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Publicado em 14/12/2016 as 6:00pm

Após tentativa de suicídio e asilo negado, brasileira luta para permanecer nos EUA

Jayne Alves está em um centro de detenção familiar na Pensilvânia e tem parentes em Massachusetts

Na noite do dia 7 de novembro, Jayne Alves Vilas Novas, uma brasileira de 19 anosa de idade, colocou sua filha, de dois anos, para dormir no Berks County Residential Center, um local que abriga imigrantes indocumentados, a maioria mulheres e crianças em busca de asilo. Mas o pensamento dela estava em outro lugar – na polêmica em torno do homem que tornou a sua vida um pesadelo, depois das eleições presidenciais.

A brasileira temia que oficiais da imigração apareçam no meio da noite e peguem ela e sua filha e as deportem. Chorando, ela entrou no banheiro, pegou a lâmina de um apontador e pressionou contra o pulso. Mas para sua sorte, o companheiro de apartamento estava acordo e conseguiu convencê-la a desistir da “ideia idiota”.

Os cortes foram superficiais e não ameaçou a vida da brasileira. Mas a motivação que a levou a esta atitude ainda persistiam em sua mente. O fato aconteceu quase 10 semanas depois que ela é a filha atravessaram a fronteira do México para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor e mais segura, ao lado de familiares na New England.

Ela foi capturada e tentou asilo no país, mas as autoridades norte-americanas determinaram que seus argumentos sobre perseguição no Brasil não eram aceitáveis e as enviou para a Pensilvânia, onde as esperanças da jovem mãe começaram a diminuir.

As duas são vítimas de uma máquina de deportação que, nos últimos anos, separou milhares de famílias. Jayne nunca esteve em uma prisão antes e disse que não consegue se ajustar a sua nova realidade. Sua filha começou a agir diferente, mordendo a pele em volta das unhas até sangrar. A brasileira disse que conseguiu sentir o vínculo entre elas se desgastando devido ao estresse.

Quando encontrou-se com a psicóloga contratada pela instituição, na manhã seguinte a tentativa de suicídio, a brasileira estava abalada e não conseguia explicar o que estava sentindo, e temia que uma palavra errada pudessem servir de pretexto para levar sua filha embora. Através de um intérprete telefônico - nenhum dos funcionários da Berks fala português – ela fez o que pôde para transmitir uma mensagem simples: "Não aguento mais".

A brasileira descreve a sua situação e parentes do Brasil e em Massachusetts confirmam o sofrimento da jovem no Brasil. Através de dezenas de declarações juramentadas, resumos jurídicos e registros policiais brasileiros, uma pequena equipe de defensores legais tenta provar para as autoridades norte-americanas os traumas e ameaças sofridos por ela e sua filha em seu país de origem.

Os documentos e as conversas gravadas mostram as medidas desesperadas que a brasileira tomou para manter sua filha segura.

Ela e a filha chegaram ao porto de entrada da Gateway International, em Brownsville (Texas), no dia 31 de agosto - o ponto culminante de uma viagem que levou as duas, oriundas da zona rural para o Rio de Janeiro e de avião para a Cidade do México e depois, finalmente, de ônibus para a fronteira dos EUA. No momento em que a brasileira se apresentou aos agentes da Patrulha da Fronteira em Brownsville, o empréstimo que sua tia lhe dera tinha sido reduzido a US $ 271.

Com uma folha de alumínio para dormir, Jayne conta que ela e a filha passaram duas primeiras noites nos Estados Unidos em um quarto frígido, como um canil, cheio de outras famílias imigrantes. “Parecia que os oficiais colocaram o ar-condicionado na temperatura mais fria”, disse. “Não havia cama para nos deitarmos, apenas uma fina almofada no chão, como se fôssemos cães”, continua.

No dia seguinte, funcionários do Customs and Border Protection (CBP) entrevistaram a brasileira e determinaram que ela e sua filha eram "inadmissíveis aos Estados Unidos". As duas tiveram ordem de remoção emitidas e o processo de deportação acelerado. No dia seguinte, foram transferidas para o maior centro de detenção da família imigrante do país, o South Texas Family Residential Center in Dilley, no Texas.

Dirigido pela maior empresa de prisões privadas do país, a Corrections Corporation of America, agora com o nome CoreCivic, o centro foi aberto pelo Departamento de Segurança Interna em dezembro de 2014, como parte de um esforço do governo Obama para deter uma onda de imigrantes, famílias e crianças desacompanhadas, fugindo da violência na América Central para a fronteira sul dos EUA. Funcionando semelhante a uma prisão e um campo de refugiados, Dilley tem uma capacidade de 2.400 camas e, a partir de agosto de 2016, abrigou mais de 1.300 mulheres e crianças imigrantes.

Apesar de anos de má impressão, evidências de abuso e acusações de que lucrou com o sofrimento de algumas das populações mais vulneráveis do mundo, o centro, no entanto, representou uma oportunidade para a brasileira contar a sua história novamente. Desta vez na esperança de obter uma audiência de asilo perante um juiz, algo que ela havia indicado que não estava procurando durante a entrevista inicial com os funcionários da CBP.

O primeiro passo no processo foi uma chamada entrevista de “medo crível”, ou seja se a história é merecedora de crédito. Esta é uma fase crucial na qual os não-cidadãos que têm uma remoção acelerada podem provar que têm um receio legítimo de serem deportados ao seu país de origem. Se um oficial de asilo determinar que o medo pode realmente ser credível, então o processo de deportação é efetivamente interrompido e o indivíduo tem uma chance de defender o seu pedido de asilo perante um juiz.

A entrevista da brasileira durou pouco mais de uma hora e meia. Ao contrário de sua primeira entrevista, ela conseguiu transmitir pelo menos parte da vida que tinha no Brasil. Jayne explicou que tinha fugido do país porque tinha medo de cinco homens que bateram nela e em seu marido com pedras, resultando em graves lesões. "O processo contra eles foi arquivado e nada aconteceu", disse. "Tivemos que conseguir um advogado, mas não há justiça brasileira, e então meu marido me abandonou", continuou.

Com o marido desaparecido e com pouca esperança na justiça brasileira, Jayne disse que o perigo dela e sua filha serem vítimas dos agressores aumentou. "Esse cara (agressor) faz tudo o que quer lá", disse ela ao oficial, referindo-se ao homem que liderou o ataque. "Ele luta. Ele ameaça as pessoas. Ele também usa drogas. Eles nunca o pegaram por nada”, relata.

Os oficiais perguntaram se a brasileira tinha outros receios de retornar ao Brasil, além do homem que liderou o ataque contra ela e seu marido. “Não. Essa é a única razão”, disse ela. "Se eu voltar, esse cara pode fazer coisa pior comigo ou com minha filha", disse ressaltando que que ela não descreveu esses medos antes porque " tinha medo de entrar em contato com pessoas brasileiras e o agressor saberia e iria algo contra ela e sua filha".

O oficial de asilo determinou que os temores de Vilas Novas não eram credíveis. Mais tarde naquele dia, o juiz que revisou sua entrevista concordou. Vilas Novas descreveu o momento em que ele tomou sua decisão. "Eu comecei a chorar e ele disse: 'Eu não duvido que sua história é verdadeira, mas eu concordo com o oficial. E a resposta é não. Você será deportada’.

Depois disso, Jayne e sua filha foram avisadas de que seriam transferidas para um pequeno centro de detenção familiar na Pensilvânia, onde esperariam a deportação para o Brasil.

Casos como o da brasileira não é único, mas o sistema nem sempre foi tão duro e implacável para mães e crianças.  Atualmente, o Immigration and Customs Enforcement (ICE) mantém três centros de detenção familiares que, em agosto, detinham pouco mais de 2.000 mulheres e crianças.

Convertido de uma casa de abrigo em março de 2001, o Berks é o menor dos centros de detenção provido pelo governo, com uma capacidade de 96 leitos, e tem sido objeto de críticas intensas. Em um relatório de agosto de 2015, a Human Rights First documentou os impactos sobre a saúde e o bem-estar das crianças abrigadas na instituição - incluindo "depressão, ansiedade e aumento da agressão" - e "obstáculos à liberdade, tais como ligações inaceitáveis, atrasos nos processos de entrevista, e falta de aconselhamento".

Berks chamou a atenção nacional este ano, quando 22 mulheres detidas anunciaram que estavam iniciando uma greve de fome. O ímpeto para a greve foram os comentários do chefe do DHS, Jeh Johnson, que disse que a média de permanência em detenção familiar era de 20 dias - os grevistas de fome incluíam mães com filhos na instituição que estavam presas por quase um ano.

Carol Anne Donohoe, uma advogada de imigração da Pensilvânia e ex-presidente do Greater Reading Immigration Project, foi uma das advogadas das chamadas “Berks Mothers”. Nos últimos dois anos, Donohoe e seus colegas Jacquelyn Kline e Bridget Cambria tiveram uma experiência próxima das histórias dramáticas de quem está no centro de detenção.

A brasileira perdeu suas esperanças, mas disse que vai continuar tentando permanecer no país, pois teme pela vida dela e de sua filha.

Fonte: Brazilian Times

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