Chegou o Classificado do Brazilian Times. Divulgue ou busque produtos e serviços agora mesmo!

Acessar os Classificados

Publicado em 13/07/2009 as 12:00am

Volta ao Brasil frustra imigrantes brasileiros

Não faz muito tempo, eles viviam o sonho do imigrante. Agora são alguns dos milhares de trabalhadores brasileiros que fugiram da crise econômica nos EUA para voltar ao Brasil e se arrependeram

 

Gizele Prata tem um ar triste no rosto enquanto está sentada no palacete que construiu para a mãe nesta sonolenta cidadezinha no sudeste do Brasil, sem se emocionar com a vista das colinas verdejantes e do Rio Doce que corre lá embaixo. É a casa dos sonhos que Gizele imaginava enquanto ela e uma irmã limpavam chãos de prédios em Boston para comprá-la.

Ela voltou no ano passado para ficar, mas a volta tem sido uma profunda decepção: leva mais de uma hora para chegar à universidade onde estuda farmácia; enlouquece com as filas e com a burocracia; não consegue arranjar emprego; e teme nunca poder seguir uma carreira de verdade.

Agora ela tem um novo sonho: voltar para os Estados Unidos. "Vou voltar", afirma Gizele, naturalizada americana, sentada na sala de estar da mãe, decorada em tons terra. "Não vou pensar mais nisso. Estou indo. O que eu quero fazer aqui, não tenho condições de fazer."

Sua frustração é a mesma de outros que migraram do Estado de Minas Gerais, um dos maiores pontos de partida de emigrantes rumo ao Massachusetts. Não faz muito tempo, eles viviam o sonho do imigrante. E agora são parte da onda de milhares de trabalhadores brasileiros que fugiram da crise econômica nos EUA para construir uma vida melhor no Brasil com o dinheiro ganho fora.

Mas, em vez disso, muitos agora lutam com salários baixos, desemprego e até mesmo com o choque cultural. Em Conselheiro Pena, uma remota cidadezinha do interior com 21 mil habitantes, um ex-emigrante, que abriu o Joes American Bar and Grill com grande estardalhaço, há dois anos, em poucos meses estava falido. A irmã do prefeito voltou para abrir um supermercado, mas fracassou e voltou para Massachusetts para trabalhar como ilegal.

Um carpinteiro da cidade fala em tom nostálgico de Cape Cod, onde ganhava mais que o dobro do seu salário atual. Os EUA continuam exercendo um poderoso atrativo, principalmente em Conselheiro Pena, onde as carroças puxadas por cavalos ainda sacolejam pelas ruas tortuosas, as galinhas ciscam na minúscula garagem dos ônibus, e as pessoas sentam nas calçadas em cadeiras de plástico para bebericar o seu café bem doce.

A migração para Massachusetts começou na 2ª Guerra Mundial, quando um grupo de engenheiros da região de Boston veio para cá para trabalhar. Ao voltar, eles levaram consigo as empregadas brasileiras. Esses caminhos se transformaram em rotas durante a crise econômica do Brasil, nos anos 80, quando milhares de pessoas foram trabalhar nos EUA, segundo conta o livro "Becoming Brazuca" (Tornar-se brazuca), sobre a imigração brasileira nos EUA.

Cerca de 1,4 milhão de brasileiros vivem hoje nos Estados Unidos, aproximadamente 336 mil em Massachusetts. E segundo o Banco de Desenvolvimento Interamericano (BID) e Álvaro Lima, diretor de pesquisa da Boston Redevelopment Authority, remetem para casa mais de US$ 2,7 bilhões ao ano.

Em Conselheiro Pena, os resultados são gritantes: verdadeiros palacetes erguem-se nos morros, um cartaz gigantesco anuncia a bênção da cirurgia plástica, e a concessionária Volkswagen expandiu-se e agora tem um showroom todo de vidro. Um cartaz no seu interior diz: "Os sonhos existem para que possam se tornar realidade".

"Não há uma família nesta cidade que não tenha um parente nos Estados Unidos", observa o prefeito, Neyval José de Andrade, cuja irmã é agora uma imigrante ilegal. Mas os ex-imigrantes dizem que o encanto dos EUA foi diminuindo nos últimos anos, com a crise da economia. Perderam seus empregos, o dólar vale muito menos no Brasil, e eles não têm como justificar anos longe das famílias.

"Estava cansado, queria voltar para casa", diz José Rodrigues, 46, que trabalhava como mecânico na Allston-Brighton antes de retornar, em 2002, depois de viver 12 anos fora. Mas agora ele trabalha sem parar na fazenda de leite que comprou, e mal consegue pagar as contas no fim do mês.

Conscientes das dificuldades, as autoridades aqui e lá tentam encontrar maneiras para ajudá-los a vencer, esforço que se estende até a Nova Inglaterra. No mês passado, as autoridades brasileiras e o BID lançaram uma série de seminários em 25 cidades e centros menores, como Conselheiro Pena, que se repetirão em comunidades brasileiras no Massachusetts, no fim do ano. Ali, ensinarão os brasileiros a redigir projetos de empreendimentos, a fazer pesquisa de mercado e a investir com inteligência.

Um estudo realizado em 2006 calcula que 70% dos imigrantes brasileiros que voltaram para casa e abriram negócios fracassaram. "Precisamos criar alguma coisa para que os emigrantes possam voltar", diz Antonio Carlos Linhares, coordenador de um empreendimento sem fins lucrativos que ajuda as famílias dos emigrantes a criar empregos em Governador Valadares, uma cidade de 300 mil habitantes que é um dos principais centros da região. "De outro modo, eles ficarão desempregados lá e desempregados aqui."

Em toda a região, são numerosos os sinais de uma economia em dificuldades. Em governador Valadares, apelidado de "Valadolares" por causa do dinheiro que os emigrantes remetem para casa, são inúmeros os cartazes de "aluga-se". A concessionária da Volkswagen em Conselheiro Pena vendia 60 automóveis por mês quando a economia era mais sólida, em 2004; agora vende 30.

O emigrante que abriu o Joes American Bar and Grill trabalhava em um restaurante em Massachusetts, mas não tinha experiência com negócios. As pessoas do lugar não gostam do seu menu internacional, e o cheiro de estrume da fazenda vizinha enche o salão quando sopra uma brisa. O estabelecimento fechou poucos meses depois da inauguração e o proprietário foi embora.

A irmã de Andrade também fracassou. Em 2004, abriu um supermercado depois de ler num programa de computador que o investimento daria lucro. Mas em cidades pequenas, os clientes, em geral sem dinheiro, compram menos, e muitas vezes fiado. Ela tinha um estoque considerável, mas não conseguia vender o suficiente para pagar as contas.

 

Fonte: (Da redação)

Top News