Publicado em 2/03/2009 as 12:00am
Pintores brasileiros correm perigo de saúde
Enfatizando um crescimento no risco de saúde dos imigrantes, um estudo recente descobriu que muitos pintores brasileiros possuem níveis elevados de chumbo no sangue
Enfatizando um crescimento no risco de saúde dos imigrantes, um estudo
recente descobriu que muitos pintores brasileiros possuem níveis elevados de
chumbo no sangue.
Apresentado no início
de fevereiro, o relatório detectou e documentou um problema significante para
brasileiros que trabalham na construção, principalmente pintores.
“Existem muitos pintores brasileiros trabalhando na remoção de pinturas
antigas e se expondo a serem envenenados pelo chumbo”, disse o Professor da
UMass Lowell, Carlos Eduardo Siqueira, co-autor do relatório, junto a Andrea
Barbosa, que faz doutorado na mesma Universidade. “Não sabemos se os níveis
encontrados são mais altos que em outros grupos de imigrantes, mas achamos um
número significante de trabalhadores brasileiros com níveis de chumbo mais
altos do que o normal”, acrescentou Carlos Eduardo.
Líderes comunitários dizem que pintores brasileiros com frequencia
desconhecem o perigo de tintas contendo chumbo e trabalham sem a proteção
adequada, o que os faz mais vulneráveis.
“Muitos chegam aqui e começam a trabalhar como pintores, sem experiência
prévia e mesmo sem compreenderem sobre a contaminação através do chumbo”, disse
Fausto Rocha, diretor do Centro do Imigrante Brasileiro. “O que mais me
preocupa é que eles não sabem que suas famílias também estão em perigo. Muitas
vezes, um pai chega em casa e recebe o abraço de seus filhos antes mesmo de que
ele troque suas roupas, que podem estar impregnadas de poeira de chumbo. Quando
este trabalhador dirige sua família no mesmo carro que usa para trabalhar, ele
também está colocando-os em risco.”
Quando uma pessoa se expõe ao chumbo, é possível ter anemia, o sistema
nervoso e os rins podem ser atacados, como também pode causar hipertensão.
Entre as crianças, exposição ao chumbo pode causar problemas no aprendizado, na
fala e no comportamento, com a inteligência diminuindo.
O relatório inclui os exames de chumbo realizados com 61 brasileiros, feitos
em 2006 e 2007 por Eduardo Siqueira, pelo Centro do Imigrante Brasileiro de
Allston e pelo programa de prevenção do chumbo do Departamento de Saúde de
Boston. Como resultado, foram encontrados níveis altos de chumbo no exame
dessas pessoas. De acordo com o Occupational Lead Poisoning Registry, um nivel alto deve ser igual ou maior do que
25 micrograms de chumbo por decilitro de sangue. Dos brasileiros que passaram
pelo teste, em 16 por cento haviam níveis mais altos do que 25 e em 8 por cento
haviam níveis maiores do que 40.
A barreira da língua pode estar impedindo a melhoria da consciência
entre trabalhadores brasileiros sobre os efeitos do chumbo. Mas pode haver
outras razões.
Em 2006, quando a Divisão de Saúde Ocupacional do Estado publicou seu
relatório intitulado Níveis Elevados de Chumbo em Sangue de Trabalhadores de
Massachusetts no quinquênio 1996-2001, os pesquisadores incluiram 3 pintores
brasileiros nas pesquisas.
Esses pintores, que trabalhavam para a mesma companhia, tinham níveis
altos, tais como: 64, 63 e 48 microgramas,
respectivamente. Sob leis federais, todos os trabalhadores com mais de 50
microgramas devem ser tratados e removidos do local do trabalho, para evitar
mais exposição ao perigo. Quando foram entrevistados pelos pesquisadores, os
pintores brasileiros ainda estavam trabalhando.
Os três pintores falavam pouco inglês e um deles disse que nunca tinha
recebido nem treinamento nem informação a respeito. Os pesquisadores também
descobriram que o empregador não havia respeitado o regulamento do Federal
Occupational Safety and Health Administration, tais como exames de chumbo no
sangue.
“Em alguns casos, os empregadores não informam aos trabalhadores sobre o
perigo do chumbo”, disse Rony Jabour, um brasileiro que possui um curso de
treinamento em português para tralhadores de Boston e do MetroWest.
“Alguns empregadores não falam nada sobre os riscos de se trabalhar com
pintura contendo chumbo e nem oferecem qualquer tipo de proteção a seus
empregados”, disse Jabour. “E muitos brasileiros não sabem nada a esse respeito.
Quando são informados dos riscos para eles e suas famílias, ficam até
chocados”.
“O chumbo é detectado em muitos pintores de casas em geral, não importa
a etnia, mas nos últimos anos, os pesquisadores começaram a ver níveis mais
elevados em pintores oriundos do Brasil”, disse Rick Rabin, coordenador do Massachusetts
Occupational Lead Registry. Essa discrepância foi notada quando os centros de
saúde de Cambridge e Somerville, que servem a uma grande quantidade de
imigrantes brasileiros, apresentaram uma enorme concentração de chumbo nos
exames de sangue. O problema pode ser ainda maior, porque muitos nem fazem
exames. “Os números que estamos vendo é significante, mas os números
verdadeiros são desconhecidos”, disse Rabin. “Deve existir muito mais gente com
problemas”.
Pintores no estado de Massachusetts são expostos ao chumbo, porque
existem milhares de casas antigas que foram pintadas com tinta à base desse minério,
antes de que essa prática fosse banida.
Mas, existem aqueles que sabem dos riscos e continuam trabalhando por
causa do dinheiro que ganham. Os pintores trabalham mais do que 60 horas por
semana e ganham de $10 a hora (aprendizes) a mais de $20 por hora
(profissionais).
Luiz Lira, um pintor brasileiro que mora em Framingham, concorda e
comenta: “Os brasileiros nem ligam para
o chumbo”, ele disse. “E ainda há os empregadores que tiram vantagem disso”. Ele
começou a trabalhar como pintor há nove anos atrás e não conhecia os perigos pelos
quais passava. Mas, quando soube do problema, passou a ser mais cuidadoso e
tentou reduzir a exposição. Agora, Lira possui sua própria companhia de
pintura, checa as paredes com um kit adequado, faz exames de sangue periódicos
e usa máscaras de proteção.
“Mesmo assim, ele é uma exceção e não a regra”, disse Jabour. “Muito
mais precisa ser feito para ajudar a pintores brasileiros a reduzir a exposição
ao chumbo. Há conversas entre administradores estaduais e líderes cívicos
brasileiros no sentido de ser lançada uma campanha de orientação educacional”.
“Muitos não sentem os efeitos negativos do chumbo imediatamente e por
isso, não se ligam. É preciso que compreendam que não têm que sacrificar suas
vidas para poderem viver com dignidade!”, finalizou.
Fonte: (Metro West Daily News)