Chegou o Classificado do Brazilian Times. Divulgue ou busque produtos e serviços agora mesmo!

Acessar os Classificados

Publicado em 27/07/2023 as 5:00pm

Como Viver num Mundo Onde até a Boneca Barbie Tem Crises Existenciais

Coluna Viver Bem em NY por Liza Andrews


BARBIE existential crisis by Liza Andrews

O filme Barbie que estreou dia 21 de julho, tem atraído milhões de expectadores em todo o mundo, e causado furor com questões sobre papéis sociais, identidade, e principalmente a pergunta: o que realmente precisamos para sermos felizes?

De forma ainda mais satírica, Barbie retoma os dramas e dúvidas vividos pelas quatro mulheres do seriado Sex & The City, na Manhattan dos primeiros anos do novo milênio. Viver em cidades cosmopolitas e com altas expectativas pessoais e profissionais, além de enorme competitividade não é tarefa fácil. Apesar das muitas mudanças nas últimas duas décadas, aparentemente, dois pontos ainda preocupam: a dificuldade de obter igualdade entre os sexos, e o conceito de "felicidade" tornando-se cada vez mais abstrato --e na percepção de muitos, inatingível.

Estudando Psicologia na faculdade, fui apresentada ao "Estudo da Vida Adulta," da Universidade de Harvard (o mais longo estudo sobre felicidade já feito em qualquer país.) Durante 75 anos, pesquisadores acompanharam a vida de 724 indivíduos. Alguns eram estudantes do segundo ano na faculdade de Harvard; outros, moradores dos bairros mais pobres de Boston. 

Quando aqueles jovens foram inicialmente entrevistados sobre suas ambições, a maioria acreditava que a felicidade estava relacionada à riqueza ou à fama. Décadas depois, o estudo provaria que (apesar de suas origens muito diferentes) o segredo da felicidade e longevidade de todos eles residia na qualidade de seus relacionamentos.

Sempre relato em meu trabalho comunitário nos Estados Unidos, Europa e America do Sul, que este estudo teve um impacto poderoso na minha juventude; e graças a ele, hoje posso partilhar algumas técnicas que me ajudaram a identificar as fontes e manter minha felicidade. Com vinte e poucos anos, eu também tinha altas ambições profissionais e materiais. Contudo, influenciada pelo estudo de Harvard, comecei a pensar: qual seria o sentido de me tornar CEO de uma empresa importante, se mal pudesse ver meus filhos? Qual o valor de uma mansão fabulosa se eu não tivesse amigos?

Foi um tempo de priorizar meus relacionamentos e participar de atividades constantes com minha família, amigos e comunidade. Logo, eu me achava a pessoa mais feliz que conhecia, e me sentia extremamente grata por ter aprendido essa lição preciosa tão cedo na vida.

A desvantagem de colocar os relacionamentos em primeiro lugar, descobri mais tarde, foi que perder pessoas se tornaria algo impossível de superar. Meu desafio veio um ano depois, quando perdi uma pessoa muito influente e querida num acidente repentino. Durante meses, questionei o propósito da vida e da morte. Discutia incansavelmente com analistas e professores de psicologia as fases do luto e qualquer técnica para combater sua dor. Isso e um pouco de terapia me ajudaram a desabafar, mas nada dissolveu a melancolia que me impedia de retomar uma vida normal. A dor e a impotência eram grandes demais para lutar contra. É quando a Barbie do filme se deita de cara pro chão, esperando que algo mágico resolva seu problema. E muitos de nós, humanos, escapam através de drogas, álcool e outros vícios.

Mas eu não queria ficar dormente; queria sentir algo maior do que a minha dor.

Desafie seu corpo e sua mente irá mudar

Nada parecia funcionar até que um amigo se ofereceu para me ensinar a surfar. Todos acharam uma idéia incrível. Uma boa distração. Achei perfeito porque eu tinha pavor do mar.

Uma aula iniciante de surf inclui aprender a se equilibrar na prancha. No meu caso, que só nadava em piscinas, meu amigo disse, "Você precisa se acostumar com o oceano primeiro." Na praia, a água nunca tinha me passado da cintura, e chegar perto das ondas seria como olhar nos olhos de um monstro.

Aceitei o desafio.

Meu amigo me pediu pra nadar com ele até um certo ponto e aguardar. Quando uma onda grande o bastante pra me cobrir aparecesse, eu deveria mergulhar sob ela.

Por mais contra-intuitivo que pareça, se você mergulhar quando uma onda grande se aproxima, ela marcha sobre a superfície, enquanto você permanece em segurança por baixo. Já se você ficar no caminho dela, ela o atingirá com força e o arrastará. Concordei em fazer o impensável exatamente porque ali era impossível pensar em qualquer outra coisa. Eram a onda e o medo. Mais nada.

Sai da minha zona de conforto e avancei com meu amigo, primeiro com água na altura do peito, depois quando meus pés já não tocavam o chão. Não muito fundo, mas o bastante para alguém que tem medo do mar se afogar. Surreal. Havia tanta adrenalina no meu sangue que eu sentia seu gosto em minha boca. Vi a primeira curvatura se formar na superfície da água e crescer rapidamente. Congelei por um momento, vendo a onda se aproximando de nós. Parecia duas vezes o meu tamanho; sua trilha sonora, um rugido da morte. Meu amigo deu o sinal. Minha mente sabia o que fazer, mas o medo é uma criatura burra. De cara pro monstro, entrei em pânico e em vez de mergulhar, tentei nadar para longe. É como tentar correr mais rápido que um leão vindo te devorar. Sua mente sabe que é inútil, mas seu instinto te faz correr de qualquer maneira.

A onda me atingiu e rolei debaixo d'água. Quando consegui ressurgir, outra estava vindo. Essa me atingiu em cheio, me arrastando em direção à costa, onde emergi com a ajuda de dois estranhos, meus braços e pernas machucados pelos corais. Me achei irresponsável, estúpida, louca.

Chorei e prometi nunca mais voltar, mas nas 48 horas seguintes, não pensei em outra coisa. O pânico, a desorientação de estar girando embaixo d'agua, e depois algo em minha mente gritando, "Boca fechada! E olha a luz do sol ali; é a direção da superfície!" Fui a um médico tomar uma antitetânica devido aos cortes, e foi quando ele me explicou a ciência por trás da minha experiência. Quando você enfrenta um perigo físico, sua percepção de vida muda instantaneamente. Primeiro porque seus instintos de sobrevivência se comunicam claramente com você. Era a voz me gritando embaixo d'agua. E esse lado oculto é tão poderoso que você se sente mais forte sabendo que se permitir, ele pode estar mais presente no seu cotidiano. E segundo, pois você percebe que sua existência é frágil e curta demais para ser desperdiçada com qualquer emoção negativa. "Pergunte a qualquer sobrevivente de uma situação de refém," disse meu médico. "Com uma arma contra a cabeça, você não se importa com seu grande objetivo de vida ou a falta dele. Só sabe que se sair dali inteiro, de alguma forma, tudo ficará bem."

Preciso fazer algo que me dê medo pra ter esse "clique"?

Não. Para muitos de nós, ir frequentemente à academia durante uma crise ajuda bastante. Exercícios regulares aumentam a produção de endorfinas e serotonina no cérebro, melhorando o humor, e proporcionando uma sensação geral de felicidade e bem-estar. Porém, para aqueles lidando com questões mais perturbadoras, exercitar não será suficiente. A razão é que, apesar das injeções químicas que oferecem, exercícios físicos feitos em academias não costumam ser divertidos, e o bem-estar químico que induzem terá vida curta. Já esportes desafiadores e aventuras atléticas combinam estímulo físico e mental. Juntos, eles criam uma resposta química que estimula seu cérebro durante e após a atividade, o que, gradualmente, produz um estado constante de esperança e satisfação.

Várias pesquisas também estabeleceram que meditação, gargalhadas e exposição à luz solar ajudam a promover a felicidade e em alguns casos, combater à depressão. Se você tem interesse nesse assunto, ou em desenvolvimento pessoal e profissional em geral, a  iniciativa Arte & Manhas da Mulher (arteemanhasdamulher.com) oferece palestras e workshops gratuitos para  a comunidade falante da língua portuguesa, presenciais e online em várias cidades.

Eu voltei às aulas de surf e registrei todos os detalhes do meu experimento. Compartilhei com meu grupo de estudos psicológicos como aquele desafio havia me ensinado a vivenciar minha perda, sem esquecer o propósito da minha própria jornada. Nos vinte anos seguintes, aperfeiçoei e partilhei essa técnica usando desafios físicos e mentais como pontes para sair dos estados de tristeza incapacitantes. Encontrei a felicidade que importa e que deve ser sustentada apesar de qualquer frustração, fracasso ou dor. Desde então, eu e meus clientes enfrentamos várias perdas: mortes, divórcios, doenças, orgulhosamente, sem nos render a um quarto escuro.

Na próxima edição, a coluna VIVER BEM EM NOVA IORQUE dará continuidade a este tema, trazendo exercícios práticos para remodelar sua mente nas horas difíceis, aumentando sua autoestima e seu amor pela vida.

 Envie perguntas e sugestões para a colunista acessando PictureCure.com/contact

Top News