Publicado em 20/07/2008 as 12:00am
Casal de brasileiros vai para a guerra no Iraque
Fabiano e Ana Paula, estão indo para a guerra do Iraque.
Parentes e amigos tomaram um susto quando souberam:
Fabiano e Ana Paula, aquele casal de brasileiros que se conheceu na Escola de
Comunicação da UFRJ em 1996, está indo para a guerra do Iraque.
Os dois se alistaram no Exército norte-americano no ano passado e seguem, agora
para Mossul, no noroeste do país, onde dizem não haver guerra química,
biológica e/ou nuclear (áreas em que se especializaram). "Nosso esquadrão deve
cuidar de processamento de prisioneiros e da escolta de comboios", explicou
Fabiano.
Apesar de terem assustado as pessoas mais próximas, os dois não sentiram
reprovação pela decisão. "A maioria deles (parentes e amigos) cai em 'não vai
morrer numa guerra'. Eu rio e dou de ombros, pois tenho mais chance de morrer
num acidente de trânsito do que de tiro ou bomba. Ademais, soldado vai pra
guerra. É o que fazemos. Quem vive pela espada, aprende a viver com a idéia de
não ser imortal", disse Fabiano, que pediu que o sobrenome dos dois não fosse publicado
para não gerar problemas entre os militares.
"Preocupação com segurança pessoal, todos temos. Mas as estatísticas não são
ruins. Morre muito mais gente em acidente de tráfego em qualquer cidade, do que
soldados por tiro ou bomba, como mencionei. Tecnicamente, se você entra no seu
carro em Sampa, indo para seu trabalho de manhã, você corre mais risco do que a
maioria dos soldados. Óbvio, isso tudo, estatisticamente", disse Fabiano.
Academia
O interesse em entrar para o Exército, segundo Fabiano, veio de suas pesquisas
acadêmicas. "Minha tese é sobre conflito assimétrico, então entrar pro grupo
que lida com isso faria sentido. Acabamos nos alistando em 2007 - foi meio
louco, eu fui para me alistar, ela disse que também queria, do nada", contou.
Segundo Ana Paula, o que a levou a tomar esta decisão "do nada" foi "a
aventura, querer passar pelo treino e ver de dentro como é a vida no Exército.
Tinha uma idéia de que iria pro Iraque, mais cedo ou mais tarde, mas acabou
sendo 'mais cedo'", disse ela.
"Preferiria ir para o Afeganistão", disse Fabiano. "No entanto não se esco-lhe
para onde se vai; o Exército diz 'vá' e você diz 'vou'. Ir ao Iraque é,
atualmente, uma conseqüência de alistamento no Exército; todos irão,
eventualmente."
Tropa de elite
Para poderem ir para uma zona de guerra, Fabiano e Ana Paula enfrentaram um
treinamento pesado: nove semanas de uma vida dura, isolada. "A parte mais
difícil foi ficar sem contato com o exterior; não tem televisão, telefone,
email etc. Só cartas", disse Fabiano.
Além da exaustão mental, há os exercícios físicos. "Tantas dietas sensacionais
em anúncios de televisão, e ninguém sabe que a melhor forma de perder peso é se
alistar. Você acorda às 4h, com sorte, e vai dormir às 22h. Marchas com
armadura e capacete (45kg), mochilas (outros 20kg), rifle (4kg), por 15 km.
Muitos não passam deste estágio", explicou.
Há ainda um treinamento especializado. "Treinamos tiro, técnicas de combate,
primeiros socorros. O mais importante para mim foram os 'briefings' sobre
comportamento no Oriente Médio", completou Ana Paula.
"Brasucas"
"Não é muito comum ver 'brasucas' no serviço, então chamamos alguma atenção",
contou Fabiano. "Nós falamos um português mesclado com inglês (portu-glish?) em
casa, carregamos nossa bagagem cultural, fomos definidos por termos crescidos
no Brasil", disse ressaltando sua ligação com o país natal, mas sem querer ser
rotulado por ter nascido no Brasil.
"Eu acredito em mistura de etnias, e que cultura importa mais que um acidente
de nascimento."
A recepção deles pela nacionalidade, entretanto, costuma ser boa. "Já não
exis-te tanta desinformação quanto antes; sabem que não se fala espanhol no
Brasil, e tal. As reações são positivamente amigáveis, quando descobrem que
somos brasileiros. Perguntam sobre carnaval e futebol, quando descobrem que sou
do Rio. O de sempre.
Fonte: (Gazeta News)