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Publicado em 10/07/2009 as 12:00am

Professor vitalício na Harvard propõe reconstrução do Brasil

Roberto Mangabeira apresenta um programa de reconstrução e diz que o Brasil não deve seguir os passos dos EUA

Por Luciano Sodré


Considerado um dos cientistas políticos mais respeitados no mundo e um dos brasileiros mais ilustres nos Estados Unidos, o professor universitário que atua na Harvard, em Cambridge - MA, Roberto Mangabeira Unger, 62, iniciou esta entrevista dizendo que prefere não comentar o tempo que vive nos Estados Unidos, mas, precocemente começou a lecionar na universidade mais importante do mundo quando ainda tinha 25 anos de idade.

O cientista político, que vem dando sua contribuição no Governo Lula, à frente da Secretaria especial de Ações Especiais a Longo Prazo, desde abril de 2007, mangabeira tem um vasto trabalho prestado em prol do desenvolvimento do Brasil e, também, lecionou para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Antes de iniciar a conversa sobre suas atividades e quais os planos para o futuro, o ministro Mangabeira salientou as qualidades do atual “comandante da maior potência do mundo. Para ele, Obama é um homem que possui grandes qualidades intelectuais e morais. “Mas as principais qualidades que destaco em um homem público são a coragem, tenacidade, esperança e visão”, fala salientando que destas, o presidente dos Estados Unidos reúne as três primeiras. “Mas a visão só aparecerá com o tempo”, continua.

Ainda sobre os Estados Unidos, Mangabeira fala que o país passa por um forte momento de inflexão e está mais aberto ao questionamento e autoquestionamento. “Eu gostaria que o nosso Brasil estivesse em ebulição como estão os Estados Unidos”, fala.

Em diversas entrevistas, o professor e ministro, Mangabeira, ressalta e novamente reafirma que o Brasil é um dos países, no mundo, mais parecido com os Estados Unidos. “Mas esta semelhança não é reconhecida por nenhum dos dois países”, comenta.

Para explicar a afirmação acima, Mangabeira fala que “são dois países muito desiguais nos seus respectivos tipos (EUA entre os ricos e o Brasil entre os grandes em desenvolvimentos), nos quais paradoxalmente apesar da desigualdade, a maior parte dos homens e mulheres comuns aposta que tudo é possível”, fala.

O ministro cita, ainda, que os dois países são formados por sociedades cheias de peregrinos, de pessoas que buscam algo melhor a longo prazo.

Mas conforme o professor, enquanto os Estados Unidos buscam por uma sequela ao projeto Roosevelt, do século passado, no contexto desta crise econômica e financeira, o Brasil está numa procura paralela, tentando construir um novo modelo de desenvolvimento baseado em ampliação de oportunidades para aprender trabalhar e produzir. “Nosso povo brasileiro não quer caridade. Ele quer oportunidade”, explica.

Para Mangabeira, o que a nação brasileira mais deseja é transformar a democratização de oportunidade no próprio motor de crescimento.

Ele usa o recente caso envolvendo um colega de trabalho em suposto incidente de discriminação. Mangabeira cita que quando o “policial de cor escura foi preso por um policial de cor branca”, apenas revela o que todo mundo já sabia. Mesmo assim o caso apresenta dois lados de uma mesma realidade. “A prisão do professor foi usada para mostrar a discriminação racial existente no país, mas do outro lado o policial se via vítima da soberba de um acadêmico que ocupava uma posição de classe mais alta”, comenta.

Mangabeira comenta que o mais importante é que o Brasil não siga estes passos para trilhar o desenvolvimento. “Não devemos separar os problemas de raça e classe sócia, mas sim, enfrentá-los juntos”, ressalta.

Com a eleição de Obama, um grande passo já foi dado para inverter esta imagem de que os Estados Unidos é um país que vive em constante separação de raça, cor e classe social. “Mas infelizmente os programas chamados de “ação afirmativa’, beneficiam apenas a burguesia negra e não a maioria de pobres negros. “Esta é uma experiência que não devemos imitar no Brasil”, acrescenta.


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Reconstruindo o Brasil

No Brasil, segundo explica Mangabeira, a população está sempre debatendo em que o dinheiro deve ser aplicado ou quais as obras físicas que devem ser empreendidas. À frente da Secretaria Especial de Ações Especiais a Longo Prazo, ele criou vários projetos visando o desenvolvimento do Brasil.

Para o ministro, o Brasil Fervilha de vitalidade, “mas uma grande parte desta energia humana se desperdiça com a falta de oportunidades e instrumentos”. Mangabeira cita que a principal tarefa agora é reorganizar o país, mudar as instituições para resolver o paradoxo trágico da vida nacional. “O Brasil fervilha de vitalidade, mas uma grande parte desta energia se desperdiça pela falta de oportunidade e instrumentos”, fala salientando que esta é a grande trágica brasileira.

Mas para superar este problema, conforme explica o professor, é preciso reconstruir o país e este é o foco de sua pregação. Para explicar esta reconstrução, Mangabeira cita quatro grandes “Projetos Libertadores”:


Democratizar a economia de mercado – A parte mais importante da economia brasileira são as pequenas e médias empresas, mas todos os favores do Estado, tais como dinheiro do BNDS, vai para um pequeno número de grandes empresas bem relacionadas com o estado brasileiro. Isso porque é neste grupo que se concentra a maioria dos empregos e que faz a maior parte dos produtos.


Capacitar o povo brasileiro – Para isso é necessário reconciliar a gestão local das escolas com o Estado com padrões nacionais em investimento e qualidade. Também é preciso substituir o método de ensino que, na opinião de Mangabeira, é meramente informativo, enciclopédico e decoreba, para um estilo analítico e capacitador.


Aprofundar a democracia brasileira – É preciso concernir uma democracia mudancista de alta energia que não dependa da crise para promover a mudança. É necessário criar instituições que elevem o grau de engajamento cívico do povo brasileiro e que resolvam rapidamente os impasses do poder, inclusive com eleições antecipadas. Também se faz necessárias instituições que aproveitem o potencial experimentalista do regime federativo e substitua um federalismo de repartição rígida de competência entre os três níveis da federação por um federalismo cooperativo que associem os três níveis da federação em ações conjuntas e experimentos compartilhados.


Escudo das heresias – É necessário que o Brasil se integre ao mundo, mas de forma ativa e não passiva, em termos consentâneos com os projetos rebeldes de desenvolvimentos. Para isso é preciso mobilizar os recursos nacionais, inclusive ensejar uma elevação da poupança pública privada, para não ter que ficar de joelhos, pois nenhum país fica rico com o dinheiro dos outros.


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Futuro

Sendo um ativista na vida pública no Brasil, o ministro Mangabeira foi indagado sobre seus objetivos para o futuro e ele deixou uma incógnita. Militante do Partido Republicano Brasileiro – PRB, do qual também comunga o vice-presidente brasileiro, José Alencar, o professor disse que caberá aos seus companheiros decidirem.

Mangabeira, disse que nunca teve fascínio pela carreira política, mas não exclui a opção de disputar algum cargo no Brasil, inclusive o de presidente da nação. “Eu encaro este meu engajamento não apenas como discussões de idéias, mas uma luta para reorientar o país. Tenho grande simpatia pela ministra da casa Civil, Dilma Rousseff (nome do PT à presidência), mas considero também que o Brasil se beneficiaria com um debate ampliado e com outras opções para o povo”, ressalta.

Fonte: (ABNT)

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