ideal seria que todos os países avançassem em uníssono”.

 

Polêmica

Apesar de a reforma ortográfica já estar em vigor na ordem jurídica internacional e de ter sido ratificada por quatro países, a polêmica sobre o valor do acordo ainda resiste. Em Portugal, uma petição com milhares de assinaturas pedindo a suspensão da implementação do acordo está sendo avaliada pela Assembléia da República.

Um dos signatários, o deputado do Parlamento europeu Vasco Graça Moura, diz que a reforma é “praticamente a adoção da grafia em vigor no Brasil, com a pretensão de que ela se aplica a todos os espaços em que se fala a língua portuguesa”.

“Evidentemente, é uma capitulação aos interesses brasileiros. No dia em que a grafia brasileira puder ser utilizada em todos os espaços em que se fala a língua portuguesa, é evidente que os interesses econômicos brasileiros, muito em especial os ligados às edições escolares, estarão altamente beneficiados”, afirma Graça Moura.

“Sou um admirador da cultura brasileira, não há nada de anti-brasileirismo nesta opinião. O que há é a constatação de que com a adoção do acordo ortográfico – se é que ele chegará a entrar em vigor – é evidente que as entidades produtoras de material impresso sediadas no Brasil tirarão daí grandes vantagens.”

Graça Moura diz ainda que a reforma “não traz nenhuma vantagem aos falantes do português do lado de cá do Atlântico e também não traz para os outros países de língua portuguesa”.

Fonte: (G1)

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