Publicado em 7/09/2008 as 12:00am
Americanos pedem o fim das batidas da imigração
Líder da igreja Unitariana cita a injustiça e crueldade das leis vigentes contra os imigrantes indocumentados
Por Miryam Wiley
De fato, a economia
tomou conta das manchetes. Mas quem acha que tudo mais anda esquecido não viu a
manifestação especial de apoio aos imigrantes indocumentados em frente ao
Boston City Hall, no dia primeiro de
outubro.
Mais de 30
organizações participaram do evento que se chamou “Witness for Justice – Stop the Raids,” trazendo à tona a realidade
de milhares de pessoas que têm sofrido diretamente ou que vivem morrendo de
medo das batidas da imigração.
“Nós queremos o fim
das batidas e a implementação do processo para a documentação de todos,” disse
Peter Lowber, membro da igreja unitariana Arlington Street Church. “As leis têm que mudar. Se as leis são
injustas, a gente muda as leis. Houve um tempo em que a escravidão foi lei.”
Lowber e Eileen
Montour, também membro da ASC, foram os organizadores do evento, que de repente
cresceu muito além das expectativas.
Eles começaram um movimento de apoio aos imigrantes na primavera, com
uma conversa aberta e a mostra do filme sobre as batidas de New Bedford,
apresentando imigrantes ligados ao Centro Presente a várias pessoas que se
reuniram no porão da igreja. Depois
disso fizeram um domingo especial sobre apoio aos imigrantes e aí se
perguntaram: “Qual será nossa próxima
tarefa?”
Uma resposta quase imediata da diretora
executiva do Centro Presente, Maria Elena Letona, foi: “You
can bear witness for us.”
O significado dessa
expressão é um pedido de apoio de quem se compromete como testemunha ( em inglês, witness), no caso, do sofrimento e das injustiças sofridas pelas
famílias que são vítimas das batidas da imigração.
O que Lowber não
previu foi como o evento cresceria, e junto com ele, o apoio aos imigrantes
indocumentados, de repente falado alto, na frente da prefeitura de Boston, por
gente respeitada pela comunidade local e nacional.
“A tradição
religiosa Unitariana Universalista
comemora o valor e a dignidade de todas as pessoas e afirma a necessidade de
justiça, igualdade e compaixão nas relações humanas,” disse o Reverendo Bill
Sinkford, presidente da Associação Unitariana Universalista ( em inglês, Unitarian Universalist Association, UUA). “As batidas da imigração em locais de
trabalho pelos agentes do Immigrations
and Customs Enforcement é uma afronta a esses valores.”
Sinkford citou o
ensinamento da bíblia de se “amar o próximo como a si mesmo” e afirmou: “Nós
não podemos ficar de fora olhando enquanto as batidas violam a nossa dignidade
e também a dos nossos vizinhos. Nós,
pessoas de fé – e especialmente aqueles entre nós que têm o privilégio da
cidadania americana – temos que falar por todos e cada um em nossas comunidades.”
Sinkford disse ainda
que é muito importante lembrar que “este país foi construído por imigrantes e
para imigrantes.”
O bispo Felipe
Teixeira, da Diocese de São Francisco de Assis, em Boston, disse que
todos neste país são imigrantes, mesmo que não se vejam assim.
“Nós todos chegamos
aqui por navio, avião ou trem, ou alguns chegaram cruzando a fronteira. Somos
todos imigrantes, documentados ou indocumentados, a não ser os povos indígenas
que estavam aqui antes.” Depois completou:
“E as três Américas são apenas um país de latinos, muito mais que dos
europeus que vieram pra cá. O que eu quero dizer é que é preciso, com urgência,
haver uma maneira de iniciar um processo para obtenção a cidadania para todos os
imigrantes que estão trabalhando para ajudar a construir o país.”
Shuya Ohno, diretor de comunicação da Massachusetts Immigrant and Refugee Advocacy
Coalition, ou MIRA, contou dos horrors que passou quando criança, vendo a
pressão sofrida por sua família japonesa e também do que testemunhou quando foi
a New Bedford logo depois das batidas em março de 2007.
“Eu nunca mais queria
ouvir aqueles gritos das crianças trêmulas e horrorizadas, separadas de seus
pais e mães. Mas há quatro meses, na
cidadezinha de Postville, em Iowa, de
2200 habitantes, eu vi de novo o que as
batidas da imigração fazem às famílias mais vulneráveis. As crianças com olhos
cheios de lágrimas por terem sido separadas de seus pais. Tudo o que eu pude
fazer foi segurá-las e tentar confortá-las por um momento. Mas eu não pude dizer: vai dar tudo certo, e eu não pude falar com
eles que eles iriam se encontrar de novo com seus pais e mães. Será que é isso que a Estátua da Liberdade
significa? É isso o que virou a America?”
Numa entrevista depois
do evento Ohno disse que nos Estados Unidos leis e até decisões da Suprema
Corte foram muitas vezes imorais e injustas. “A prisão das famílias Nipo-Americanas
é um exemplo,” disse. “Eu acho que no futuro nós vamos nos lembrar dessas
batidas, prisões e deportações da mesma forma que nos lembramos das prisões dos
Japoneses – como atos horríveis, discriminatórios e desumanos.”
Ohno disse ainda que
quem pode lutar por justiça tem que fazer isso em nome dos mais vulneráveis. “
Quando pessoas que têm consciência podem se unir e se sentir conectadas umas
com as outras e decidem ter um compromisso com os grandes desafios, aí sim,
juntas, podem fazer diferença. Uma pessoa ou um evento pode não mudar nada, mas
há um efeito multiplicador que pode mudar vidas.”
E esse efeito, de
fato, foi o que fêz crescer o movimento
exigindo a moratória para as batidas da imigração, em frente ao City Hall,
mesmo local onde há 10 anos muitos se reúnem para hastear a bandeira do Brasil
no dia 7 de setembro.
“ Virou uma boa de
neve,” disse Lowber, entusiasmado. “Nós
estamos trabalhando na nossa igreja com o movimento Welcoming Massachusetts. E eles estão ligados a muitos grupos
comunitários, muitos sindicatos, muitos grupos das comunidades de fé, até
grupos anti-guerra apareceram. O apoio está crescendo.”
Fonte: (ANBT - Agência de Notícias Brazilian Times)