Publicado em 14/10/2008 as 12:00am
Brasileira e menino esloveno viram "amigos de infância"
Como coordenatora de treinamentos para famílias de língua portuguesa, Rhea Tavares, 32, tem um trabalho intenso na Federação para Crianças com Necessidades Especiais em Boston
Por Miryam Wiley
Como coordenatora de treinamentos para famílias de
língua portuguesa, Rhea Tavares, 32, tem um trabalho intenso na Federação para
Crianças com Necessidades Especiais em Boston. Diariamente vê crescer a sua
lista de nomes -- já passa dos 300 -- de pais e mães querendo saber sobre como navegar
no sistema que dá certos direitos legais às crianças com necessidades especiais em
Massachusetts.
Mas nos útimos tempos,
Rhea , que nasceu com apenas um dedo de
cada lado, onde normalmente as pessoas
têm as mãos -- uma má formação congênita chamada ectrodactylia
-- está ajudando muito além de Boston. O menino especial que está sob sua
orientação e carinho, Tim Svensek, de 4 anos, mora na Slovenia -- um país
criado em 1991, depois da queda da velha Yugoslávia, numa conquista para a recuperação e independencia do povo
sloveno.
O que deu origem a
esse contato muito além do que seria o que se pode chamar de “jurisdição” da
ONG em que Rhea trabalha, a Federation,
foi uma matéria publicada na Revista People em 2007.
“Eles simplesmente
reproduziram a reportagem num jornal de lá, e a família do Tim viu,” disse
Rhea.
A descoberta da
existência de uma pessoa no mundo com um problema semelhante -- e falando com otimismo de se sentir bem e
integrada -- deu à família de Tim uma esperança que mudou a vida de ambos, Rhea
e Tim, ignorando a distância física entre eles.
“Eles me mandaram uma
carta que chegou no dia 26 de novembro, dia do meu aniversário,” conta Rhea.
Logo de início, Rhea
começou a conversar com Tim pelo computador via MSN e depois também via Skype – um programa de software que
permite conversas ao vivo através de uma camera usada no computador. A notícia dessa conexão foi tema de uma
reportagem no jornal Boston Globe e logo
depois Rhea fez uma apresentação especial durante o jantar anual da Federation, em maio de 2008. Tendo contado do sonho de ir se
encontrar com Tim, Rhea conseguiu doações tanto de leitores quanto de pessoas
que foram ao jantar e acaba de chegar da Slovenia, onde passou nove dias.
“Ele me recebeu com
flores,” disse Rhea. “Mas quando me viu, ficou tímido. A primeira reação foi se
esconder atrás da mãe dele. Aí eu pedi um beijo e um abraço. A mãe dele
traduziu e ele me deu.”
Os momentos seguintes
foram confusos. “A família toda chorava muito. Os pais, avós, tios, primos,
umas 10 pessoas,” conta Rhea. “E ele
ficou muito agitado: sentava no chão,
levantava, olhava pra mim, dava uma risada. Aí nós fomos pra casa dele, tomamos
café, conversamos e eles me levaram para uma pousada, onde fiquei com a
psicóloga Ana Beatriz Turrer, que foi
comigo.”
Diariamente, todos os
dias, Rhea desenhou e brincou com Tim, desde o início mostrando a ele e à família
os presentes que levou que certamente facilitariam a vida dele e ensinando ao
máximo tudo que aprendeu por esforço próprio.
“Levei umas argolinhas
de puxar o zipper, zipper pulls, um gancho, ou button hook ( que facilita na hora de
abotoar as roupas), e um dressing stick, pra ajudar a colocar a calça e a jaqueta,”
disse Rhea, que hoje em dia é completamente independente.
Rhea foi também a dois hospitais da cidade de Stari Trg Pri Lozu, que fica a uma hora da capital, Ljubljana, para conhecer os médicos e terapeutas que
cuidam de Tim.
“Eles não sabiam como
trabalhar com ele,” contou Rhea. “A fisioterapeuta também não sabia. Inclusive,
nem ensinar a ele a comer eles tinham idéia de como fazer. Eles tinham uma
colher especial, mas hoje ele se recusa a comer com a colher especial e usa os
talheres comuns, como eu.”
Rhea conheceu também a
escola do Tim e desde que voltou há três semanas, já recebeu
mensagens da mãe de Tim.
“ O Tim escreve como
você, o Tim desenha como você, ( Tim
writes like you, Tim is coloring like you,)“ conta Rhea, entusiasmada. “ Ele
agora desenha da mesma forma que eu uso
o lápis pra desenhar e colorir, que é com a ajuda dos dois braços.”
Rhea veio para os Estados Unidos numa história
parecida com a de muitos outros imigrantes, para se encontrar a mãe, que já
morava aqui. Saiu de São Paulo e, como adolescente, começou a ajudar na limpeza
de casas, mesmo com o problema físico que dificultava o trabalho.
Quando, através de uma
amiga, descobriu a Federação para Crianças
com Necessidades Especiais, começou lá um trabalho voluntário, junto com a
americana Sandy Blanes, que já tinha morado no Brasil. E descobriu que existem
leis para apoiar as pessoas deficientes, coisa que ela não tinha conhecido e um
direito do qual nunca usufruiu.
Dedicada e
supreendentemente otimista, Rhea fez um bom trabalho, conseguiu eventualmente
um green card com o apoio da
Federation e hoje é a pessoa-chave
para orientar os que têm necessidade de programas específicos de ajuda e que
falam português, na área de Boston.
No momento está
aguardando o dia em que sua história vai aparecer na NBC, numa matéria especial
do repórter Kerry Sanders, mas ainda não sabe com certeza qwuando.. “pode ser
que seja sextfeira, dia 17, mas pode ser noutra sexta-feira.”
Dessa experiencia
toda, só tem a dizer:
“Eu acho maravilhoso o Tim ter aparecido na
minha vida, porque a minha vida inteira eu passei procurando uma pessoa como
eu. Finalmente aconteceu. Achar o Tim foi pra mim um milagre. A minha busca
terminou e eu quero agradecer a todos que fizeram as doações – e especiallmente aos brasileiros da
Celebration Church, em Charlestown, que contribuiram pra que eu pudesse fazer
essa viagem.”
Fonte: (ANBT - Agência de Notícias Brazilian Times )