Publicado em 17/10/2012 as 12:00am
prefeitura recolhe 67 usuários de crack em obra da Olimpíada
A secretaria de Assistência Social da prefeitura do Rio de Janeiro, com o apoio de homens da 21ª Delegacia da Polícia Civil e do 22º Batalhão de Polícia Militar, recolheu na manhã desta quarta-feira 67 usuários de crack escondidos nos tapumes das obras da
A secretaria de Assistência Social da prefeitura do Rio de Janeiro, com o apoio de homens da 21ª Delegacia da Polícia Civil e do 22º Batalhão de Polícia Militar, recolheu na manhã desta quarta-feira 67 usuários de crack escondidos nos tapumes das obras da Transcarioca, corredor expresso incluso no caderno de obras para os Jogos Olímpicos de 2016. Entre os recolhidos, cinco eram crianças, sendo três meninos e duas meninas. Reportagem do Terra de ontem denunciou a presença dos viciados utilizando a área ao lado da favela Parque União, às margens da avenida Brasil, na entrada da Ilha do Governador, na zona norte.
Após a ocupação do complexo de favelas de Manguinhos e Jacarezinho, ocorrida no último final de semana pelas forças de segurança do Estado, intensificou-se a presença dos "cracudos" na região, que, em plena luz do dia, usavam a droga sem se importar com a presença dos transeuntes e dos próprios policiais em um posto próximo ao local, no parque União.
"A gente sabe que é difícil controlar isso e, de certa forma, já esperávamos que isso acontecesse. Estamos à procura dos novos locais de migração desses usuários. Já temos a informação que alguns se instalaram na ilha do Fundão (próximo à Universidade Federal do Rio de Janeiro). Deve ser verdade, mas é algo que ainda precisamos constatar", explicou o assistente social Cláudio Reis, que trabalha há 12 anos no recolhimento dos viciados. "Nossa única palavra é o convencimento, não podemos obrigar ninguém", complementou.
Em apenas 30 minutos, três vans ficaram lotadas de usuários de crack, que se incomodavam com a presença das equipes de reportagem, e tapavam o rosto. "Não durmo há dois dias, meu camarada. Só na pedra. Me deram esse lanchinho aqui, mas quem disse que estou com fome?", indagou um dos moradores de rua recolhidos. "Vou fazer um esforço para comer", disse ele, consentindo a ida para um abrigo da prefeitura.
"As famílias têm um papel fundamental nessa hora. É preciso um diálogo aberto, é uma responsabilidade que eu compartilho com todos. A nós da Polícia Civil cabe o papel de amparar os educadores e assistentes sociais no aspecto de segurança, e trabalhar com o serviço de investigação para deter estes gerentes de tráfico com o menor risco possível para as comunidades", afirmou Valéria Aragão, titular da Delegacia de Combate às Drogas (Decode).
No total, seis vans foram utilizadas na operação, além de 19 educadores e assistentes sociais da prefeitura. As incursões atrás das novas cracolândias prosseguirão, de acordo com a delegada titular da Decode, Valéria Aragão. "Essa história de cracolândia é antiga, eles só vão se adaptando. Eles não desistem, mas a gente também não pode desistir deles."
Saúde pública
Os depoimentos dos usuários comprovam a tese de que hoje o crack é uma questão de saúde pública. Uma mulher aparentando 40 anos, sem se identificar, conversou com a reportagem do Terra para contar seu drama pessoal. "Tenho casa, tenho família, tenho quatro filhos, mas eles sabem que estão me levando daqui agora e amanhã estou de volta. Sou fraca mesmo", resumiu.
O cheiro forte de fezes e urina do local indica que muitos dos usuários estavam ali há dias. Criaram, inclusive, uma espécie de porta por baixo dos tapumes para, escondidos, consumirem livremente a droga. "Abrigo não adianta nada. O crack mata, mas a onda é boa", disse outra usuária, enquanto era levada pelo braço para dentro da van disponibilizada pela secretaria de Assistência Social.
Fonte: terra.com.br