Filho de brasileiros eleito para o Congresso dos EUA admite ter mentido sobre faculdade e histórico profissional

Encerrando um silêncio de uma semana, o deputado eleito para o Congresso dos Estados Unidos, George Santos, admitiu na segunda-feira, dia 26, uma lista considerável de falsidades sobre sua formação profissional, histórico educacional, experiência empresarial e propriedade.

Santos, um republicano de New York eleito em novembro para representar partes do norte de Long Island e do nordeste do Queens, confirmou algumas das principais descobertas de uma investigação feita pelo New York Times sobre seu passado, mas procurou minimizar as deturpações.

“Meus pecados são ter embelezando meu currículo”, disse Santos ao The New York Post em uma das várias entrevistas que concedeu na segunda-feira.

Santos, que é filho de brasileiros, admitiu ter mentido sobre sua formatura na faculdade e feito alegações enganosas de que trabalhava para o Citigroup ou para o Goldman Sachs. Certa vez, ele disse que tinha um portfólio imobiliário familiar de 13 propriedades; na segunda-feira, ele admitiu que não era o proprietário.

Santos, o primeiro republicano abertamente gay a ganhar uma cadeira na Câmara, também reconheceu que deve milhares de aluguéis não pagos e um casamento com uma mulher que ele nunca revelou.

“Eu namorei mulheres no passado. Eu casei com uma mulher. São coisas pessoais”, disse ele ao The Post, acrescentando que estava “OK com sua sexualidade e que pessoas mudam".

Ele também reconheceu que uma série de dificuldades financeiras o deixou devendo milhares a proprietários e credores. Mas falhou em explicar como sua sorte mudou tão significativamente que, em 2022, conseguiu emprestar US$ 700.000 para sua campanha no Congresso.

Santos também negou veementemente ter cometido um crime, embora o The Times tenha descoberto registros judiciais brasileiros mostrando que ele havia sido acusado de fraude quando jovem depois de ter sido pego preenchendo cheques roubados.

“Não sou um criminoso aqui, nem no Brasil, nem em qualquer jurisdição do mundo”, disse ele.  Mas documentos da justiça brasileira, Santos é identificado pelo nome completo e data de nascimento, bem como pelos nomes da mãe e do pai. Os documentos mostram que ele confessou o crime e foi indiciado, mas que o caso continua sem solução porque as autoridades não conseguiram localizá-lo posteriormente.

Nas entrevistas na segunda-feira, Santos também denunciou reportagens da CNN e do The Forward, uma publicação judaica, de que ele pode ter enganado os eleitores sobre seu relato de sua ascendência judaica, incluindo que seus avós maternos nasceram na Europa e emigraram para o Brasil durante o Holocausto.

“Nunca afirmei ser judeu”, disse. "Sou católico. Como descobri que minha família materna tinha origem judaica, disse que era 'judeu'”.

Ao longo de sua campanha, Santos afirmou ter se formado no Baruch College em 2010 antes de trabalhar no Citigroup e, posteriormente, no Goldman Sachs. Uma biografia no site do Comitê Nacional Republicano do Congresso disse que ele frequentou a Baruch e a New York University e se formou em finanças e economia.

Mas as faculdades e empresas não localizar registros para verificar as alegações.

Na entrevista de segunda-feira, Santos admitiu que não se formou no Baruch College ou em qualquer faculdade. “Não me formei em nenhuma instituição de ensino superior. Estou envergonhado e arrependido por ter enfeitado meu currículo”, disse, acrescentando depois: “A gente faz besteira na vida”.

Ele também admitiu que nunca trabalhou diretamente para o Goldman Sachs ou o Citigroup, culpando uma “má escolha de palavras”.

No entanto, as declarações anteriores são relativamente claras. Uma versão arquivada do antigo site de campanha de Santos preservado pelo Internet Archive's Wayback Machine diz que ele “começou a trabalhar no Citigroup como associado e rapidamente avançou para se tornar um gerente de ativos associado no mercado real de ativos da empresa”.

Mas na segunda, ele justificou que lidou com as duas empresas por meio de seu trabalho em outra empresa, a LinkBridge Investors, que conecta investidores a clientes em potencial. A LinkBridge, disse ele, tinha “parcerias limitadas” com as duas empresas de Wall Street.

O Times conseguiu confirmar o emprego de Santos na LinkBridge. Mas em uma versão de sua biografia de campanha publicada em abril, Santos sugeriu que havia começado sua carreira em Wall Street no Citigroup e que esteve no Goldman Sachs antes de seu tempo no LinkBridge.

Os democratas - incluindo a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o próximo líder da minoria democrata na Câmara, o deputado Hakeem Jeffries, de Nova York - sugeriram que Santos não está apto para servir no Congresso. Os principais líderes republicanos da Câmara, incluindo o deputado Kevin McCarthy, da Califórnia, permaneceram em silêncio.

A Câmara só pode impedir que candidatos tomem posse se violarem os requisitos constitucionais de idade, cidadania e residência estadual. Depois de assumir o cargo, no entanto, Santos pode enfrentar investigações éticas, de acordo com especialistas jurídicos.

 

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Fonte: Da redação