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Publicado em 3/03/2016 as 12:00am

Em delação, Delcídio envolve Dilma e Lula em ações para tentar barrar a Lava-Jato, diz revista

O GLOBO já havia revelado, em 19 de fevereiro, que o senador petista tinha feito acordo com a PGR; trechos da delação foram divulgadas pela revista 'IstoÉ'

O acordo de delação premiada feita pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) com a Procuradoria-Geral da República traz detalhes de como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam tentado interferir na condução das investigações da Lava-Jato, segundo reportagem da revista “Isto É” publicada nesta quinta-feira. O senador foi preso no dia 25 de novembro, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) após ser acusado de atrapalhar as investigações da força-tarefa.

O GLOBO já havia revelado no último dia 19 de fevereiro que o petista fez um acordo com a PGR antes de ser solto. Delcídio vai responder as acusações contra ele na Operação Lava-Jato em prisão domiciliar e foi autorizado a trabalhar no Senado, mas com a obrigação de se recolher em casa à noite e em dias de folga.

O ministro Teori Zavascki decidirá se homologa ou não a delação que contém 400 páginas, de acordo a publicação. O acordo só não teria sido fechado por conta de uma cláusula de confidencialidade de seis meses exigida por Delcídio, condição imposta pelo petista, mas não aceita por Zavascki, que devolveu o processo à Procuradoria-Geral da República. Segundo a reportagem, ele concedeu um prazo até a próxima semana para exclusão da exigência.

O governo reagiu às declarações de Delcídio por meio do ex-ministro da Justiça e novo titular da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, empossado nesta quinta-feira. Ele afirmou que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) “não tem credibilidade” e “não tem primado por dizer a verdade”. Segundo Cardozo, a delação do ex-líder do governo no Senado seria uma retaliação. O Palácio só deve se posicionar após manifestação de Delcídio, que pode soltar uma nota desmentindo a delação. O Instituto Lula não comentou a reportagem.

De acordo com a revista, Delcído afirmou que Dilma sabia das irregularidades envolvendo a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e de que Lula comprou o silêncio de Marcos Valério, um dos principais operadores do Mensalão. O ex-presidente também teria, segundo relatos do senador divulgados pela publicação, “pleno conhecimento do propinoduto instalado na Petrobras” e agido pessoalmente para barrar as investigações.

Ainda de acordo com a reportagem, Delcídio foi detalhista em suas revelações, e afirmou que a Presidente da República teria tido papel decisivo na permanência dos diretores envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras, utilizando sua influência e poder para impedir a punição. Ele mesmo diz, de acordo com a reportagem, ter participado de reuniões em que decisões ilegais foram combinadas a mando de Dilma e Lula.

Segundo o senador petista, Dilma teria tentado por três vezes interferir na Lava Jato, sempre com a ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, teria afirmado Delcídio na delação.

Numa das tentativas, segundo o senador teria afirmado na delação, a presidente Dilma contou com o envolvimento pessoal do petista. A reportagem traz um cópia do anexo da delação, na qual Delcídio diz que, diante do fracasso das duas manobras anteriores, entre elas o encontro em Portugal com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, “a solução” passava pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o STJ. “Tal nomeação seria relevante para o governo”, pois o nomeado cuidaria dos “habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ”. Delcídio teria contado que esteve com Dilma no Palácio da Alvorada para uma conversa privada.

O senador relata uma conversa nos jardins do Alvorada na qual Dilma teria solicitado que ele, na condição de líder do governo, “conversasse como o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”, da Andrade Gutierrez. Delcídio então teria se encontrado com Navarro “no próprio Palácio do Planalto, no andar térreo, em uma pequena sala de espera”. Ele diz que a reunião pode ser comprovada pelas imagens das câmeras de segurança. Nela, de acordo com a delação de Delcídio, Navarro “ratificou seu compromisso, alegando inclusive que o dr. Falcão (presidente do STJ, Francisco Falcão) já o havia alertado sobre o assunto”.

O acerto, então, teria sido cumprido à risca. Em recente julgamento do habeas corpus impetrados no STJ, Navarro, na condição de relator, votou pela soltura dos dois executivos, mas foi voto vencido em placar de 4 a 1.

PASADENA

Delcídio afirmou, segundo a publicação, que Dilma tinha "pleno conhecimento do processo de aquisição da refinaria (Pasadena)", fechado quando ela estava à frente do Conselho de Administração da Petrobras. A presidente havia afirmado anteriormente que não tinha conhecimento das cláusulas desfavoráveis à estatal, que trouxeram um prejuízo de US$ 792 milhões, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo Dilma, a decisão do Conselho havia sido tomada com base em um resumo técnico "falho e incompleto". Delcídio disse que "a aquisição foi feita com conhecimento de todos, sem exceção".

O senador afirmou também que Dilma teria tido "ingerência" na nomeação de Nestor Cerveró para uma diretoria da BR Distribuidora, contrariando a versão da presidente. Delcídio diz que Dilma ligou para ele duas vezes para tratar da indicação. Na primeira ocasião, perguntou se Cerveró já havia sido convidado para o cargo. Na segunda vez, telefonou para confirmar a nomeação.

MESADA PARA CERVERÓ

No depoimento aos procuradores, Delcídio teria afirmado que o pagamento a Cerveró - um dos motivos para a prisão do senador foi a oferta de uma mesada para o ex-diretor da Petrobras - teria sido feito a pedido de Lula. De acordo com a reportagem, Delcídio disse que o ex-presidente pediu "expressamente" para que ele ajudasse o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente e também preso na Lava-Jato, porque Bumlai seria citado nas delações premiadas do lobista Fernando Baiano e de Cerveró. Segundo Delcídio, Bumlai tinha "total intimidade" com Lula e exercia o papel de "consigliere" da família.

De acordo com a revista, Delcídio seria o responsável por intermediar os pagamentos à família de Cerveró. O senador disse ainda que acertou os detalhes com o filho do pecuarista, Maurício Bumlai. Ao todo, teriam sido pagos R$ 250 mil a Cerveró, em remessas de R$ 50 mil, entregues por meio do advogado Edson Ribeiro e por Diogo Ferreira, assessor de Delcídio.

Segundo a reportagem, os procuradores que tomaram o depoimento consideram que a revelação pode justificar um pedido de prisão de Lula.

MARCOS VALÉRIO E PALOCCI

A reportagem diz ainda que Delcídio afirmou que, em 2006, Lula e o ex-ministro Antonio Palocci articularam um pagamento de R$ 220 milhões a Marcos Valério, para evitar que o publicitário se manifestasse sobre o mensalão. Na ocasião, o dinheiro teria sido prometido por Paulo Okamotto, hoje presidente do Instituto Lula. No depoimento, Delcídio relatou o teor de uma conversa em que teria alertado Lula, naquela ocasião: "Acabei de sair do gabinete daquele que o senhor enviou a Belo Horizonte (Okamotto). Corra, presidente, senão as coisas ficarão piores do que já estão".

O senador relatou ainda que, depois, recebeu uma ligação de Palocci, que disse a ele que Lula estava "injuriado" com o teor da conversa. O ex-ministro teria afirmado que que "assumiria a responsabilidade pelo pagamento da dívida (com Valério)". Segundo a revista, os procuradores afirmam na delação que "a história mostrou a contrapartida: Marcos Valério silenciou".

Delcídio, que presidiu a CPI dos Correios, disse ainda que presenciou "tratativas ilícitas para a retirada do relatório (final da CPI) dos nomes de Lula e do filho Fábio Luís Lula da Silva em um acordão com a oposição".

CPI DOS BINGOS

Delcídio, de acordo com a "Istoé", relatou que integrantes da CPI dos Bingos, encerrada em 2006, teriam agido para proteger Dilma. O senador afirmou que "uma das maiores operações de caixa dois para a campanha de Dilma em 2010 foi feita através do empresário Adir Assad", condenado por ser um dos operadores do esquema de desvios na Petrobras. Segundo o depoimento, a orientação do tesoureiro da campanha, José Di Filippi, era para que os empresários fizessem contratos de serviços com as empresas de Assad, que repassava os recursos para a campanha. O senador disse que a CPI foi encerrada prematuramente "quando o governo percebeu que as várias quebras de sigilo levariam à campanha de Dilma em 2010".

SÍTIO DE ATIBAIA

O senador afirmou que Bumlai teria contratado um arquiteto e um engenheiro para realizar obras no sítio de Atibaia, usado por Lula e seus familiares. De acordo com Delcídio, a operação foi abortada pelo então presidente da OAS, Léo Pinheiro, que se dispôs a fazer o serviço por meio da empreiteira.

Delcídio disse ainda que os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rego (PMDB-PB) e os deputados Marco Maia (PT-RS) e Fernando Francischini (SD-PR) cobravam propina de empreiteiros para não serem convocados a depor na CPI da Petrobras. De acordo com a delação premiada, "a CPI obrigava Léo Pinheiro, Júlio Camargo e Ricardo Pessoa a jantarem todas as segundas-feiras em Brasília", com o "objetivo de evitar que os empresários fossem convocados a depor"

 

 

Fonte: http://oglobo.globo.com/

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