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Publicado em 16/01/2020 as 6:30pm

Jovem que perdeu couro cabeludo em pista de kart tem tratamento interrompido

Terezinha Tarcitano  Em uma entrevista exclusiva ao Brazilian Times, a jovem estudante e...

Jovem que perdeu couro cabeludo em pista de kart tem tratamento interrompido Débora, antes e depois do acidente.

Terezinha Tarcitano 

Em uma entrevista exclusiva ao Brazilian Times, a jovem estudante e auxiliar de ensino, de 19 anos de idade, Débora Dantas, falou sobre o acidente de kart que se envolveu em 11 de agosto de 2019. Ela teve o couro cabeludo arrancado. A pista em que ela e o noivo (Eduardo Tumajan) se divertiam funcionava em um supermercado de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. O casal havia pagado R$100 para dar 22 voltas na pista, mas na terceira volta o cabelo da jovem saiu do capacete e ficou preso ao motor do veículo.

Após passar por 20 cirurgias, entre Recife e São Paulo, a etapa de recuperação estética do tratamento, que estava prevista para este mês de janeiro de 2020, não aconteceu. O advogado especialista em indenizações, Eduardo Lemos Barbosa, foi acionado para assumir o caso.

O maior desejo de Debora é estudar para se tornar uma neurocirurgiã, ser “desenvolvedora da Ciência” e salvar muitas vidas. Este sonho foi momentaneamente interrompido por causa do tratamento, pois não teve condições de fazer o Enem. “Eu preciso melhorar porque sei que ainda vou salvar muitas vidas, é o meu sonho me tornar uma neurocirurgiã. Eu sei que vai valer a pena, pois eu sempre persisti nos meus sonhos. Quando o acidente aconteceu, inclusive, eu estava estudando e trabalhando”, afirmou, reiterando que sempre foi apaixonada pelos estudos.

Débora é órfã e perdeu a mãe aos 16 anos e, desde então, trabalha e estuda para conquistar o acalentado sonho, desde criança, de se tornar uma neurocirurgiã, desenvolvedora de tecnologia. Ela informou que no primeiro vestibular que prestou, em 2017, passou para outros cursos, mas não em Medicina. Na ocasião, ela trabalhava pela manhã, estudava no 3º ano do Ensino Médio à tarde e fazia cursinho à noite. Aos fins de semana, estudava francês e para o vestibular. Seu trabalho era cuidar de uma casa, uma vez que perdeu a moradia depois que a sua mãe morreu, e, muitas vezes, admitiu, sequer tinha o que comer. Assim, foi realizada esta troca: ela cuidava da casa para ganhar uma moradia.  

No ano de 2018, referiu que alguns professores a convenceram a entrar na Universidade em um dos cursos que eu tinha passado e, apesar de não ser o que queria, decidiu ingressar no curso de Administração da UFPE, contudo sem desistir do seu sonho de se tornar médica. Assim sendo, paralelamente ao curso, continuou a estudar para passar para o vestibular de Medicina, “com muita dificuldade”.

Só que daí surgiu um novo desafio. A proprietária da casa onde Debora cuidava e morava resolveu voltar à residência e ela teve que sair, antes mesmo de ingressar na Universidade de Administração. Perdida, sem ter onde morar, um amigo a ajudou a conseguir um lugar para residir por algum tempo, enquanto ela procurava por emprego. “Nesse meio tempo, eu trabalhei em diversas funções, como empregada doméstica, fazendo panfletagem etc. Eu passei em dois concursos públicos, em Pernambuco, mas, como eu não havia estudado para eles, fiquei fora das vagas. Eu queria insistir nos meus sonhos então, em janeiro de 2019, sai do curso de Administração e comecei a trabalhar em um Kumon como auxiliar de ensino e voltei a estudar para o vestibular com todo o gás”, revelou.

O maior apoiador da Debora em todo o processo do acidente foi o seu noivo, Eduardo, que, aliás, estava com ela no dia do acidente. Estamos muito traumatizados até hoje, inclusive com dificuldades para dormir”, admitiu. 

Quando Debora conheceu o Eduardo, em novembro de 2018, ela disse que estava muito confiante em passar no Vestibular, pois faltavam poucos pontos para atingir a sua meta, no ano 2019, e estava se dedicando muito para isso. “Era o meu ano, e no domingo do Dia dos Pais, 11 de agosto de 2019, nós decidimos, após tomar sorvete, ir ao supermercado, e lá eles ofereciam o serviço de kart no estacionamento. Após as compras, pensando em estar segura, fui andar de kart com o Eduardo. Infelizmente, na terceira volta, depois de duas batidas nos pneus, por falta de equipamento adequado, meu cabelo se soltou e o eixo do motor arrancou brutalmente o meu couro cabeludo, deixando meu crânio exposto”, lamentou.

Ao ser indagada sobre a ajuda prestada no momento do acidente, Debora admitiu que ela mesma teve que coordenar o seu próprio socorro. “Como se a situação não fosse infeliz o suficiente, todos foram embora, me deixaram para morrer, mas existe bondade nesse mundo. Calmamente me deitei no chão, pedi que o meu noivo se acalmasse e pedisse socorro. Logo após, percebi que o socorro não viria e eu sangraria até a morte naquele estacionamento, até que um anjo chamado Dimitri veio até nós e disse: coloca ela no meu carro porque ninguém vai ajudá-la aqui. 

Daí meu noivo esvaziou uma das sacolas de supermercado das compras que fizemos e nele colocou o meu rosto e meu couro cabeludo que estavam presos ao motor. Levantei e fui andando até o carro, apoiada nos braços trêmulos de meu noivo. Depois de aproximadamente 35 minutos para ser atendida, e de pressionar as minhas próprias veias expostas para não sangrar até a morte, chegamos ao hospital, onde supliquei por morfina, pois a dor estava insuportável. Eu sentia a minha pele arder como chama e respirava fundo aquele cheiro de sangue. Naquele momento, eu já não enxergava mais nada, apenas escutava enquanto os médicos ao redor disseram que o meu couro cabeludo era lixo e não servia para nada, quando meu noivo desmaiou e foi socorrido”, narrou.

Debora disse que ficou consciente durante todo o tempo todo e que se lembra de cada segundo, de cada sinal vermelho de trânsito que a impedia de chegar ao hospital, de cada pontada de dor do vento batendo na sua carne exposta. “Eu sabia de tudo o que estava acontecendo, e só pensava: Vai dar tudo certo, eu vou sobreviver. Os médicos não sabiam o que fazer, e meu noivo, quando acordou, ligou desesperadamente para todos os médicos que conhecia, na tentativa de achar alguém que recolocasse o meu couro cabeludo no lugar. Até que conseguiu localizar o Dr Jonatan Vidal, que abandonou todo o seu trabalho em, Caruaru, interior de Pernambuco, para ajudar a não somente salvar a minha vida, mas para também a dar qualidade a ela, restabelecendo a minha dignidade, o meu rosto e os meus amados cabelos loiros”, descreveu. Nos dois meses seguintes, Débora esteve internada em um hospital de Ribeirão Preto. 

Dias de hoje

Atualmente, Debora não está recebendo assistência adequada pela rede se supermercado americana (Walmart), onde aconteceu o acidente na pista de kart, no estacionamento. No dia 6 de janeiro, estava prevista uma viagem dela a Ribeirão Preto, em São Paulo, para dar continuidade ao tratamento cirúrgico e retirada dos pontos, o que não aconteceu. 

Débora lamenta que, embora tenha sobrevivido, perdeu tudo. Não pode mais pegar sol e viver a vida de forma normal e sofre com muitas dores. O advogado do caso, Eduardo Lemos Barbosa, afirmou que o Walmart negou à continuidade do tratamento. Segundo ele, a renúncia da rede de supermercados foi clara: só permaneceria custeando o tratamento se a vítima renunciasse aos direitos indenizatórios. “Como ela não aceitou a proposta, interromperam o prosseguimento das custas”, informou, destacando que, inclusive, foi cortado também o contato que a Debora mantinha com a assistente social.

Após esta decisão, a família do noivo de Débora resolveu entrar em contato com o advogado Eduardo Barbosa. Até então, lembrou o advogado, a sua cliente nunca havia pensado em indenização, mas, após esta proposta feita ao advogado anterior da Débora, a situação também mudou.

Segundo ainda Eduardo Barbosa, o tratamento não é uma benesse prestada, e sim uma previsão legal que está prevista no Código de Defesa do Consumidor como agente causador do dano. Fora isso, por conta das dores e da possibilidade de haver um processo inflamatório no local, Débora toma diariamente vários remédios, num custo semanal de R$ 500,00, e alguns medicamentos já estão deixando de ser enviados.

Diante do agravamento da situação, Eduardo Barbosa entrará com uma ação judicial indenizatória, nos próximos dias, levando em consideração a gravidade do caso. O advogado relatou ainda que a sua cliente parou de trabalhar e de estudar e trocou o dia pela noite, pois não pode sair no sol. “A vida dela está destruída enquanto a rede de supermercado continua faturando da mesma forma”, acentuou.

De acordo com o advogado, o tratamento corresponde a apenas um item do que a Débora tem direito. Ele lembra que ela sofreu um dano moral e precisa de um tratamento psicológico, além do dano estético, também com previsão legal. “O projeto de vida dela foi ceifado aos 19 anos de idade”, lembrou.

A jovem necessita retirar os pontos da cabeça e fazer o procedimento de lipoenxertia, uma técnica de cirurgia plástica que usa a gordura do próprio corpo para preencher, no caso, o couro cabeludo dela. “Eu mereço respeito, afinal eu era uma cliente e simplesmente me utilizei de um serviço oferecido, do qual me sentia segura. Estou muito abalada fisicamente e emocionalmente”, concluiu.

Eduardo Barbosa disse que vai lutar para sua cliente ter o melhor tratamento de saúde, no Brasil ou no exterior. Inclusive, ele lembrou que foi convocado o médico Marco Maricevich, da Universidade de Medicina Baylor, no Texas, EUA, para dar assistência para ela no Hospital de Ribeirão Preto devido à complexidade da situação. Diante disso, informou que ela teria direito a manter o mesmo tratamento para reparar o dano sofrido. Todavia, disse que, independente do local, o procedimento dela deve seguir o cronograma.

Antes do acidente
Depois do acidente
Débora com o noivo Eduardo Tumajan, esquerda, e o advogado Eduardo Lemos Barbosa
Foto tirada pouco antes do acidente

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