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Publicado em 4/06/2010 as 12:00am

Brasileiro de 108 anos relata trajetória centenária nos EUA

Algumas edições atrás, noticiamos a existência de um brasileiro que reside há mais de 100 anos nos EUA

Por Marcelo Zicker


Algumas edições atrás, noticiamos a existência de um brasileiro que reside há mais de 100 anos nos EUA. Natural de Vitória, no Espírito Santo, Bernando La Palla, de 108 anos, foi contatado pela equipe de reportagem do Brazilian Times essa semana onde reside, em Mesa – Arizona, para falar um pouco de sua relação com o Brasil, suas dificuldades ao chegar aos EUA, e sobre a recente aprovação da lei SB 1070, que torna a imigração indocumentada um crime em seu estado de residência.

Filho de um brasileiro com uma norte-americana, ele deixou o Brasil ainda criança para morar em New York, junto com sua família. Com uma saúde surpreendente, e bem lúcido em sua argumentação durante a entrevista, ele é um exemplo de preocupação com a qualidade de vida, já tendo escrito dois livros sobre os cuidados que devemos ter com a nossa saúde e também ministra palestras sobre o assunto.

Vivendo há mais de 100 anos nos EUA, ele demonstra grande satisfação ao falar do Brasil e suas poucas lembranças da infância, embora tenha esquecido por completo como falar português. “ Já pedi para uma amiga brasileira selecionar algumas fitas cassete para eu ir escutando e aprendendo novamente” revela o capixaba, que teve 3 filhos, sendo que o mais velho morreu há 2 anos de  causas naturais devido à avançada idade. 

Para manter uma boa saúde ele garante que se alimenta apenas de frutas, vegetais, sucos e sopas à base de cevada, fala ressaltando que não come carne vermelha. Associada à alimentação,  a caminhada diária também auxilia na manutenção de seu sistema imunológico.

Brazilian Times - Quais as principais lembranças que o senhor tem do Brasil?

Sr. Bernando - Eu vim para os EUA em 1905, quando estava com apenas 3 anos de idade.  Infelizmente,  não tenho muitas lembranças, com exceção de uma que ainda é bem forte em minha mente. Quando eu ainda era uma criança,  voltamos de férias ao Brasil, e meu pai me levou para conhecer a casa em que morávamos antes de imigrar, em Vitória – ES. Fizemos uma viagem de trem muito bonita, do Rio de Janeiro até a capital do Espírito Santo, que era movimentado pela queima de café e não de carvão.  Foi um trajeto com imagens inesquecíveis do Brasil, que ainda não saem da minha memória.

A todo momento tenho referências do Brasil no meu dia-a-dia, sou um brasileiro com orgulho. Uma vez estava na Flórida e um amigo me falou – ‘ Esta é a praia mais bonita do mundo!’.  Eu respondi – ‘ Você está falando isso porque ainda não visitou o lugar mais bonito do mundo, que é Copacabana no Rio de Janeiro. Aquele sim, é o paraíso’ – brinquei com ele.

BT - Como foi chegar aos EUA há 100 anos atrás como um imigrante? Quais as principais diferenças entre o tratamento de um imigrante naquela época e atualmente?

 

Sr. Bernando – Eu cheguei numa época em que não existia leis de imigração bem estabelecidas, nem mesmo passaporte existia! Então a minha legalização e a de minha família, se deu bem facilmente, principalmente porque meu pai veio estudar medicina, e minha família tinha uma boa condição financeira. Naquele tempo não existia essa perseguição implacável que existe hoje com a ilegalidade, mas sim uma barreira forte da língua e o embate de costumes. Bastava estar aqui e começar a trabalhar e constituir uma base familiar para fazer parte dessa nação.

BT - O senhor vivenciou 2 guerras mundiais, o Macarthismo, Depressão de 30, revoluções tecnológicas e industriais, passando por épocas de muita repressão racial, étnica e social. Qual foi o papel do imigrante durante esses períodos?

Sr. Bernando – Foram épocas complicadas, mas eu nunca vivenciei nenhum problema racial ou étnico, porque cheguei muito criança, e fui criado como um americano desde então. A história foi muito dura em vários lugares dos EUA, onde a predominância de um sentimento sectário era mais forte, mas felizmente nuncafui vítima de divisão racial, mesmo sendo negro. Estudei em Paris para ser Podiatrista ( profissional que cuida dos pés)  e tive uma carreira de muito sucesso na profissão, então sempre fui muito respeitado. Além disso, nunca me coloquei na situação de imigrante e negro, sempre me vi com igualdade frente às pessoas que me rodeavam. Acho que é assim que os brasileiros devem se enxergar perante essa sociedade. Estamos numa nação conhecida por trabalhar em cima dos valores da democracia, é assim que devemos enxergar os EUA, mesmo que isso não se faça presente em muitos momentos, como nessa aprovação da lei para combater a imigração no Arizona.

BT – Tocando nesse assunto e sendo o senhor um residente do estado, o que achou da assinatura da lei SB 1070, que torna a imigração indocumentada um crime no Arizona ?

Sr. Bernando – Pode ser resumida em uma palavra :  estúpida e hipócrita. Quem estudou a história dos EUA, sabe que esse país se construiu através dos imigrantes e o Arizona foi um dos últimos territórios a serem oficialmente elevados à categoria de estado. Eu vivenciei toda a influência dos imigrantes aqui, e não concordo com essa atitude discriminatória e que pode fomentar muito preconceito no estado. Apesar de não concordar com uma anistia geral, que na minha opinião vai de encontro com o meu conceito de democracia e respeito às leis, eu não concordo que um estado que tem raízes muito fortes com os imigrantes e que quase não pertenceu à este país na época, sendo o último a ser agregado como estado,  faça essa perseguição desleal e desumana contra pessoas que estão aqui para ajudar a manter a força dos EUA como nação.

Fonte: (ABTN - Agência de Notícias Brazilian Times)

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