Publicado em 18/11/2022 as 2:00pm
ESCRITORA MINEIRA É RECONHECIDA NA EUROPA E ESTADOS UNIDOS
POETISA MÁRCIA ROCHA LANÇA SEU PRIMEIRO LIVRO DE POESIAS: MESA AMARELA
Márcia Rocha é mineira, nascida e criada em Guanhães, uma cidade que tem uma raiz cultural profunda, berço de grandes artistas, poetas, poetisas, músicos, instrumentistas.
Fruto dessa terra, Márcia há 21 anos vive nos Estados Unidos, saiu de lá pela necessidade de criar os filhos com dignidade. “Sou uma mãe viúva, mãe de dois filhos, uma professora formada em Letras e Biologia, sempre trabalhei em escolas, mas infelizmente não tinha um salário condizente com o trabalho que desempenhava e não me permitia criar os meus filhos da maneira que sempre sonhei. Eu vim para ficar por dois anos, imaginando que conseguiria resolver mil coisas, porque ouvindo os outros parecia ser fácil ganhar os dólares e resolver a vida e esses dois anos tornaram-se 21 anos completos na América. Meus filhos ficaram um tempo longe de mim, mas eu consegui trazê-los e estamos aqui com a nossa situação regularizada, temos cidadania americana. Meus filhos Hygor e Willian são honestos e trabalhadores, têm a empresa deles e eu tenho a minha escolinha e vamos rompendo pela fé. Está dando tudo certo até então, graças a Deus. Meus filhos são meu tesouro, o resultado também da minha mãe, de muita luta para criá-los, para educá-los, para fazê-los verdadeiros cidadãos para o mundo e homens para Deus. Graças a Deus eu consegui. Meus filhos são homens que não tem vícios que possam depor contra a integridade deles, eles não bebem e não fumam. Isso para mim é uma relíquia, uma riqueza muito grande tê-los e saber o quanto eles me respeitam, o quanto me cuidam”.
Sobre a carreira literária, Márcia escreve desde 8 anos de idade por influência da sua mãe que era cozinheira de restaurantes, lavava roupas para as pessoas da cidade e toda tarde quando chegava em casa, além dos afazeres domésticos, lia histórias para a pequena Márcia que exigia este carinho. “Ela levava os jornais dos restaurantes para minha casa e fazia a leitura de histórias do jornal para mim, depois eu descobri que as histórias não estavam no jornal. Ela inventava, ela criava as histórias! Com o passar dos anos minha mãe já não tinha tempo para me dar esta atenção. Era uma mãe com apenas a 4ª série primária que sempre se dedicou à nossa educação, ela sempre falava que nós iríamos estudar, que nós iríamos nos formar. Então ela sempre olhava os nossos cadernos e as nossas atividades, ou seja, acompanhava nosso “dever de casa” e não sobrava muito tempo para ler. Um dia ela falou comigo: minha filha você é muito inteligente, comece a escrever seus livros, porque aí você é que vai ler para a meninada aqui da rua”.
A escritora conta que as crianças da rua iam para a sua casa fazer as atividades escolares porque ela tinha os livros e a maioria não tinha. “Eu era uma menina da favela, mas como a minha mãe trabalhava em restaurantes conhecia muita gente, todos sabiam da nossa história de luta, muitas pessoas contribuíam com o material escolar e como nós tínhamos as outras crianças da rua participavam com a gente”.
Márcia fala com orgulho que foi a partir desse incentivo da mãe que começou a ler e a escrever. “Eu olhava para a estrela e achava que estava escrevendo um poema maravilhoso, e na escola os professores descobriram que eu gostava muito de escrever. Eu estudava na Escola Estadual Padre Café e a minha professora Dona Maria do Carmo Borba, uma pessoa maravilhosa, me incentivou demais a escrever. O lindo desta história é que um dia ela falou comigo: “Minha filha, eu ainda vou ler um livro seu”. Eu achava aquilo uma coisa do outro mundo. Como eu vou escrever um livro?”
A profecia se concretizou e em julho de 2022, Márcia lançou o seu primeiro livro no Brasil. Como gesto de gratidão foi à casa da professora levar o livro que escreveu.
O gosto pela arte de escrever sempre existiu, contudo, a falta de incentivo financeiro fez com que somente agora aos 64 anos Márcia tivesse oportunidade de lançar seu primeiro livro. “Precisei estar aqui e depois de 21 anos ter condições financeiras de pagar uma editora para que eu pudesse ter o meu “filho” nas minhas mãos. Lancei “Mesa Amarela” e estou trabalhando no segundo que se chama “Fazimentos de um Girassol” que está pronto e em breve será apresentado à comunidade”.
O livro Mesa Amarela será apresentado em Worcester no dia 04 de fevereiro de 2023. “É um livro de poesias, eu sou muito memorialística, me lembro das histórias do passado, as coisas que nós vivemos, as dificuldades, acho tudo lindo e aí eu transformo em poesia. Nenhuma dificuldade que passei gerou revolta, então eu escrevo tudo com sentimentos. São poesias”.
Em suas palavras finais Márcia deixa uma mensagem de incentivo. “Eu não sou uma pessoa especial, mas sei que sirvo de inspiração para muita gente. Primeiro pelo lugar onde nasci. Eu nasci na favela, as pessoas não acreditavam, mas a minha mãe acreditou em mim. A minha mãe me incentivou, e eu adquiri dela essa força. O conselho que deixo é o seguinte: Nós não podemos nos deixar levar pelas pessoas que não acreditam em nós. Eu acho que não acreditar em mim é um grande desafio para que eu prove o contrário. Então, o meu conselho é: Nós devemos persistir, insistir e nunca desistir, porque os nossos valores não precisam ser vistos aos olhos dos homens, eles precisam ser vistos aos olhos de Deus. Gravar no interior, gravar no coração que nós somos seres capazes, e através dessa força, desse querer, dessa vontade é que cada um vai atingindo os seus objetivos. Eu tenho 64 anos de idade, comecei a escrever aos 8 anos e somente agora estou lançando o meu primeiro livro. Quem quer vai e faz”!
Márcia foi e fez! A escritora foi laureada como destaque na Literatura, durante a 7ª edição do prêmio Top Of Mind International, em Londres. O objetivo desse prêmio foi reconhecer talentos da comunidade brasileira na Europa e ao redor do mundo.
Guarde essa data, 04 de fevereiro de 2023, e venha conhecer mais da Guanhanense “que ama histórias, vive delas e é parte delas”.
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Fonte: Eliana Marcolino
