Publicado em 24/08/2008 as 12:00am
Brasileiros tentam ingressar na ESL
Muitos sairam sem a chance de se inscreverem para aprender inglês
Por Miryam Wiley
Cerca de 450 imigrantes, entre eles um grande número de brasileiros, tentaram mais uma vez a entrada no curso gratuito de inglês – o ESL, ou English as a Second Language Plus, na Fuller Middle School, em Framingham. Mas o sorteio só abriu as portas para 190 novos alunos. “Já é a segunda vez que eu venho e não consigo,” disse Rosa Campos, que está nos Estados Unidos há três anos.
“Sempre fui doida pra aprender inglês,” disse Claudilene Rosa da Cruz, que também ficou desapontada com o resultado.
Conforme explicado no website _http://www.faesl.org_ (http://www.faesl.org/) e através de cartas enviadas aos alunos já conectados com o programa, as portas se fecharam exatamente às 6:30. Quem chegou depois ficou mesmo de fora e alguns reclamaram na porta.
“Eu só me lembro de ler que não adiantava chegar cedo,” disse uma moça que não quis se identificar.” Não vi nada sobre 6:30 ser a hora de fechar a porta. Saí do trabalho agora e vim trazer a minha amiga que precisa aprender inglês.”
Kevin O’Connor, um dos professores do curso, veio explicar ao pessoal do lado de fora: “A gente usava o sistema de fila por ordem de chegada, ( first come-first served, em inglês) mas vinha gente pra fila às 3 e meia da madrugada. Então nós mudamos pra um sorteio, e os candidatos reclamaram que nós colocávamos os nomes de quem chegava no último minuto. Eles acharam que era injusto colocar os nomes por cima, já que eles tinham chegado cedo. Agora nós especificamos numa carta, que as portas se fecham às 6 e meia e ninguém mais entra.” O’Connor disse ainda que as cartas foram escritas em inglês, russo, espanhol, chinês e português, tentando justificar a situação delicada de ter que seguir as regras do jogo e vendo caras tristes. “Não podemos fazer excessões aqui e agora. Eu sinto muito.”
Quem teve a sorte de ouvir o próprio nome tirado de dentro da caixa com as inscrições, foi chamado para fazer um teste que determina o nível de inglês. Os que não tiveram a sorte de ouvir seus nomes foram embora. Duas brasileiras saíram frustradas, especialmente com um detalhe que acharam injusto no processo: “Quatro pessoas foram chamadas e não apareceram, mas eles vão ser chamados em casa depois,” disse Roseli Rosenberg. “Isso é errado! Os que estão aqui deveriam ter a chance de mais quatro nomes.”
Vanessa Alves concordou: “Se a pessoa veio aqui, ela teria que estar lá na hora,” disse. “Alguém certamente preencheu pra ela e não deu tempo de chegar”.
Mas na verdade, é engano pensar que isso aconteceu e ningém recebe telefonema em casa, segundo esclareceu dentro da escola a diretora do programa, Christine Tibor.
“Eu nunca coloco nomes pra substituir os que foram chamados e não atenderam,” Tibor explicou. “Sempre tem uns dois ou três que ficam nessa situação. Eu sempre espero, porque pode ser que a pessoa esteja por perto. E eu estou ciente de que muitas vezes nomes são colocados sem que a pessoa esteja presente.A gente tenta controlar isso, mas nem sempre consegue.”
“Nós temos 95 vagas pra uma nova turma e eu chamo 190 nomes,” explicou Tibor. “Metade desse grupo vai estar nas aulas dadas por voluntários e alguns deles conseguem se transferir para as turmas que têm os nossos professores. É sempre uma coisa muito boa começar com os voluntários, porque a pessoa já está ali pronta pra passar pra dentro do programa oficial, caso haja de repente uma vaga”.
Orgulhosa de que o ESL tenha padrões muito rígidos, conforme exigência do Departamento de Educação do estado de Massachusetts, Tibor explicou que o programa tem tido apoio dos próprios alunos, que conseguem por si próprios recursos suficientes pra manter uma classe de 20 alunos, ao custo de quase 10 mil dólares por ano, incluindo os livros.
“Nós somos o único programa desse tipo, que eu saiba, que consegue angariar fundos entre os próprios alunos pra manter uma turma,” disse Tibor. Segundo ela, as turmas fazem festas, vendem biscoitos e bolos em “bake sales” e até fazem doações em dinheiro.
“Na comunidade muitos restaurantes doam comida para as nossas festas e eu sou muito grata a isso,” disse. “Eu sou grata a toda a comunidade de negócios de downtown Framingham. Eu sei que, o quanto eles podem, eles contribuem.”
Os recursos que conseguem de fato manter o programa funcionando vêm de diversas fontes. Tibor, além de diretora, acumula as funções da área de desenvolvimento (em inglês, development), escrevendo para diversas fundações para pedir recursos (aqui chamados de grants).
“Eu me inscrevo pra tudo que eu acho que dá,” disse Tibor, referindo-se a fundações e agências do governo que têm recusos específicos que podem ser captados para o programa. “Nós temos recursos, no momento, de seis lugares diferentes,”como o Departamento de Educação de Massachusetts, o Massachusetts Employment e Training Administration , a Community Development Block Grant, a Metrowest Community Healthcare Foundation, e o escritório para apoio aos refugiados ( Office of Refugees, via Jewish Family Services.) E nós temos ainda uma relação muito boa com os comerciantes da região Metrowest, que nos dão recursos para seis classes”.
Além desses recursos, muitas vezes o programa recebe doações de ex-alunos que são muito gratos às aulas do ESL, como o empresário Fernando Castro, da Income Tax Plus.
Mas mais recursos ainda são necessários, já que uma grande quantidade de pessoas ainda sai do dia de inscrições sem saber onde ir pra aprender inglês. Mesmo assim, do lado de fora da Fuller School na última quinta-feira, há quem diga que compreende o processo e não têm nenhum rancor nesse momento. “Eu, chateada? Não” disse Graciele Fonseca. “Eu sei que é sorte!”
Fonte: (ANBT - Agência de Notícias Brazilian Times)