Publicado em 10/08/2011 as 12:00am
Brasileiro passa 2 dias atrás de árvore para fugir do ICE
W.T.J, de 42 anos, teve a sua travessia marcada pela fome e pelo medo de ser abandonado. Quando ele decidiu se aventurar na travessia da fronteira dos Estados Unidos, sabia dos perigos que iria correr
W.T.J, de 42 anos, teve a sua travessia marcada pela fome e pelo medo de ser abandonado. Quando ele decidiu se aventurar na travessia da fronteira dos Estados Unidos, sabia dos perigos que iria correr, pois conhecia diversas histórias e sabia do relato de muitos amigos que sofreram durante o trajeto. Mesmo assim, a vontade de conseguir um emprego e juntar dinheiro para proporcionar uma vida mais digna à sua família foi maior que o medo.
Ele saiu da cidade de Galiléia, em Minas Gerais, e seguiu, como maior parte dos brasileiros neste esquema de tráfico humano, para São Paulo. Lá, foi colocado em um avião que seguiu para o México. Ao chegar á capital mexicana, ele foi levado por uma mulher até um hotel, onde tomou banho e descansou. Pouco antes de sair, uma mochila lhe foi entregue e foi orientado que levasse apenas o necessário, pois a mochila seria para transportar água e comida na travessia.
O mineiro se uniu a mais cinco brasileiros, os quais foram colocados em um veículo com placa do aeroporto e foram levados para uma cidade de fronteira. Mas antes tiveram duas paradas, uma na cidade de Hermosillo e outra em Cananea. Na primeira, o grupo foi colocado em um pequeno hotel de dois andares, construído em madeira. Cada quarto tinha duas camas de solteiro e um banheiro. W.T.J. ficou com um paulista que conhecera durante a viagem. Os dois foram se tornando amigos ao longo da jornada.
Na segunda parada, eles ficaram em um sobrado construído com tijolo a vista e próximo a um pequeno mercado. Mesmo havendo moradias e comércios nas imediações, W.T.J. olhou pela janela para ver se via alguma pessoa transitando pela rua. Mas horas e horas e apenas o som do vento e apenas três pessoas foi vista por ele. Um completo deserto para uma cidade de pequeno porte.
Eles dormiram no sobrado por uma noite e na madrugada seguinte entraram em uma camionete cabine dupla e foram levados a um vilarejo, onde outros coiote, os esperavam. Eles ficaram em um casebre por 12 horas e depois surgiu outra camionete que os levaram até o ponto de travessia. Em uma estrada de ferro, montanhas e muitas pedras pelo caminho.
A travessia de W.T.J. foi tranquila, mas ao chegar aos Estados Unidos, foram surpreendidos por uma barreira policial em uma estrada de chão. Todos ficaram escondidos à margem da rua e um dos coiotes seguiu adiante. Pouco tempo depois ele retornou e disse que iria atravessar uma pessoa por vez. Foi ai que começou o sofrimento do mineiro. Ele foi o último do grupo e por isso a agonia foi maior.
Cinco horas depois que todos foram levados, o mineiro continuava esperando, escondido atrás de uma grande árvore. O tempo foi passando, a noite chegou e nenhum sinal do coiote ou do grupo que estava com ele. A dúvida surgiu, pois ele não sabia o que fazer.
- Seguir caminho em busca de ajuda ou esperar o coiote retornar conforme foi orientado – pensava ele.
Cerca de 12 horas depois, o mineiro avistou um carro e pensou se tratar do coiote. Imediatamente saiu de trás da árvore, mas percebeu que se tratava de uma viatura policial. Sem pestanejar, voltou para o esconderijo e ficou observando. Um policial desceu e apontou com uma lanterna para os dois lados da rua. W.T.J. se encolheu atrás da árvore para não ser visto e a respiração ofegante foi lhe secando a boca. Alguns minutos depois o policial se retirou, a fome e a sede do mineiro aumentaram. Um pequeno sinal de desespero começou tomar conta dele, pois temia morrer abandonado naquele lugar. Mas confiante em Deus, ele pediu ajuda em oração. A noite foi terminando e o dia amanhecendo. Assim que o sol clareou seu rosto, ele acordou e olhou para a rua. Mesmo não vendo ninguém, sabia que deus o ajudaria. Então tomou a decisão de sair do esconderijo e procurar ajuda, independente de quem fosse.
Foi então que ouviu um grito vindo de uma moita à beira do caminho.
- Hei, aqui. Venha aqui – dizia a voz.
O mineiro se aproximou da moita e viu que era o coiote que o acompanhava.
- Seu amigo disse que tínhamos esquecido você e por isso voltei – disse ele pedindo para que W.T.J. o seguisse.
Depois daí a viagem voltou ao normal. Ele foi levado até a cidade de Tucson e de lá seguiu para Danbury, em Connecticut.
O que aconteceu foi que os coiotes deixaram para trás o mineiro, mas a pressão do amigo paulista os forçou a retornar e buscá-lo. Até os dias atuais os dois são grandes amigos, constituíram famílias e não pretendem retornar ao Brasil. W.T.J. mora em Massachusetts e ocupa uma profissão respeitada na comunidade.
Fonte: (da redação)