Publicado em 23/10/2008 as 12:00am
Churrasqueiro brasileiro do Texas critica projeto econômico 'socialista' de Obama
Para catarinense, aumentar taxas não concorda com espírito americano. Texanos aprovam o churrasco gaúcho, mas dispensam a picanha
A campanha republicana contra o plano do candidato democrata
à Presidência dos Estados Unidos para a economia ganhou um eco em português.
“Este projeto de Barack Obama de aumentar as taxas das pequenas empresas para
‘distribuir riqueza’ não tem nada a ver com a cultura americana, parece mais coisa
de Cuba, da Venezuela, parece socialismo.”
Quem disse isso foi Adão Giovanaz, catarinense que dirige o setor regional de
uma rede de churrascarias brasileiras nos Estados Unidos. Em uma longa conversa , Giovanaz disse não ser muito afetado
diretamente pela escolha do próximo presidente do país, mas reproduziu as
críticas recentes de John McCain, que disse que o projeto de Barack Obama quer
transformar o país em uma social-democracia no modelo europeu.
A discussão sobre o plano dos dois candidatos para a economia ganhou destaque
graças à crise financeira por que passa o país.
Barack Obama promete cortar impostos para 95% da população, e taxar mais
quem ganha acima de U$ 250 mil por ano (cerca de R$ 595 mil), o que atinge
pequenas e médias empresas, mas, segundo o candidato, “espalha a riqueza”. John
McCain, por sua vez, defende que os impostos de pequenas empresas sejam
cortados para que elas possam contratar mais funcionários e movimentar a
economia.
O restaurante que Giovanaz dirige na maior cidade do Texas está um pouco acima
das pequenas empresas, e emprega cerca de 90 funcionários, 15
deles brasileiros. Todos os dias, mais de 500 pessoas são servidas em
sistema de rodízio no estilo gaúcho, pagando US$ 48 por pessoa (R$ 114) - o
faturamento da filial de Houston ultrapassa os U$ 20 milhões por ano. “Se o
governo aumentar os impostos, todas as empresas vão repassar esse gasto para os
consumidores, não vai adiantar de nada”, disse, na noite de terça-feira (21),
no salão lotado da churrascaria.
Segundo ele, a crise econômica ainda não atingiu a cidade, que continua
consumista e enchendo as lojas e restaurantes. Tanto que a rede para que
trabalha continua crescendo, e deve inaugurar cinco novos restaurantes no país
até o final do próximo ano. “O negócio é investir em carne.”
Torcida
O catarinense vive no país há 11 anos, oito deles em Houston, mas não tem
cidadania norte-americana, então não pode votar. “Mesmo assim, a gente
acompanha as eleições, assiste pela televisão, comenta uns com os outros”,
disse, se referindo ao grupo de brasileiros que trabalha no local. “Uns torcem
por Obama, outros preferem McCain, mas é uma coisa meio irracional, como a
escolha de um time de futebol.”
Sem fazer uma defesa aberta de nenhum dos candidatos à Presidência, Giovanaz se
anima com a idéia que os dois defendem do “sonho americano”. Segundo ele, o
país oferece oportunidades para quem quiser trabalhar duro para agarrá-las.
“Tenho garçons que ganham US$ 100 mil por ano [equivalente a quase R$ 20 mil
por mês], oferecemos seguro de saúde, seguro dental. Aqui não é preciso
defender nenhuma mudança radical, só se esforçar para alcançar o que se busca”,
disse, criticando projetos assistencialistas de distribuição de renda para
pessoas mais pobres.
Além de não achar necessária tanta mudança quanto defendem os dois candidatos
que disputam a Casa Branca, o catarinense diz que os discursos são só parte da
campanha, e que nada vai ser transformado com nenhum dos dois presidentes. “Não
importa quem esteja no governo. Já trabalhei aqui quando o governo era
republicano e já trabalhei quando era democrata. Os dois tornaram tudo o que
foi construído aqui possível”, disse.
Carne
Por mais sucesso que o estilo brasileiro de preparar e servir o churrasco
faça nos Estados Unidos, a principal atração aqui em Houston não é a picanha,
como no Brasil. “Aqui eles gostam mais de filé, de fraldinha. Ainda não
conhecem bem a picanha”, disse Giovanaz. O restaurante que ele dirige serve em
média 20 toneladas de carne por mês.
O gado usado é criado nos Estados Unidos (com ração, e não com pasto) e a
carne fica mais gordurosa. Um fornecedor local aprendeu os cortes
brasileiros, muitos deles inexistentes no mercado comum dos Estados Unidos.
Segundo Giovanaz, o norte-americano consome mais carnes do que o brasileiro no
sistema de rodízio. “Mas ele desperdiça mais, pois pede qualquer carne que
passe por ele.”
Fonte: (G1)