Festival brasileiro nos EUA enaltece obra de Lupicínio Rodrigues indicada ao Oscar em 1845

Foram exibidos mais de 40 filmes ao longo dos quatro dias do Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF). Os vencedores do festival foram anunciados na quinta-feira (26). O filme "Nosso Sonho," dirigido por Eduardo Albergaria, que conta a história da dupla Claudinho & Buchecha, foi premiado como Melhor Longa-Metragem. Vera Holtz foi reconhecida como Melhor Atriz por seu papel em "Tia Virginia," enquanto Daniel de Oliveira recebeu o prêmio de Melhor Ator por sua atuação em "Rio de Desejo." O documentário "Sinfonia de um Homem Comum," dirigido por José Joffily, ganhou o prêmio de Melhor Documentário.

Esta 16ª edição do festival celebrou a diversidade e prestou homenagem póstuma ao cantor e compositor Lupicínio Rodrigues (1914-1974). Além de dedicar um troféu à família do artista, um dos destaques do festival foi o documentário "Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor," dirigido por Alfredo Manevy. O documentário fez parte da programação e trouxe para Hollywood uma batalha pela reivindicação dos direitos autorais de Lupi, um dos pioneiros da música brasileira. O filme desenterra a história de como uma das músicas do compositor chegou a Hollywood na década de 1940 sem que ele recebesse crédito algum.

A música "Se Acaso Você Chegasse" foi apresentada no filme hollywoodiano "Dançarina Loura" ("Lady, Let's Dance", 1944), dirigido por Frank Woodroof. A trilha sonora, que incluía a música de Lupi, foi indicada ao Oscar em 1945, mas sem qualquer menção ao compositor. Na época, Lupicínio soube que cerca de 90 segundos de sua obra estavam no filme e ficou lisonjeado, mas não buscou seus direitos, pois eram tempos diferentes.

Essa história foi redescoberta pela equipe de produção do filme. "Quando descobrimos isso, nos pareceu que era uma história muito importante. Entender como essa música, que foi um dos primeiros sucessos de Lupicínio, saiu do Brasil e chegou aos Estados Unidos é uma questão fascinante. Por que essa música não foi creditada?" indagou Manevy.

"Na época, Lupicínio ficou feliz, pois ser apresentado em um filme americano já era uma grande realização. Porém, ao longo de sua vida, ele ficou amargurado por não ter recebido, talvez, os retornos financeiros que suas músicas geraram. Portanto, se a Academia aceitar isso, Lupicínio Rodrigues seria o primeiro brasileiro, junto com Ari Barroso, a ser indicado ao Oscar," explicou o diretor.

Em março deste ano, a família do compositor enviou uma carta à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, pedindo o reconhecimento de Lupicínio como um dos autores da trilha indicada ao Oscar. Eles não solicitam compensação financeira, apenas o reconhecimento.

O advogado Miles Cooley, que representa grandes nomes do entretenimento, como Rihanna e Jay-Z, se juntou à causa após assistir ao documentário. Ele se sensibilizou com toda a história e ofereceu representar a família legalmente junto à Academia, sem custos.

Um dos argumentos a serem apresentados à academia é que esta é uma oportunidade de fazer a coisa certa, crescer e expandir, não apenas do ponto de vista cultural e internacional, mas também no aspecto racial, já que Lupicínio Rodrigues foi um dos primeiros compositores negros do Brasil. Sua música foi tão boa que chegou aos Estados Unidos em um filme indicado ao Oscar. Acredita-se que isso represente um avanço em nossa sociedade.

O diretor do documentário, Alfredo Manevy, solicitou a mobilização do Ministério da Cultura do Brasil e a colaboração do Itamaraty, que tem apoiado a causa.

Manevy enfatizou a importância de discutir a música brasileira em Los Angeles, pois é uma das principais formas de comunicação do Brasil com o mundo. A música expressa a diversidade do Brasil e, portanto, deve ser valorizada e promovida internacionalmente.

O documentário, com 99 minutos de duração, aborda a vida do compositor, que nasceu no Rio Grande do Sul e é autor de mais de 300 obras, incluindo sucessos que atravessam gerações, como "Nervos de Aço," "A Vingança," "Felicidade" e o hino do Grêmio, time do qual Lupicínio era torcedor.

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