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Publicado em 9/12/2019 as 6:00pm

Travessia de refugiados inspira novo livro de Isabel Allende

O médico Víctor Dalmau, protagonista de Longa pétala de mar, de Isabel Allende, foi inspirado...

Travessia de refugiados inspira novo livro de Isabel Allende Escritora conta a história dos cerca de 2 mil espanhóis expulsos pela Guerra Civil nos anos 1930 e que foram acolhidos pelo governo do Chile na época(foto: PIERRE-PHILIPPE MARCOU/ AFP).

O médico Víctor Dalmau, protagonista de Longa pétala de mar, de Isabel Allende, foi inspirado no engenheiro e jornalista Víctor Pey, um dos espanhóis que saíram de seu país para fugir da Guerra Civil Espanhola rumo ao Chile. Pey, escolhido por Pablo Neruda para embarcar no Winnipeg rumo à América do Sul, acabou se tornando amigo do poeta e diplomata e, posteriormente, de Salvador Allende e de toda sua família. Foi Pey quem contou toda a história da travessia a Isabel, sobrinha do presidente deposto.

"Fui vê-lo no dia seguinte em que havia se instalado no consulado", contou Víctor Pey, ao relembrar o primeiro encontro com Neruda na França. "Ele tinha um secretário, Darío Carmona, que perguntou meu nome, minha profissão e quem formava o meu grupo familiar.

Neruda tomava notas em um caderno. Me pediu um endereço em Paris para poder ser avisado caso fôssemos escolhidos para integrar o grupo de espanhóis que viajariam ao Chile a bordo do Winnipeg. Tudo transcorreu em poucos minutos. Saí acreditando que havia sido um esforço em vão, pela distância humana, pela frieza com que Neruda me havia falado. Mas, em poucos dias, me chegou um telegrama urgente dizendo que a minha família e eu deveríamos embarcar no Winnipeg".

A história de Víctor Pey serve de base para todo o romance, lançado neste mês no Brasil. Assim como o protagonista do livro, ele deixou a Espanha fugindo do franquismo e, anos mais tarde, teve também que sair do Chile por causa do golpe militar que derrubou um governo de esquerda que havia sido eleito. Pey morreu em outubro do ano passado, aos 103 anos, seis dias antes de a escritora lhe enviar o manuscrito do novo romance, dedicado a ele.

Numa antiga entrevista, Neruda declarou: "Que a crítica apague toda a minha poesia, se achar por bem. Mas este poema, que hoje recordo, ninguém poderá apagar." O "poema" citado por ele não era uma de suas tantas obras literárias, mas, sim, essa façanha humanitária.
Há exatos 80 anos, mais de 2 mil espanhóis desembarcaram em Valparaíso para escapar da Guerra Civil Espanhola que dividiu o país entre 1936 e 1939. Os refugiados fizeram a travessia com a ajuda do governo chileno e, em particular, de Neruda. Como diplomata, o poeta foi o responsável por viabilizar a complexa missão, realizada já com a Segunda Guerra Mundial deflagrada.

Com o fim da guerra civil e a ascensão do franquismo, milhares de republicanos estavam vivendo em campos de refugiados na França em condições precárias. O presidente do Chile à época, Pedro Aguirre Cerda, nomeou Neruda cônsul especial para a imigração espanhola com sede na França.

Neruda, que já tinha sido cônsul em Barcelona e Madri, antes de chegar à França passou por Buenos Aires, Rosário e Montevidéu, onde pediu ajuda financeira de organismos de solidariedade argentinos e uruguaios.

DE CARGA A GENTE

O barco escolhido foi o Winnipeg, antigo cargueiro que não transportava mais do que 100 passageiros bem acomodados. Com algumas alterações, a embarcação ampliou sua capacidade para levar mais de 2 mil pessoas. "Desde o começo eu gostei da palavra Winnipeg", escreveu Neruda em setembro de 1969, ao comemorar os 30 anos da travessia. "As palavras têm asas ou não as têm. A palavra Winnipeg é alada.

A vi voar pela primeira vez em um porto perto de Bordeaux. Era um charmoso barco velho, com essa dignidade que os sete mares dão ao longo do tempo. É certo que aquele barco nunca tinha levado mais de 70 ou 80 pessoas a bordo. De resto, foi cacau, sacos de café e de arroz, minerais. Agora, estava destinado a um carregamento mais importante: a esperança."

Foi o próprio Neruda quem selecionou os passageiros. A recomendação era que levasse trabalhadores, mas o poeta resolveu incluir também na lista intelectuais e artistas. Um deles foi o engenheiro e jornalista Víctor Pey, que contou toda a história da travessia a Isabel Allende.

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