Publicado em 25/11/2008 as 12:00am
Imigrantes desafiam os limites e adoecem
Os fantasmas da deportação e da recusa no processo da USCIS afastam imigrantes do acesso à saúde
Por Elizabeth
Simoes
Observando a grande frequência de
brasileiros que não visitam o médico a mais de dois anos, Marcony de Almeida, diretor
organizacional da Massachusetts Immigrant and Refugee Advocacy Coalition (MIRA),
indagou aos centros de saúde e organizações hospitalares sobre qual o motivo dos
imigrantes serem omissos com a própria saúde, “Com medo de atrapalhar o
processo de legalização, a maioria deles evitava usar o sistema de saúde. É
triste mas, -As vezes eles preferem ficar doentes”, disse.
Essa resposta tornou-se constante
nos processos migratórios acompanhados por Marcony ao longo de sua jornada de quase
quatro anos no MIRA. E, tendo ciência de que o medo, fator responsável por
afastar os brasileiros dos médicos, era provocado por uma “lenda”, Marcony
preocupou-se em quebrar o paradigma e explicar para centenas de pessoas de uma
vez só, que: cuidar da saúde não implica riscos de desprovação do U.S.
Citizenship and Immigration Services (USCIS) ou de deportação pelo U.S. Immigration
and Customs Enforcement (ICE).
Foi essa constatação
que culminou na realização da primeira Feira Brasileira de Saúde de
Massachusetts, no domingo(23). No local, importantes grupos da rede de saúde
pública e privada reuniram-se com o intuito de incentivar os brasileiros a
cuidarem-se.
Cerca de 450
pessoas tiveram acesso a exames médicos e informações sobre diversas áreas
humanas, no salão da Igreja Santo Antônio, na cidade de Allston. “Meu médico
indicou a feira, porque soube da existência de exames gratuitos de sangue, que
são capazes de diagnosticar o câncer de próstata”, disse o paranaense Jaime Viviani.
Advogados
especialistas em imigração, em parceria com agentes de saúde, integraram a Feira
com o propósito de dismistificar as falsas idéias sobre perseguição e
retaliação dos imigrantes indocumentados. “Aproximadamente 80% dos imigrantes
não usufruem da rede de saúde apenas por falta de conhecimento, pois até mesmo
os planos particulares aceitam a inscrição de pessoas que não portem o número
do Seguro Social. O diferencial, nessses casos é que, ele não será elegível
para o programa Estadual Commonwealth Care, do qual subsidia parte do valor contratado,
para pessoas que comprovem baixa renda”, disse Sérgio Viana, analista da Neighborhood
Health Plan, presente no evento.
Além das
informações cedidas por Sérgio, a tenda da Health Care for All, que em português
significa, “Saúde para todos”, disponibilizou assistentes que pudessem avaliar
os perfis dos interessados e encaminhá-los para organizações que pudessem
ofertar os planos mais compatíveis com a renda familiar e a documentação de
cada um deles, “Temos muitas pessoas que se encaixam no programa Health Safety Net,
(antigo Free Care, de gratuidade), mas que nunca tiveram coragem de se
apresentar na recepção de um hospital para solicitar o formulário de inscrição.
Por isso, nós disponibilizamos a “Health Line” uma linha telefonica (617
275-2925) ,com atendimento na língua portuguesa, do qual as pessoas podem se matricular
sem nem sequer sair de casa”, disse Denise Moran, do Health Care for All.
Na mesa ao
lado, Silvia Rosa do programa “Portuguese VHA”, pertencente a Cambridge Health
Alliance, explicou que além de também ajudar a obter o seguro saúde, a
organização realiza testes de HIV, hepatite, colesterol, diabete e hipertensão
gratuitos. O atendimento é de segunda a sexta-feira, no 125 da Lowell Street
SON 601, em Somerville, MA, telefone para contato (617) 591-6923.
O programa
“Portuguese VHA”distribui preservativos e possui médicos e assistentes que
educam jovens e adultos sobre doenças sexualmente transmissíveis. Os médicos
falam o idioma português e facilitam a comunicação com as pessoas mais tímidas,
que não gostariam de receber apoio de intérpretes para perguntarem sobre assuntos
mais íntimos.
Câncer de Mama: Norma Malkiel, da Massachussetts Alliance of
Portuguese Speakers estava na feira recrutando mulheres para fazerem o exame de
mama. “Todas as semanas a MAPS providencia transporte, interprete e exame
gratuito para a prevenção do cancer de mama, uma das doenças que mais matam
mulheres no mundo”, disse Norma.
Homens em foco: Para agendar o exame com Norma ligar para o
telefone da MAPS (617) 787-0557. Davis Campelo, educador do programa de
cuidados à saúde do homem também pode ser localizado através do mesmo contato
com a MAPS.
Trabalhadores imigrantes fazem parte do grupo
de alto risco de doenças oculares
A assistente
Sinvalda Oliveira, do consultório Daher Vision, alerou: “Muitas partes do corpo
que adoecem podem ter seu estado reversível, mas quando alguém perde a visão,
dificilmente ele a recupera”.
Sinvalda justificou,
“as doenças oculares evoluem muito rápido e de maneira crônica, por isso as
chances de uma pessoa ficar cega por falta de exames regulares é bem alta.” A
visita ao oftalmologista deve ser agendada no mínimo uma vez ao ano.
PINTORES, CARPINTEIROS E COZINHEIROS:
Uma pesquisa liderada pelo jornal Brazilian
Times no início de 2008 apontou que, o maior percentual de trabalhadores imigrantes
exercem serviços na área de construção, e também é de conhecimento popular que
muitos outros trabalham para lanchonetes e restaurantes, então o nosso grupo étnico
está mais exposto a desenvolver a doença Pterygio, que pode levar a cegueira.
Diariamente,
alguns sintomas são ignorados, “Ouço os pacientes dizerem: Pensei que era só
uma coceira e irritação nos olhos, por isso não dei importância”, narrou
Sinvalda. A assistente entregou folhas explicativas sobre o Pterygio e
acrescentou, “na cozinha, o calor das panelas, e na construção, com a poeira e
os componentes químicos da tintura, criam ambientes favoráveis para o Pterygio”,
concluiu Sinvalda.
DIABETES:
É senso comum que, “a rotina do brasileiro residente nos Estados Unidos
é alucinante”. E o discurso é também quase sempre o mesmo, “só mais alguns anos
de trabalho e vou descançar no Brasil”
O problema é
que, enquanto o dia não chega, o imigrante indocumentado não prioriza a saúde e
engrossa as estatísticas dos doentes de diabetes que nunca preocuparam-se em
fazer uma avaliação médica que demonstrasse o problema, nem mesmo seguir a
nutrição adequada para controlar os níveis dela. “Os imigrantes acabam
descobrindo a diabete quando ela já está num estágio avançado e todo o sistema
imunulógico bastante comprometido. É nesse momento que a Retinopatia Diabética
afeta a visão”, disse Sinvalda.
A Feira promovida por Marcony Almeida, foi patrociada pelo Journal Magazine, em parceria com o Centro Comunitário de Allston & Brighton. O Centro do Imigrante Brasileiro (CIB), Health Care for All, Department of Community Outreach CHA, Law Office of Joyce E. Davis, HIV Community Services & Outreach Program CHA e Daher Vision apoiaram o evento.
Houve também o patrocínio da Neighborhood Health Plan, Boston Medical Center, Health Net Plan, WIC Program Allston & Brighton, Joseph M. Smith Community Health Center e Massiri Swan & Associates, RC.
Fonte: (ANBT - Agência de Notícias Brazilian Times)