Coluna Francisca Benvenuto

Os riscos do empoderamento feminino

"O destino de uma mulher é ser mulher", Clarice Lispector.

Com essa frase, dessa autora simplesmente incrível e com uma visão maravilhosa sobre o que é ser mulher, iniciarei a coluna dessa semana. É que ela diz muito sobre tudo que ouvimos falar nos últimos dias, afinal, é comum que no mês de março todo mundo tente definir o que é ser mulher, qual o papel, o que seremos no futuro e o quanto precisamos nos empoderar. 

Mas afinal, qual nosso papel? Qual o nosso destino? Esse empoderamento é bom ou é ruim? Para mim, depende. A palavra empoderamento vem de 'dar poder'. Mas que poder é esse? É o poder de disputa de força ou é de novas possibilidades? De luta pela igualdade social? Digo igualdade de receber o mesmo salário se estiver no mesmo cargo e com a mesma capacidade; de denunciar casos de violência doméstica etc. 

Porque quando entramos em um cenário de disputa pelo poder só por ter o poder, nós estamos tratando de uma competição. Não é sobre conquistar algum espaço e ser reconhecida, sobre ser feliz ou igual; é sobre ganhar enquanto o outro perde. E desde quando isso pode ser considerado algo bom? Para o meu mapa moral, essa forma de empoderamento nunca pode ser boa.

Há exemplos na história de mulheres que conquistaram o mundo sem incitar nenhum tipo de disputa, sem precisar ser maior que ninguém ou ganhar enquanto outros perdem. Dois grandes exemplos são os de Coco Chanel e Clarice Lispector. A primeira fundou a Chanel há quase 140 anos atrás e seu legado permanece até hoje. Mas ela nunca utilizou da autoridade em excesso para conquistar algo, tampouco precisou ganhar enquanto outro perdia: seu empoderamento se disse respeito apenas a ela. A acreditar que podia ir lá, fazer e ponto.

A Clarice, por sua vez, é um dos maiores nomes da literatura Brasileira e sempre enxergou a mulher como um ser provido de total capacidade, mas com características únicas como uma maior capacidade de afeto, de sentimento e ternura, o que automaticamente já retira qualquer possibilidade de competição com os homens, afinal: eles são eles, nós somos nós. Únicos. Ambas pensavam e praticavam o empoderamento consciente, sem riscos de disputa, sem chances de se tornar apenas uma competição por poder.  

E é justamente esse o maior risco do empoderamento feminino como vem sido discutido nos tempos de hoje: que a busca pelo poder, por ganhar a custa de tudo e de todos, minimize nosso destino de ser mulher. De ser forte por natureza, de gerar um novo ser, de ser o lado mais afetuoso do lar e de ser humano, afinal. 

Por isso que eu defendo o "Apoderamento". Defendo que as mulheres precisam se apoderar dos meios, precisam descobrir a força que tem dentro de si e serem “donas” do próprio destino de ser mulher, sem competição e sem passar por cima de ninguém. Meu desejo é que todas despertem tanta confiança interna, tanto amor e cuidado, que nada além disso importe. 

Dica de livro

Só para mulheres: Conselhos, receitas e segredos

Sinopse:
Se as angústias e sofrimentos morais, tão presentes na literatura de Clarice, ficam de fora das colunas, que tratam mais objetivamente de questões do dia-a-dia, a escritora põe, aqui e ali, considerações que vão além do óbvio e mexem com o íntimo de cada leitora. Só para mulheres faz uma verdadeira viagem no tempo em que se desenha, na forma de um variado almanaque, o rosto da mulher brasileira dos “anos dourados”. E tudo isso num tom de conversa entre amigas, como prescreve o jornalismo feminino.

PÉROLA DA CHICA

Tire sua capa de mulher maravilha e vista-se de você. Chorar faz parte, quer seja de felicidade ou de dor. 

O importante é ser você. Não vejo vantagem em ser GUERREIRA, ARRETADA, PODEROSA OU HEROÍNA, a vantagem está em SER o que quiser ser. Este é o segredo, ser o que quiser ser, nunca ser o que os outros querem que sejamos. 

Mulher sangra o corpo e a alma, sem feridas aparentes e mesmo assim, continua de pé pra fazer o café pra quem quiser, com ou sem açúcar?

@franciscabenvenutooficial