Brasileiro conta como entrou nos EUA na carroceria de um caminhão

Nos últimos meses milhares de brasileiros foram detidos ao tentar atravessar a fronteira dos Estados Unidos com o México. Muitos tentas entraram no país através do sistema “cai-cai”, outros caminharam pelo deserto e alguns entraram nas terras do Tio Sam escondidos na carroceria de caminhões, em bagageiros de carros utilitários e no assoalho de camionetes.

Em Massachusetts, todos os dias chegam dezenas de brasileiros e a grande maioria viveram mais do que uma simples aventura na travessia. Muitos enfrentaram situações que poderiam ter levado à morte. O excesso de calor em algumas regiões fronteiriças, a falta de água e comida são os fatores de maior risco.

No sábado, o Brazilian Times recebeu a visita de André (nome fictício a pedido do entrevistado). Ele, que é amigo de um leitor e amigo de alguns funcionários do jornal, está na lista dos brasileiros que entraram nos Estados Unidos por rotas perigosas e algumas vezes teve medo de morrer.

De acordo com ele, de São Paulo até a Cidade do México tudo correu bem e a viagem parecia tranquila. Mas depois de chegar a Ciudad Juarez, no estado mexicano de Chihuahua. “Lá, nós fomos levados para uma casa afastada do centro e ficamos por uma noite”, disse. “Depois nos levaram até um local deserto onde havia poucas casas e as que existiam eram feitas de palha, barro e madeira”, lembra.

André, que saiu da região do Vale do Aço, em Minas Gerais, disse que o grupo de cinco pessoas (apenas ele era brasileiro) ficou neste local por dois dias, sob um calor intenso e comendo apenas pão e água. Depois, eles foram levados a uma estrada próxima à fronteira onde esperaram, escondidos, a chegada de um caminhão baú. “Quando o carro chegou, nós entramos na carroceria e nos trancaram lá dentro”, contou.

O mineiro não sabe quanto tempo ficou dentro do veículo, nem por onde passou, mas se lembra que o caminhão parou em um grande estacionamento, numa fábrica abandonada. De lá, ele foi colocado em uma minivan e seguiu para o seu destino, a cidade de Everett, em Massachusetts. “Graças a Deus tudo deu certo, mas eu vivi momentos horríveis, principalmente durante o tempo que fiquei trancado na carroceria”, disse.

“Uma das maiores agonias foi pensar que nós poderíamos ser abandonados no meio do nada, trancado naquela carroceria, sem conseguir sair”, lembra. Também ficamos com medo de morrer, pois havia pouca água e o calor era intenso. Tiramos a nossa camisa para refrescar e mesmo assim continuávamos a suar. Isso me causou uma forte dor de cabeça”, conta.

André disse, ainda, que teve um momento em que o caminhão parou, o motorista bateu na lataria traseira e mandou todos ficarem quietos. “Acho que ficamos parados neste local pelo menos uma hora e meia. Parecia ser um estacionamento de algum posto de gasolina e o homem deve ter ido comer algo. Mas ninguém se importou se estávamos com fome ou sede, pois neste momento a água que tínhamos já estava sendo controlada”, relata.

Um dos imigrantes, possivelmente de El Salvador, desmaiou durante o caminho e quando uma pessoa usou um pouco da água para ele acordar, começou uma pequena discussão. “Apesar de não ser nada grande, foi um momento tenso”, disse.

Quando o veículo chegou no estacionamento onde os imigrantes saíram, André lembra que duas pessoas estavam esperando em dois veículos e que eles gritavam para que todos se apressassem. Também ficavam olhando para os lados com medo de serem descobertos. “Quando sai daquele caminhão foi uma sensação de vitória, mesmo não tendo completado a viagem. Eu estava vivo e isso era o que me importava naquele momento”, disse.

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