Publicado em 11/11/2015 as 12:00am
Terceira barragem de rejeitos da Samarco corre risco de ceder e acesso a Bento Rodrigues é totalmente interditado
Segundo tenente da 3ª Companhia de Missões Especiais de Lagoa Santa, há uma rachadura na barragem Germano, que pode se romper
O medo de uma nova tragédia em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, voltou à tona na manhã desta quarta-feira. A área de Bento Rodrigues, a mais atingida pela lama que desceu das duas minas da Samarco, está condenada e o acesso ao distrito foi completamente bloqueado por policiais militares. Segundo o tenente Sebastião Nogueira, do Batalhão de Choque da 3ª Companhia de Missões Especiais de Lagoa Santa, a zona de segurança foi aumentada de três para dez quilômetros, pois “a barragem Germano trincou e há risco de rompimento”. A Samarco informou que faz obras para dar mais estabilidade à mina. Diante do problema, o Corpo de Bombeiros mudou estratégia das buscas por causa dos riscos.
Moradores foram surpreendidos pela notícia quando
seguiam para o distrito para pegar animais de estimação e documentos nas
casas, abandonadas por eles às pressas no momento da passagem da
enxurrada de rejeitos de mineração. “Pessoal, infelizmente tenho uma
notícia ruim para dar para vocês. Com o rompimento da Barragem de
Fundão, a Barragem de Germano trincou a parede de sustentação. A empresa
está fazendo um reparo. Portanto, não vai haver mais descida de pessoas
a Bento Rodrigues. Neste momento temos que preservar a vida humana. Se
permitirmos que pessoas desçam lá, talvez não voltam mais”, disse o
tenente Nogueira.
De acordo com o militar, os bombeiros estão com uma equipe de 10 homens e
sete cães no local. Uma aeronave está de prontidão para fazer o
resgate deles caso necessário. “Peço desculpas a vocês, mas conto com a
compreensão de todos. Porque, a partir de agora, essa barreira
(bloqueio) vai ser transferida até o final do asfalto, em Santa Rita
Durão”, afirmou. O bloqueio antes era feito por militares a uma
distância de três quilômetros do distrito. Agora, será realizado a 10
quilômetros.
Durante a conversa com os moradores, o tenente
afirmou que se a barragem estourar, a lama pode subir acima de postes de
iluminação. “Bento Rodrigues está condenada por pelo menos 30 dias.
Não há como mensurar quando esta situação vai acontecer”, comentou
Nogueira. Segundo ele, o povoado de Paracatu de Baixo já foi totalmente
evacuado. Outros distritos abaixo de Bento Rodrigues estão em alerta.
Ao
receber a notícia, a aposentada Maria do Carmo, de 68 anos, quase
desmaiou. Ela começou a passar mal e chorar. Moradora de Bento
Rodrogues, teve que sair às pressas no momento do acidente. Hoje era a
primeira vez que tentava voltar para a residência, mas acabou barrada
pelo bloqueio. “Essa situação está muito difícil. Não estou dormindo,
perdi dois quilos e estou com o emocional abalado. Ia voltar em casa
para buscar documentos e papeis de médicos que preciso consultar. Porque
tenho asma. Esperamos uma solução para tudo isso”, desabafou. Segundo a
moradora, ela e o marido, Benedito Valadares, 73, estão hospedados na
casa do genro, Elias Paulo Lobão, que é operador de máquinas.
A lavradora Maria das Graças Barbosa também tentava voltar para Bento
Rodrigues na tentativa de localizar a cachorrinha dela. “Minha casa foi
levada. Era uma casa boa, toda murada. Não sobrou nada”, lamentou.
Segundo ela, o genro dela, que trabalha na área da barragem, a avisou
sobre o problema. No momento do acidente, estava indo tomar banho e teve
que sair correndo do imóvel.
Mudança nas buscas
Por
causa do risco da barragem ceder, a estratégia de buscas do Corpo de
Bombeiros foi mudada. “A empresa detectou uma necessidade de uma
intervenção no dique da represa. Em decorrência dessa intervenção,
medidas de segurança estão sendo adotadas. Continuamos as buscas, mas em
cotas mais altas. Em um nível mais alto do terreno. Também estamos
utilizando o sistema de alerta”, comenta o major Rubem da Cruz, da
comunicação do Corpo de Bombeiros. Segundo o militar, caso não seja
feita essa intervenção, haveria risco da Germano ceder.
O
diretor da integração da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds),
coronel Marcelo Vladimir Corrêa, disse que as trincas na barragem de
Germano foram discutidas nas reuniões de terça-feira no posto de comando
unificado formado por representantes da Defesa Social, Bombeiros,
Polícia Militar, Polícia Civil e engenheiros da Samarco. Segundo ele, as
avarias estão sendo avaliadas. As trincas teriam 2 milímetros de
deslocamento. “As buscas não foram suspensas. Foram realocadas por uma
nova estratégia de atuação dos bombeiros e da Samarco por causa dessas
trincas”, afirmou Corrêa.
O Superintendente da Defesa Civil de
Minas Gerais minimizou os riscos do rompimento. "Existe o treinamento na
barragem do germano. Teve lá um tremor de terra de 2.1 graus ontem, por
isso foram retiradas as pessoas que estavam na frente. Engenheiros
estão avaliando as rachaduras e providenciando reforço. As
possibilidades de rompimento são mínimas, mas mesmo assim, já está feito
o reparo desta estrutura."
Posição da Samarco
Em
nota, a Samarco afirmou que entre as medidas adicionais de
monitoramento e segurança que a empresa vem tomando, nesta quarta-feira
será iniciada uma mobilização para realizar intervenções nas estruturas
remanescentes das áreas de barragens, “as quais irão proporcionar maior
grau de estabilidade, mitigando efeitos decorrentes do rompimento e
prevenindo eventuais problemas futuros”.
Por causa disso, afirmou que as autoridades competentes recomendam a restrição do acesso à área impactada.
Fonte: uai.com.br