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Publicado em 18/08/2012 as 12:00am

Escalpo: mulheres são submetidas a cirurgias

Um mutirão foi organizado para atender vítimas de escalpelamento no Amapá. A expectativa é que as cirurgias reparadoras tragam como resultado, além da melhora estética, a recuperação da autoestima e ainda ajude a minimizar os preconceitos. As histórias da

Um mutirão foi organizado para atender vítimas de escalpelamento no Amapá. A expectativa é que as cirurgias reparadoras tragam como resultado, além da melhora estética, a recuperação da autoestima e ainda ajude a minimizar os preconceitos. As histórias das mulheres são parecidas. Os acidentes ocorrem geralmente em embarcações precárias usadas para transporte na região amazônica, quando os longos cabelos das mulheres são arrancados depois de tocarem em motores sem proteção. Em alguns casos, além do couro cabeludo, sobrancelhas e até orelhas são afetadas.

Franciane Campos, 33, sofreu um acidente ainda criança, quando viajava com o pai em uma pequena embarcação. Ela teve o couro cabeludo arrançado, parte da orelha esquerda e a pálpebra do olho esquerdo. Ficou mais de um ano internada. "Estava almoçando na canoa em que viajava com meu pai quando minha colher caiu no chão da canoa e fui pegar. Meus cabelos bateram no motor e arrancou tudo. Meu pai se sentiu culpado pelo que ocorreu e saiu de casa, abandonando toda a família", lembra.

Agora, com o ajuste na primeira cirurgia plástica a qual se submeteu, em maio deste ano, espera "ficar com o rosto mais bonito". "Sei que nunca mais terei cabelos de verdade, mas pelo menos minha sobrancelha será refeita e a minha orelha também. Hoje com perucas de cabelo natural disfarçam mais que não temos cabelos na cabeça".

A defensora pública federal Luciene Strada diz que um trabalho de conscientização está sendo realizado com os barqueiros, para que a frota seja modernizada. São oferecidas linhas de crédito ou proteção para o eixo das embarcações. "Além disso, conseguimos as cirurgias para estas mulheres, cursos profissionalizantes e também indenizações para que pelo menos elas consigam refazer suas vidas".

Segundo a defensora pública, 12 casos de escalpelamento em embarcações foram registrados somente este ano na região amazônica. No total, a região teria cerca de 400 pessoas vítimas de escalpelamento.

Dificuldades no mercado de trabalho

O acidente de Rosinete Serrão, 35, ocorreu há 20 anos, quando ela tirava água da canoa em que viajava e teve os cabelos arrancados depois de tocarem no motor. A jovem morava no Pará quando ocorreu o acidente e resolveu se mudar para o Amapá, onde conheceu outras vítimas e fundou a Associação de Mulheres Ribeirinhas Vítimas de Escalpelamento da Amazônia. Um dos focos da entidade é a luta pelos direitos das vítimas.

"Enfrentamos muito preconceito, é no mercado de trabalho, é na escola, é num restaurante. Em todo lugar que andamos as pessoas não param de olhar ficam apontando e ainda saem de perto. Isso me deixava deprimida e eu nem conseguia falar. Tinha vergonha de aparecer e pedia para que as pessoas falassem por mim. Hoje minha vida mudou, como também a de outras vítimas", afirma Rosinete, que deverá se submeter a cirurgia reparadora de uma das sobrancelhas e orelhas apenas em novembro, porque foi mãe recentemente.

Tanto Rosinete quanto Franciane ressaltam a dificuldade que enfrentam para conseguir emprego, por conta das sequelas do acidente.

"Não sou inválida, mas as empresas acham que as mulheres que tiveram escalpelamento não podem desempenhar nenhuma função. Somos inteligentes e podemos ser capazes de trabalhar, de pensar, de viver igual aos outros. Quando procuramos o INSS dizem que temos condições de trabalhar, temos sim, mas falta oportunidade porque o preconceito é tão grande que ninguém quer empregar uma vítima de escalpelamento", reclama Rosinete.

"Trabalho lavando roupas das pessoas no rio. Nunca tive a oportunidade de ser empregada. Quando há seleção nem passamos da entrevista porque as empresas inventam que vão nos telefonar para chamar e não acontece. Conheço apenas uma pessoa, das 119 associadas, que conseguiu ser empregada", diz Franciane.

Mutirão

Em maio deste ano, médicos da Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas estiveram no Amapá fazendo as avaliações cirúrgicas e a colocação de expansores (equipamento usado para esticar o couro cabeludo) nas vítimas. Quarenta cirurgiões retornaram à capital nesta sexta (17) e sábado (18) para dar continuidade ao processo, por meio do mutirão organizado pelo governo do Estado.

"Na primeira etapa, ocorrida em maio, os médicos fizeram avaliações nas mulheres, analisaram caso a caso. Eles informaram a cada uma dessas mulheres o que poderia ser feito e o resultado que conseguiriam obter nas cirurgias. Não vai ficar 100%, mas elas já estão bastante felizes por amenizarem as marcas dos acidentes nos corpos", diz a defensora pública.

"Todas nós esperamos muito por este momento, pois nunca tivemos condições financeiras de custear cirurgias reparadoras. Isso vai nos fazer sentir melhor, vamos ficar mais bonitas, fará bem para a autoestima e ajudará a nos inserir no mercado de trabalho", conclui Rosinete.

Fonte: uol.com.br

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