VÍTIMA DE ABUSOS: a história de Adriana Ferraz, que também é a de muitas mulheres

Há quem romantize sofrimento e afirme que ele faz parte do processo de evolução, mas esse não é o caso em questão. A história que vamos relatar aqui, não é uma história linda de superação, ao contrário, é uma história triste de anos de sofrimento, que felizmente teve um final feliz. Não era para existir, não devia ser assim, mas foi.

Tal como muitas outras mulheres, Adriana Ferraz passou por uma longa história de 12 anos de abusividade, tentativa de feminicídio, prisão injusta e perseguição.

Ela era casada e tem três filhas com seu abusador. Morava no Brasil quando alguns sinais já alertavam do perigo: ciúmes excessivos dos amigos; da roupa e até da família. O dinheiro era controlado por ele. Suas ações eram controladas por ele. Até que enfim, de pouco em pouco, ela não tinha controle sobre a própria vida.

Com isso, tentou se separar 7 vezes, mas após muitas ameaças e perseguição, ela sempre acabava voltando. Foi quando se mudaram para os Estados Unidos e a situação ficou ainda pior. As filhas passaram a presenciar agressões, ela estava distante de seu país de origem, sem ninguém em um país estrangeiro e para piorar ele controlava todas as finanças. Nem conta em banco, por exemplo, ela tinha.

Até que em um momento, desesperada e com ajuda de um amigo, começou a aprender inglês e tentar arrumar um emprego. Depois de uma agressão muito forte ela fugiu para Wisconsin, uma viagem de ônibus de 36 horas, em uma tentativa de salvar a própria vida e das crianças. Mas foi aí que a situação se tornou, simplesmente, ainda mais insuportável.

 

Acolhimento, prisão e perseguição

Quando se mudou para Wisconsin, o abusador tentou de todas as formas atrapalhar a vida dela. Utilizou um hacker para encontrar a localização; criou perfil fake para ameaçar, buscou judicialmente a separação para deixar o processo mais litigioso (sendo que eles nunca foram casados legalmente) e, é claro, no meio disso tudo tentou voltar e, na recusa, tirar a vida dela.

Cansada de tanto, ela denunciou, ele foi preso e 30 dias depois já estava solto, perseguindo novamente. Em uma longa batalha judicial e pela vida: continuava sendo ameaçada, temia por tudo; engravidou de seu novo namorado; e foi acolhida em um Shelter para violência doméstica em Brockton (Massachusetts), onde as pessoas acolheram tão bem que ela chama, carinhosamente, toda equipe de “girassol”.

Mas ainda assim as ameaças e o medo não paravam. Ela tentou fugir novamente para Wisconsin para se distanciar dele, mas foi presa acusada de sequestro das filhas, por ter fugido para outro estado. Ironicamente, um dos maiores motivos de tentar manter distância do ex era por temer pela vida das crianças.

Na prisão, basicamente ninguém acreditava que ela estava errada, todos sabiam que ela fez o melhor que podia por ela e pelas filhas, mas ainda assim: lá estava ela. Algemada. Transferida por aeroportos com todo mundo olhando, como uma criminosa. Enquanto isso, suas filhas ficaram sob proteção do estado e seu novo bebê, com o pai, ou seja, seu noivo. Em todo momento que esteve presa, o maior medo de Adriana era que as filhas ficassem com o pai biológico. Felizmente isso não aconteceu.

Em determinado momento, foi concedido a possibilidade de usar tornozeleira eletrônica e ela saiu do cárcere. Casou. Disse sim ao recomeço, abraçou todos que a apoiaram, mas ainda sem as filhas. Até que em setembro de 2020 recebeu uma ligação judicial que informava o encerramento do caso: era um grito de liberdade. O fim de uma fase pesada, regada de culpa e sentimentos que ela não deveria ter. De humilhações. De privação de liberdade e de nenhuma paz.

Ela, então, reencontrou as filhas, o noivo, o filho e as girassóis. E foi viver, bem e feliz, em outro estado, tentando se distanciar de toda essa história.

 

Quebra de silêncio como primeiro e maior passo

Nas palavras da vítima:

“Para conseguir se libertar de um relacionamento ou qualquer outra situação abusiva o principal passo é: quebrar o silêncio. Fala com alguém, um vizinho, um amigo ou até mesmo o seu médico (todos ajudam em sigilo) e claro ligar para o 911 e pedir ajuda. Posso lhe garantir que não são passos fáceis, mas vai ser importante, procurar um lugar seguro como um shelter de violência doméstica (tem vários no Estado de Massachusetts). É fundamental saber que não importa o seu status migratório, isso não importa, você pode e deve buscar ajuda e lembre-se: quebre o silêncio. Você pode, acredite em si mesmo e lembre-se que você não está sozinha”.

 

Livro e agradecimentos

Adriana tem planos de escrever um livro com essa história até o final do ano, objetivando ajudar outras mulheres a buscar ajuda e sair desse tipo de relação. Ela também afirma que nada disso seria possível sem uma rede de apoio tão importante.  "Agradeço sempre a toda equipe incrível do Health Imperative, a polícia de Brockton especificamente Office Fontes e Office Polynice, services do Estado de Wisconsin, amigos e familiares que sempre me apoiaram e agradeço a equipe do Brazilian Times por essa oportunidade de extrema importância”, finaliza.

Se você está passando por uma situação como essa: não hesite em procurar ajuda das autoridades, não se sinta culpada, pois a culpa nunca é da vítima. Assim como Adriana, você pode e vai sair dessa situação, nós acreditamos em você.

 

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