Publicado em 22/11/2010 as 12:00am
Uma arma na cabeça e um futuro incerto
Janice M. Sousa, uma gaúcha criada em São João Del Rei, em Minas Gerais, mora nos Estados Unidos há oito anos, mas a sua chegada a este país foi uma das mais perigosas contadas neste livro.
Janice M.
Sousa, uma gaúcha criada em São João Del Rei, em Minas Gerais, mora nos Estados
Unidos há oito anos, mas a sua chegada a este país foi uma das mais perigosas
contadas neste livro.
A idéia de
sair do Brasil em busca de uma vida melhor começou quando seu pai faleceu e ela
se viu na obrigação de cuidar dos irmãos mais novos e a mãe que também estava
bem velhinha. Janice nunca se casou e optou passar a vida cuidando de sua mãe.
Mas, desempregada e precisando de dinheiro para comprar os remédios da
matriarca e ainda pagar as despesas da casa, ela se viu num beco sem saída e
aceitou a sugestão de uma amiga de se mudar para os Estados Unidos.
O que
Janice não contava é que a travessia pela fronteira com o México mudaria
drasticamente a sua vida. Ela chegou à Cidade do México (capital do país) numa
manhã de uma sexta-feira em 2002. Ela seguiu todas as orientações que lhe fora
dada antes de viajar encontrou-se com a pessoa que lhe guiaria por boa parte do
trajeto. Tudo transcorria normalmente e a viagem parecia que não teria
problemas.
Mas ao
chegar a Hermosillos, ela foi levada até um hotel onde havia mais cinco pessoas
esperando. Janice foi alojada em um quarto pequeno com mais uma brasileira,
tomou banho e jantou. Ela dormiu por cerca de quatro horas, quando surgiu outro
guia o qual levou todo o grupo até uma camionete. De lá eles seguiram para a
região de Nogales.
A partir
daí que inicia o pesadelo de Janice. A camionete foi parada por cinco homens
armados com revólveres e espingardas. A estrada estava interditada por pneus e
troncos de árvores e o grupo, formado por oito imigrantes e dois coiotes foi
retirado bruscamente do veículo. Janice começou a chorar e pedir para não ser
morta. Um dos marginais apontou uma arma na direção da cabeça dela e ameaçou
atirar se ela não parasse de chorar.
Eles foram
levados até uma casa abandonada. O calor era intenso e o grupo foi colocado em
um quarto com a porta trancada pelo lado de fora. Duas horas depois um dos
sequestradores entrou no local e avisou que ninguém morreria e que apenas
queria dinheiro. Com um telefone celular ele orientou a cada um que ligasse
para seus familiares e pedisse que enviassem 2 mil dólares em nome de uma
pessoa na cidade do México. Mas se alguém falasse sobre o seqüestro, eles
matariam a todos.
Janice
sabia que sua mãe, já velha, não teria o dinheiro exigido e seus irmãos não
estavam trabalhando. Isso a deixou mais apavorada e ela começou a gritar
dizendo que não tinha como arrumar o dinheiro.
- Então
você ficará aqui até que alguém pague para você sair. Nós não temos pressa
mesmo e até você pode nos ajudar de outra forma – disse o seqüestrador
insinuando que poderia manter relação sexual com ela.
Janice
apenas chorava e pedia para não morrer.
Aos poucos, mediante o pagamento efetuado, os sequestradores iam
liberando os imigrantes. Passaram-se três dias e Janice continuava presa. Ela
não queria ligar para sua mãe, pois sabia que não conseguiria o dinheiro e que
a notícia poderia ser fulminante, pois ela estava velha e adoentada.
- E você?
Nossa paciência está terminando. Ou você consegue logo este dinheiro ou sua
viagem termina por aqui – ameaçou um dos sequestradores.
Janice não
sabia o que fazer e cada vez que aquela arma era apontada para sua cabeça,
pensava que fosse morrer. Ela tremia e chorava muito, quase não havia mais
lágrimas de tanto chorar. O seqüestrador saiu do quarto e disse em tom
ameaçador que não queria perder a próxima viagem. Um guatemalteco que estava com
a brasileira tentou consolá-la e lhe prometeu:
- Meu primo
está tentando conseguir uma grana. Ele mora no Arizona. Eu percebi que você
está sendo sincera, se eu puder vou te ajudar.
Neste
momento os outros dois que ainda estavam presos falaram que também ajudaria com
um pouco de dinheiro. Foi então, que somando as quantias levantadas por eles,
ela conseguiu o valor exigido. Mas os sequestradores resolveram deixá-la por
último. Assustada, Janice temia muito pela sua vida e não sabia o que poderia
acontecer. Todos foram liberados e ela ficou presa por mais dois dias que
parecia interminável.
O que ela
não sabia era que os sequestradores haviam abandonado a casa assim que pegaram
todo o pagamento exigido. Eles resolveram deixar a brasileira para morrer abandonada.
Com o passar do tempo, ela resolveu ir até a porta e percebeu que estava aberta
e não havia mais ninguém na casa. Lentamente ela foi saindo e quando viu que
estava sozinha começou a correr na direção que seu sentido orientava.
Abatida,
com fome e muito medo, ela correu por duas horas até que avistou uma pequena
estrada de terra.
- Aqui deve
passar algum carro – pensou ela.
Ela
caminhou por mais uma hora até que um veículo parou e lhe deu carona até a
cidade de Cananea. Lá ela ligou para sua mãe e explicou o que aconteceu e pediu
para que ela entrasse em contato com a pessoa que agenciou a sua viagem. Assim
que Janice falou com ele, recebeu todas as orientações e ficou aguardando em um
endereço marcado por uma pessoa que a pegaria e a levaria de volta à travessia.
Mesmo que
não conseguisse atravessar, ela já estava satisfeita por estar viva. Esse foi o
maior prêmio. Assim que encontrou o outro guia, Janice foi para a travessia,
mesmo com medo. Desta vez nada aconteceu e ela conseguiu chegar ao seu destino.
Atualmente
Janice mora em New haven, em Connecticut, já pagou a dívida com o agenciador
que foi de $12 mil e conseguiu comprar uma casa em Lavras. Janice está juntando
um dinheiro para retornar ao Brasil no final de 2011 e pretende, até lá, abrir
uma pequena empresa de decoração de festas infantis.
Este é um
trecho do livro “Fronteira”, do jornalista Luciano Sodré que já podem ser
adquiridos pelo telefone (339) 545-5790.
Fonte: (Da redação)