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Publicado em 3/08/2008 as 12:00am

Plano "Community Police" é posto em prática em Somerville

Entrevista revela quais são as metas do novo plano de segurança pública instaurado na cidade de Somerville. O detetive Mário Oliveira e o policial Diogo deOliveira comentam o relacionamento entre a polícia e os indocumentados

Há duas semanas um brasileiro foi abordado pelo detetive Mario Oliveira que notou imediatamente o forte nervosismo estampado na face do motorista. O motorista imediatamente foi solicitado a acalmar-se, pois só estava fazendo checagem de rotina no veículo. Logo o diálogo foi estabelecido de forma respeitosa e confiante, o motorista informado das irregularidades e como e onde regularizar a situação do referido veículo, e ainda ganhou uma carona para sua casa do próprio detetive: “este caso terminou como queremos que todos terminem, com um amistoso aperto de mãos e o reconhecimento do papel tanto da polícia quanto das obrigações dos motoristas”, disse o surpreso e feliz brasileiro.

Porém os brasileiros não devem mais se sentir tão surpresos. A cidade de Somerville tem procurado melhorar o relacionamento entre polícia e comunidade. Em conseqüência disso, um novo programa de policiamento está sendo implantado, que inclui operações especiais com a vizinhança. Os planos do novo chefe do polícia Anthony Holloway incluem conhecer os residentes e criar um relacionamento amigo com a comunidade.

Em entrevista exclusiva ao jornal Brazilian Times, o detetive português, Mário Oliveira contou quais serão as estratégias de proteção dos moradores e comentou sobre as questões que causam desconforto e melindram a população que vive na região.

Conforme Oliveira, a ronda policial será feita com base nas antigas plataformas de vigilância, o que inclui a participação dos agentes no cotidiano das pessoas. O propósito é estimular a confiança e conhecer de perto os prováveis problemas que possam acarretar desordem no ambiente de convívio.

A idéia é educar e prevenir problemas e não simplesmente esperar que eles aconteçam e depois procurar e punir culpados. O detetive define esse método como uma aproximação amigável e promissora.   

 A central do Departamento de Polícia, localizado na 220 Washington Street, é responsável pela ampla cobertura policial na cidade. As decisões deste comando afetam diretamente a população de Somerville, uma das maiores colônias brasileiras.

 

Box do perfil dos entrevistados: colocar antes de começar a entrevista

Quem são os policiais que falam a língua portuguesa em Somerville

Existem mais de dez policiais que falam a língua portuguesa. Sendo que, muitos deles também falam espanhol. Existem também mais de dez policiais que falam espanhol, que também compreendem português.

O detetive Mário Oliveira, 40, é português e está há onze anos dedicando-se à Somerville. Ele conhece profundamente a dinâmica da cidade. O brasileiro Diogo de Oliveira, 25, é oficial e está há um ano e meio na função. Ambos receberam a equipe de reportagem do Brazilian Times.

 

BT: Qual é o impacto do plano “Community Police” para os moradores de Somerville?

Oliveira: O novo chefe de polícia trouxe com ele uma idéia antiga que deverá melhorar muito o policiamento e a segurança da vizinhança. Segundo o plano, terão oficiais percorrendo diferentes zonas da cidade, chamadas de “wards”, traçadas de acordo com um estudo promovido pelo departamento de inteligência policial. Anthony Holloway determinou que essas rondas devem ser feitas de bicicleta e a pé para facilitar o deslocamento dos oficiais e proporcionar o contato direto com os moradores da área que ele irá monitorar. Mas essa não será uma simples supervisão, trata-se de estabelecer vínculos de amizade e colaboração. Ele tem a missão de identificar possíveis atos de violência doméstica, (um dos maiores índices de criminalidade registrados em 2007), conversar com jovens para servir de boa influência e evitar a dispersão deles através de participação de gangs (normalmente grupos organizados de adolescentes envolvidos com drogas e outras práticas ilícitas). Os policias serão mais presentes e servirão de confidentes para solucionar velhos atritos comunitários.  

 

BT: Quando o plano será executado?

Oliveira: Na realidade ele já foi implantado em Julho, mas nós iremos intensificar a operação nos próximos meses. A população perceberá a presença deles, mas eles se sentirão confortáveis em partilhar o mesmo espaço, porque eles serão rostos comuns e não apenas mais um desconhecido oficial de uniforme. Ele servirá de referência para os moradores, que saberão exatamente em quem confiar na hora de queixar-se de algo. 

 

BT: Os indocumentados devem temer esse plano?

Oliveira: Não, a presença desses oficiais no dia-a-dia dos moradores de Somerville cumprimentando, se apresentando e conversando, tem o objetivo principal de instruir e prevenir ações de violência e criminalidade. E reforço, daremos atenção especial aos casos de violência doméstica.

 

BT: Quantos policiais e quantas estações de polícia terão disponíveis?

Diogo deOliveira: Temos mais de cem policiais, pois contratamos recentemente mais 24, a maioria da qual fala outra língua, além do inglês, especialmente para executar o novo plano de “Community Police”. Criaremos também mais duas sub-bases, localizadas próxima à Sullivan Station e na saída da cidade, sentido Arlington.

 

BT: Quais são as infrações penais mais comuns na comunidade brasileira?

Oliveira: Temos observado a exploração da mão de obra. Brasileiros recém chegados no país estão sendo abordados em determinados lugares públicos por agenciadores que oferecem emprego, mas na verdade abusam da ingenuidade desses imigrantes. Também é muito freqüente, encontrarmos motoristas sem a licença para dirigir ou usando carteiras emitidas por outros estados.

 

BT: Como combater essa infração?

Oliveira: O condutor deve saber que, a carteira de motorista de outros estados é válida apenas por 30 dias. Caso ele desrespeite essa regra estará sujeito às implicações da falta cometida. Agir contra a lei sempre acarreta consequências desfavoráveis. Portar um documento irregular causa perda de tempo, dinheiro e credibilidade. Além do mais, essas carteiras podem ser suspensas a qualquer momento. Optar por meios que burlem a lei são decisões impróprias e que sempre deixam o motorista numa posição desconfortável e bastante tensa.

 

BT: Como os brasileiros devem agir quando são vítimas de golpes, como a exploração da mão de obra?

Oliveira: Nós recomendamos que venham até a estação de polícia. Isso não significa nenhuma ameaça para o imigrante, para ele será o mesmo que ir aos lugares comuns que já frequenta, tais como o mercado da esquina ou a igreja que ele pertence. A polícia tem o dever de proteger a comunidade, não importa o seu status imigratório.

Diogo deOliveira: Não somos conectados ao departamento de imigração, a nossa tarefa difere absolutamente da deles. Gostaria de pedir a confiança da comunidade brasileira, denunciem e aproximem-se de nós, não pretendemos colocar a nossa reputação em dúvida, se dizemos que as denúncias serão feitas sob sigilo, isto ocorrera exatamente desta maneira.

 

BT: O que acontece quando um imigrante sem carteira de motorista e indocumentado é parado pela polícia?

Oliveira: Dirigir sem carteira no estado de Massachusetts é um crime sujeito à prisão, mas é decisão do policial prender, multar, ou agendamento de Corte. Porém queremos saber a verdade. Eventualmente poderemos perguntar sobre a sua origem, mas isso faz parte de todo um processo para sabermos quem é a pessoa com quem estamos tratando naquele momento. Todos motoristas são analisados com a mesma finalidade. Descobrirmos se estão de alguma forma corretos ou se existe algum ato criminoso.

 

BT: Os policiais do departamento estão preparados para lidar com o nervosismo dos motoristas indocumentados, flagrados ao volante?

Diogo de Oliveira: Sim, estamos sempre trabalhando nesse assunto, procuramos tranquilizá-los, informando que estamos ali para checar a situação do veículo e do motorista – não de seu status legal. Nessa hora, normalmente a fisionomia assustada dos indocumentados é desfeita. Os crimes de trânsito serão punidos como crimes de trânsito. Prender, multar, dispensar o motorista, reboque do carro e o agendamento de Corte são decisões que dependem de diferentes fatores, da gravidade da infração e do comportando do motorista, lembrando que, quem tem ordens judiciais deverá responder à Justiça, e isso implica em outras atitudes que serão adotadas pelos oficiais. E peço que não deixem de comparecer à Corte. Não precisam ter medo, será pior se faltar a uma intimação de um juiz.

 

BT: Dezenas de multas de trânsito são aplicadas diariamente na cidade. Os oficiais recebem ordem para reforçar o papel desempenhado pelo departamento de trânsito?

Oliveira: Não temos uma cota determinada pelo departamento de multas a serem aplicadas, contradizendo com a idéia de que a polícia recebe incentivos por multas aplicadas durante o patrulhamento. A decisão é do próprio policial em emitir ou não a multa. Aja de maneira educada e respeitosa com o polícia, e aguarde a sua decisão, que talvez o surpreenda. 

Fonte: (Da redação)

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