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Publicado em 23/07/2010 as 12:00am

Brasileiro bebe urina durante travessia da fronteira

Um rapaz animado e cheio de muitos amigos. Assim defin-se Robson Anselmo, um mato-grossense de Tangará da Serra.

Por Luciano Sodré

 

Um rapaz animado e cheio de muitos amigos. Assim defin-se Robson Anselmo, um mato-grossense de Tangará da Serra. Ele, com 24 anos de idade, saiu da casa dos seus pais para se aventurar na travessia na fronteira mexicana com os Estados Unidos. A saída do Brasil, do aeroporto de Garulhos em São Paulo foi rápida. Ele chegou à Cidade do México e horas depois estava em uma Van, a caminho da fronteira. Ele lembra que perdeu a noção do tempo, pois estava muito cansado e passou quase toda a viagem dormindo.

Chegaram à cidade de Hermosillo e algo já previa que não seria uma travessia fácil. Seis brasileiros estavam no interior do veículo além do motorista. O motorista de uma camionete de cor preta olhou de maneira suspeita para a van e imediatamente falou com alguém através de um rádio. Neste momento um dos brasileiros percebeu e avisou ao resto do grupo.

O motorista da van tentou fugir e escondeu o veículo em uma garagem de um hotel. Todos foram aconselhados a descer e seguir à pé até o local onde passariam a noite. Lá já estavam mais cinco brasileiros que também iriam cruzar a fronteira. Todos tomaram banho e ao anoitecer uma refeição foi servida ao grupo. Alguns comeram normalmente, mas outros não conseguiram, pois estava bastante apimentada. Ainda na mesma noite, o grupo foi retirado do local e levado até a cidade de Cananea, onde foram hospedados e um sobrado de alvenaria que estava abandonado.

Novamente se alimentaram e permaneceram por três horas quando outro veículo surgiu e o grupo novamente foi transferido de local. Desta vez para um vilarejo abandonado, onde se podia ver no máximo 15 casas feitas em madeira.

Robson estava apreensivo, porque dois dos coiotes estavam em visível estado de embriaguez e provocavam as brasileiras do grupo. Ele, ao lado de dois brasileiros, estava a postos e as defenderia a qualquer custo.

Os coiotes, percebendo que os homens iriam revidar o ataque, preferiam não agir e saíram do casebre e continuaram bebendo do lado de fora. O grupo dormiu, mas um sempre ficava alerta e a cada duas horas um acordava para o outro dormir. Assim foi até o dia amanhecer. Um terceiro coiote surgiu com pão e água e distribuiu para todos.

- É preciso descansar, pois logo iniciaremos a caminhada. Disse ele.

Algumas horas depois uma camionete de cor avermelhada e lataria enferrujada estava do lado de fora esperando a todos. Foram colocadas 16 pessoas na traseira do veículo que saiu em alta velocidade por uma estrada de chão. Alguns quilômetros depois ela parou, próximo à uma estrada de ferro e uma montanha à frente. Todos desceram e seguiram à pé.

Até aí tudo corria normal e Robson pensava estar próximo o fim desta jornada. O que ele não sabia é que tinha mais quatro dias de caminhada. Era fim da tarde de sábado e iniciaram a subida de um moro cheio de pedras, algumas delas estavam soltas e era preciso ter cuidado para não cair. A ordem era caminhar durante a noite inteira e descansar durante o dia.

Na Segunda noite de caminhada alguns já demonstravam cansaço, inclusive Robson. Ele estava ofegante, mas podia continuar. O problema começou no terceiro dia, quando exausto o grupo foi surpreendido por dois agentes de imigração.

Acredita-se que era por volta de 20 horas. O coiote sussurrou para que todos deitassem na grama e ficassem em silêncio.

Os dois agentes passaram bem próximo do grupo com faroletes apontando para todos os lados, mas não viram os imigrantes deitado no chão. Assim que os faroletes distanciaram o coiote ordenou que todos subissem o morro, mas se arrastando no chão. Foi então que a situação ficou crítica. Robson, ao se arrastar, acabou escorregando em uma pedra e o barulho chamou a atenção dos agentes que já se distanciavam.

Os dois retornaram e os imigrantes pararam de subir e ficaram em silêncio. Mas desta vez o facho das lanternas encontrou o grupo e um grito se ouviu:

- Amigo, amigo.

Eram os agentes gritando para que o grupo se entregasse. Neste momento todos saíram em desordenada carreira e procuram esconderijo nos lugares mais distantes. Robson subiu o morro até o mais alto que pode e do alto via os faroletes agitadas no pé da montanha, em busca do grupo. Quando tudo parecia normal, ele desceu e foi tentar encontrar os demais companheiros de caminhada. Mas assim que chegou próximo de onde iniciou a fuga, percebeu que os agentes ainda estavam por perto e a primeira coisa que pensou foi subir em uma árvore. Por alguns momentos ele pensou que seria pego. Os agentes passaram embaixo de onde ele estava. Com medo, Robson ficou algum tempo na árvore, mesmo não vendo mais sinal dos agentes. Com sede e medo sua garganta ficou seca. Para evitar tossir e chamar a atenção, ele urinou na mão e bebeu sua urina, pois estava prestes a tossir.

Algum tempo depois, quando parecia que não havia mais perigo, ele escutou o código combinado com o coiote. Bem distante o coiote gritava a palavra RIM. Foi desta maneira que o grupo foi orientado em caso de perseguição. Quando ouvisse a tal palavra deveria responde com JANTA. Robson sorriu e agradeceu a Deus quando escutou a palavra. Imediatamente desceu da árvore e foi em direção ao som.

Novamente reunido, o grupo caminhou por mais meia hora e sob uma enorme árvore deitaram para descansar. Ali permaneceram por duas horas e meia até que foram obrigados a seguir caminho, pois no pé da montanha avistaram fachos de lanternas, possivelmente de agentes fronteiriços.

Ao se levantar, eles entraram em uma trilha de mata fechada, mas 15 minutos depois foram surpreendidos por dois policias que mesmo no escuro da madrugada conseguiram ouvir as vozes e respirações ofegantes dos caminhantes. No momento em que ouviram os gritos para pararem, novamente o grupo se dividiu e cada um procurou um lugar para se esconder.

Robson partiu para a sua direita e antes mesmo de pensar onde se esconder, caiu em um pequeno buraco e por sorte não se feriu. Por algum momento, ele pensou que aquele seria um excelente esconderijo, mas algo lhe dizia para sair de lá e buscar outro ponto para esconder-se.

Lentamente ele saiu do buraco e foi se arrastando sem destino, mas em silêncio. Poucos minutos depois ele percebeu que estava diante de uma rua asfaltada e que poderia ser presa fácil onde estava. Resolveu cruzar a estrada e esconder-se do outro lado.

Assustado ele se jogou em um arbusto e para o azar era uma moita de espinhos. Por mais que ele tentava se livrar, mais os espinhos entravam em sua pele. Sangrando e com medo, Robson não podia pedir ajuda.

O tempo foi passando, o dia clareando e nem sinal do coiote ou qualquer outra pessoa que estava no grupo. O medo começou aumentar, pois Robson conhecia diversas histórias de imigrantes que morreram tentando atravessar a fronteira, alguns deles abandonado e enterrados como indigentes. Mas num estalo, ele resolveu sair de onde estava e rastejando foi até uma cerca de arame liso.

Parece que foi um sinal divino, pois após a cerca ele avistou em um pequeno desfiladeiro o grupo caminhando. Neste momento Robson olhou para os céus e agradeceu a Deus. Um suspiro profundo... Era como se ele voltasse a viver. Rapidamente desceu o local sem se preocupar com os arranhões. Ele apenas sorria por ter reencontrado o grupo.

Novamente ele estava com seus companheiros de travessia, mas os problemas não acabavam por ali. Pouco mais adiante o grupo parou para descansar e com os pés feridos e doendo, Robson pensava que não iria conseguir seguir viagem e chegou a comentar que queria parar por ali e que os coiotes o entregassem para os policiais. Mas os outros conseguiram convencê-lo a continuar.

Robson não aguentava mais tantas promessas de que a caminhada estava perto do fim. Os pés em carne viva, dores nas pernas e a boca seca, pois a água havia acabado. Quando tudo parecia perdido todos foram colocados embaixo de uma árvore e ali esperaram por três horas. Um dos coiotes saiu e retornou depois separando o grupo foi dividido em três. Um seguiu com o atravessador que acabara de chegar e os outros dois ficaram esperando.

O nosso herói estava no segundo grupo, o qual 15 minutos depois recebeu a ordem de seguir adiante. Pouco mais de 500 metros dali, uma camionete os esperavam. Todos foram colocados na carroceria e apenas Robson ficou na cabine, pois os coiotes sabiam que ele não estava bem. Em alta velocidade, o veículo seguiu por uma estrada de terra, cheio de buracos, montanhas e pedras. Meia hora depois, eles encontraram um veículo pequeno.

Robson permaneceu na camionete junto com mais três pessoas. Os demais que estavam no veículo foram colocados no outro carro e todos seguiram para o mesmo caminho. Ao chegar a um condomínio, ele foram levados até um apartamento onde o primeiro grupo já estava.

A primeira coisa que Robson fez foi agradecer, pois percebeu que o pior já havia passado. De lá ele foi levado, em uma Van, até Somerville, em Massachusetts.

Fonte: (Da redação)

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