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Publicado em 20/01/2023 as 11:00am

Rita Mendes é empossada deputada estadual em Massachusetts pelo 11º distrito de Plymouth, em Brockton

“Eu sou o que sou porque consegui estudar, cheguei aqui sem falar inglês como todo mundo, eu tive esta oportunidade de estudar, estou pagando o meu financiamento até hoje, mas eu tive essa oportunidade” (Rita Mendes).


Rita Mendes é formada em Ciências Políticas pela Massasoit Community College e UMass Dartmouth, completou o curso de Direito na New England Law

 

O Brazilian Times fará uma série com três entrevistas exclusivas, com as deputadas brasileiras e o deputado, brasileiro do estado de Massachusetts. Nesta entrevista conversamos com Rita Mendes, que nos conta um pouco da sua história e fala sobre a sua experiência na política, nos Estados Unidos.

Como diz a poeta Elisa Lucinda “Tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz”. A humanidade tem vivido tempos bem difíceis no cenário político, a era do extremismo marcada por violência e radicalismos, mas isso não intimida as pessoas que têm na veia a vontade de ajudar o semelhante. A comunidade brasileira que vive no Estado de Massachusetts, pode celebrar a representação de brasileiros na State House, ou seja, na Casa Legislativa do Estado. Agora são três representantes da nossa comunidade, duas brasileiras e um brasileiro que ocupam acento na casa legislativa: Rita Mendes, Priscilla Souza e Danillo Sena.

Rita Mendes é formada em Ciências Políticas pela Massasoit Community College e UMass Dartmouth, completou o curso de Direito na New England Law School. A deputada é advogada e atua como vereadora na cidade de Brockton. Rita nos conta um pouco da sua trajetória e fala de seus projetos a serem apresentados na Casa Legislativa. Rita é de Conselheiro Pena, MG. Há 21 anos vive nos Estados Unidos. É casada e tem dois filhos. É uma mulher simples, calma, muito persistente e conciliadora.

Brazilian Times: Como você está se sentindo como deputada, aqui no território Norte Americano?

RM: Tem uma semana que tomamos posse. Agora que recebi meu computador, quando abro meu Email, já encontro várias pessoas querendo agendar reuniões e fazer entrevistas. Por isso, somente agora parece que a ficha começa a cair. Naquele primeiro momento, que a gente ganha a eleição e passa pelo processo de transição, parece que a gente fica um pouco perdido não se dá conta da realidade. Agora que estou lá, tentando me inteirar de tudo, preciso preparar projetos de lei, tudo que requer o meu cargo, começo a sentir o peso da reponsabilidade.  Ou seja, tudo que é dado, é muito requerido. Meus eleitores estão na expectativa. Eles querem um retorno, então fica esta responsabilidade nas mãos da gente. É indescritível o sentimento, a honra de poder fazer parte dessa banca legislativa que é a mais antiga dos Estados Unidos, no estado de Massachusetts. Aqui é o berço da democracia. É uma grande honra para mim, ter um acento nesta casa para poder representar os imigrantes e as demais pessoas que não tem uma representatividade.

Rita Mendes com amigos e familiares

BT: Qual é a sua maior preocupação como deputada? Qual seria a sua bandeira política?

RM: É poder trazer igualdade para todas as pessoas, principalmente para a cidade de Brockton que é muito humilde e carente, uma população com várias necessidades. É uma comunidade de imigrantes muito grande. Muitas vezes essas pessoas não têm acesso à informação. São coisas básicas. Por causa da pandemia teve projetos para ajudar as pequenas empresas, e as empresas dos imigrantes que estavam na linha de frente muitas vezes não se qualificavam, ou eles não sabiam dar entrada para o processo e poder receber esses recursos do governo. Assim como, os pais das crianças na escola que não conseguem acompanhar os estudos delas por causa da língua. Ou mesmo quando um imigrante comete uma infração no trânsito, e tem que fazer aulas. Queremos que esses cursos sejam oferecidos em português. A cidade de Brockton é formada por um número expressivo de cabo-verdianos, haitianos e angolanos, muitos falantes da língua Portuguesa.

É importante estarmos lá na Casa Legislativa para garantir recursos para implementarmos serviços e ajudar a comunidade em geral. A questão da violência doméstica é muito grande, infelizmente.  A verba para o combate à violência doméstica foi cortada na última sessão, para a cidade de Brockton. Queremos que, todas as vezes que for fazer a verba do estado, já incluir para a cidade de Brockton, porque é uma cidade que precisa muito. A gente percebe que, a nossa cidade está recebendo somente as migalhas e não tem aquela representação para brigar e pedir recursos de verdade, para fazer a diferença na vida das pessoas, é um desafio muito grande.

BT: Como foi a sua campanha, qual foi o seu maior desafio?

RM: O maior desafio foi que o distrito que eu concorri é novo. A maioria das pessoas é composta por minoria. Eles deram este distrito exatamente para uma pessoa das minorias tomar posse na cidade de Brockton. Pelo fato de que a maioria dos moradores ou é angolano, cabo-verdiano ou haitiano. Existia essa expectativa de que a pessoa que iria ocupar esse acento seria da comunidade cabo-verdiana ou haitiana. Teve toda esta questão de falar que não sou da minoria suficiente, porque sou brasileira. E o número de brasileiros documentados que podem votar nesta região é mínimo. Realmente dependi dos votos deles. Minha campanha foi batendo nas portas e conversando com as pessoas. Sou conhecida pelo meu trabalho de vereadora ajudando as pessoas. Consegui ganhar, e ganhar bem, na cidade.

Sinto-me honrada em saber que mesmo não sendo cabo-verdiana, nem haitiana as pessoas se sentem confortáveis em falar comigo e saber que irei representá-las, independente de país que são, eu estarei lá representando elas. 80% dos habitantes da cidade são negros. Teve um haitiano e uma Libanesa concorrendo comigo ao mesmo cargo.

Rita Mendes à esquerda e a vice governadora Kim Driscoll à direita

BT: Qual seria a diferença entre ser deputada aqui nos EUA e no Brasil?

Eu vim para os EUA muito nova, vim com 12 anos. Estudei High Scholl e faculdade, tudo aqui. Não acompanho muito a política no Brasil, mas fui lá recentemente no final do ano. Pelo que percebi é uma forma diferente, parece-me que lá o estado todo vota para aquele candidato. Aqui são 160 deputados em Massachusetts, mas cada deputado toma uma cadeira e representa o seu distrito, então eles desenham um mapa do distrito em que a população é uma média de 45mil pessoas e as pessoas que moram naquele distrito é que pode votar na gente. Quem mora em Brockton no distrito 11, no condado de Plymouth, são os que veem  meu nome na cédula. Mas quando a gente faz as leis, vai afetar o estado como um todo. No final, cada um briga para levar o máximo para a cidade que representa, mas no geral o que a gente faz afeta o estado inteiro. Isso é melhor porque temos o acesso direto com o eleitor. Você pode conversar com um a um, bater na porta do eleitor e ver o que ele está querendo de mudança e aí trabalhar nessas questões.

Sobre o salário, eu ainda não recebi, posso falar como vereadora que recebe um salário simbólico, o valor de 15mil dólares por ano. O salário de um deputado aqui gira em torno de 70 mil dólares por ano, ou seja, uma média de cinco mil dólares por mês. Ele pode receber alguns bônus de acordo com os comitês que ele pega para trabalhar. Recebe um pouco mais por cada comitê, então o salário varia de acordo com a função que está exercendo, não é um valor específico que todo mundo recebe igual. Se comparado com o salário de um deputado brasileiro é uma grande diferença.

 BT: Quanto tempo dura um mandato? 

RM:O mandato aqui é de dois anos. O maior desafio é entrar, e a primeira reeleição é o grande teste da sua performance. As pessoas avaliam como você está agindo no seu trabalho, daí o povo vai poder me dar a nota, se é me reelegendo ou me mandar de volta pra casa.

Rita Mendes à esquerda com a prefeita de Boston Michelle Wu

BT: Como você avalia a invasão dos bolsonaristas nas sedes dos três poderes, em Brasília?

RM: Eu levei um choque porque a gente que conhece o povo brasileiro ver aquelas cenas, parece algo inacreditável. Mas o que chamou a atenção é ver o quanto os EUA têm esse poder no mundo, eu acredito que o 8 de janeiro só aconteceu porque teve o 6 de janeiro em 2021 aqui nos EUA. Então é o exemplo que a gente deixa de uma democracia ou da falta de democracia, tomar o poder de forma não democrática. É algo que também é uma responsabilidade nossa aqui nos EUA, quando a gente faz algo aqui, o mundo todo está olhando. Infelizmente esse exemplo que o Brasil tomou, foi o pior que poderia tomar, então a gente que está aqui neste país que viu as coisas horrorosas do dia 06 de janeiro, ver todas as consequências que está acontecendo por causa daquele atentado. Quem está de fora, parece que não vê a imagem por completo. Só veem aquela imagem da invasão, mas não tem noção das consequências dos seus atos.

Nem sei como colocar em palavras essa coisa tão absurda. Querendo ou não, os culpados são os americanos que colocaram esse exemplo para o mundo. Espero que pare no Brasil, o meu medo é que isso se espalhe para o mundo, para outras nações. O mundo em geral começar a questionar os resultados das eleições, e achar que o processo só é legítimo se eu ganhar. Isso é muito absurdo.

É muito triste ver o mundo inteiro falando sobre o Brasil, mas não é sobre o futebol, estão falando sobre algo tão abominável. Tão semelhança da linha do tempo que aconteceu nos EUA, aconteceu no Brasil. Aqui as eleições são em novembro, e no Brasil no finalzinho de outubro. O ataque aqui foi na primeira semana de janeiro, e no Brasil também na primeira semana de janeiro. Parece que eles quiseram imitar os Estados Unidos da forma mais absurda possível. Eu não reconheço o povo brasileiro fazendo isso, que é um povo tão amigável e tão feliz, que é um povo tão carismático. É um povo da paz, que nunca está em guerra. Agora está uma guerra civil, uma guerra entre o povo. É uma cena que eu nunca imaginei ver do meu país, se alguém me contasse eu nunca iria acreditar.

Como nós vamos recuperar e refazer a luta que o país já vive, poder investir recursos para reconstruir esses prédios, todos os danos que eles causaram. É triste saber que tem tantas pessoas precisando de ajuda. Ao invés de investir os recursos para quem realmente precisa, ter que lidar com pessoas que não aprenderam a perder. E o pior, eles acham que é bonito postar nas redes sociais, fazer selfie, sem nem tapar a cara, como se fosse um orgulho. Isso é muito triste, muito triste mesmo!

BT: Diante desse cenário, o que te motivou a entrar na política?

RM: A gente tem sempre que acreditar que a gente tem que fazer a diferença. Não milagres, não precisa ser grandes coisas. Mas a gente poder fazer a diferença na vida das pessoas que estão passando por momentos difíceis, isso pode se tornar uma bola de neve e um movimento de pessoas que fazem o bem. Eu acredito que na humanidade nós temos mais pessoas para fazer o bem do que esses extremistas, essas pessoas radicais são a minoria e a gente dá voz para essas pessoas. Nós somos a maioria, o normal é um ajudar o outro, é querer o bem um do outro,é querer estar ali vivendo na sociedade em comum e em paz.

A gente tem que estar sempre com foco, qual que é o meu propósito de estar aqui? Qual é a diferença que eu vou poder fazer na minha cidade? Qual é a diferença que posso fazer no meu estado? Qual é a esperança que eu posso deixar para as crianças na escola, para elas acreditarem em um futuro melhor, porque nós estamos lutando por um futuro melhor das crianças. Nós não podemos perder a esperança, o bem vai sempre vencer o mal, independente dos momentos difíceis que estamos vivendo nós vamos conseguir vencer, e quanto mais a gente se manter unido e seguir pra frente, nós vamos conseguir fazer a diferença. A gente não consegue fazer nada sozinho, mas tendo aliados com pessoas que querem lutar a mesma luta. A gente vai conseguir chegar. Mas é triste de ver tanto ódio, tanto racismo, que é inacreditável, a gente lutou tanto nesse país para termos direitos iguais, pra poder ter os direitos civis, estamos celebrando Martin Luther King, que lutou e morreu por esta causa, nós vamos ter que continuar a nossa luta. Nós não podemos deixar essas poucas pessoas tomarem todo esse espaço e nos distrair para   achar que não vamos conseguir.

Rita Mendes à esquerda com a governadora Maura Healey

BT: Quais são as suas expectativas com o seu mandato?

RM: O primeiro ano é bem difícil. Como nós acabamos de entrar, ainda não tenho o meu escritório. Ficamos todos juntos na mesma sala. Navegar este planeta do State House, já é por si um desafio muito grande. A outra forma é de colocarmos projetos de lei.

A primeira proposta de lei que eu gostaria de apresentar é a questão de as escolas comunitárias poderem ser de graça para os alunos que terminaram a High Scholl, e de poderem fazer a faculdade comunitária e a faculdade de 4 anos. Muitos alunos que não são americanos pagam uma taxa a mais. Queremos manter para os jovens que não tem a documentação poder pagar o mesmo valor que o cidadão americano e não ter que pagar mais caro para entrar na faculdade. Queremos manter o estudo acessível para esses jovens poderem continuar, porque muitas vezes eles não conseguem fazer o financiamento e para eles estudarem o pai precisa tirar uma segunda renda na casa para ter dinheiro de pagar a faculdade. Quero trabalhar de alguma forma para poder fazer a escola acessível para todos.

Aqui não é igual ao Brasil que a pessoa passa no vestibular e tem a faculdade de graça, as faculdades aqui são todas pagas. Inclusive a UMass que é estadual, mas tem os valores das mensalidades iguais ao de uma faculdade particular. É um absurdo um país que é uma potência igual aos Estados Unidos e a gente não consegue dar acesso à educação para os jovens. Terminou a High Scholl, acabou. Então para a gente poder abrir as portas para esses jovens. Ter um diploma da High Scholl hoje não é nada.

O outro projeto é de expandir a escola técnica para esses jovens que não querem fazer a faculdade, pelo menos terem uma profissão, eles podem sair qualificados como: encanador, eletricista, carpinteiro. São profissões que aqui nos Estados Unidos ganha muito bem, ele pode fazer parte da união, que é do sindicato para receber benefícios e ter um salário digno. Infelizmente a faculdade não é para todos.

 BT: Deputada qual mensagem você gostaria de deixar para os seus eleitores?  

RM: Saber que estou honrada em poder servir a comunidade, não só de Brockton, mas também de Massachusetts. A comunidade imigrante, a comunidade que o inglês não é a primeira língua e que muitas vezes não tem esse acesso à informação. Esse acesso ao State House. Saber que somos nós três lá: Eu, Priscilla e Danillo. Nós vamos nos unir para trabalhar bastante para a comunidade imigrante. Também vamos buscar informações sobre os tipos de verbas, benefícios e leis. A lei da carteira de motorista foi um projeto de deputados antes de mim, mas que o Danillo Sena teve a oportunidade de votar e ajudou a aprovar. São coisas que parecem impossíveis, mas se continuarmos lutando, um dia a gente consegue. Quando a gente não desiste a gente chega lá. Estamos aqui para lutar por todos vocês, estamos aqui e não vamos desistir, temos essa missão de ajudar a todos. É o nosso futuro, se não investirmos hoje, nós vamos perder uma geração. Vamos perder grandes potenciais.

Rita Mendes e o esposo Paulo de Paiva

 



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Fonte: Eliana Marcolino

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