Publicado em 13/09/2024 as 6:00pm
EUA é o segundo país em casos de violência de gênero contra brasileiras no exterior
A Alemanha destaca-se como o país com o maior número de casos de violência de gênero contra...
A Alemanha destaca-se como o país com o maior número de casos de violência de gênero contra brasileiras no exterior, seguido pelos Estados Unidos e Itália. Recentemente, a trágica história de Anna Gleicy Brito, de 29 anos, exemplifica a crescente preocupação com a segurança das brasileiras fora do país. Anna, que se mudou para o Reino Unido há cerca de dois anos e meio em busca de oportunidades profissionais, foi esfaqueada pelo amigo brasileiro, com quem havia trabalhado como entregadora. O ataque ocorreu em 31 de agosto, enquanto Anna aguardava uma entrega em um restaurante em Kent, a 25 quilômetros de Londres. O suspeito, que tentava forçar um relacionamento com a vítima, foi detido dias depois na Escócia.
Esse caso não é isolado. No primeiro semestre de 2024, a Central de Atendimento à Mulher Ligue 180 registrou 640 denúncias de violência doméstica e de gênero contra brasileiras no exterior, um aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior. A Alemanha lidera com 132 casos, seguida pelos Estados Unidos, Itália, Portugal e Ucrânia.
A crescente presença da comunidade brasileira no exterior desde 2016 tem contribuído para o aumento dessas estatísticas. Atualmente, cerca de 4,9 milhões de brasileiros residem fora do país, um aumento de 400 mil em um ano. Aproximadamente 1,6 milhão vivem na Europa, com destaque para Portugal, Reino Unido e Alemanha. No Reino Unido, onde Anna reside, são cerca de 230 mil brasileiros, conforme dados do Ministério das Relações Exteriores.
Perfil das Vítimas e Desafios no Atendimento
A Rede de Apoio às Brasileiras Vítimas de Violência Doméstica na Europa (Revibra) tem registrado um aumento preocupante de casos, com mais de 400 denúncias este ano. A maioria das vítimas são mulheres jovens que buscam oportunidades de trabalho na Europa e acabam se tornando alvo de violência de gênero por parceiros, chefes ou até desconhecidos. Marcia Baratto, coordenadora-geral da Revibra, explica que essas mulheres enfrentam múltiplas vulnerabilidades, incluindo a falta de rede de apoio e a precariedade do trabalho em plataformas.
A história de L., uma brasileira de 33 anos, ilustra essas vulnerabilidades. Ela se mudou para Londres com o ex-marido e enfrentou agressões físicas desde a primeira semana de residência. Sem documentos legais, foi ameaçada de ser denunciada ao órgão de imigração britânico e enfrentou dificuldades com o sistema de suporte a vítimas de violência de gênero, que frequentemente não está preparado para lidar adequadamente com imigrantes.
Desafios e Falhas no Sistema de Apoio
Apesar dos avanços legislativos, como a nova lei da União Europeia para combater a violência contra mulheres, a aplicação prática das leis varia significativamente entre os países. Juliana Santos Wahlgren, diretora jurídica da Revibra Europa, aponta que a eficácia das leis depende da condição legal de residência e da disponibilidade de serviços de tradução e apoio especializado.
L. enfrentou resistência e maus-tratos de assistentes sociais e problemas com a aplicação das leis, além de dificuldades para obter suporte adequado em sua situação de violência de gênero. As práticas institucionais muitas vezes não reconhecem a violência psicológica ou verbal como uma forma válida de violência de gênero, agravando a situação das vítimas.
Condições de Trabalho e Vulnerabilidades
A situação é ainda mais complicada para aquelas que trabalham em empregos precários, como as entregadoras de comida por aplicativo. Anna e L. são exemplos de mulheres que, devido à informalidade e falta de garantias trabalhistas, ficam desprotegidas e vulneráveis à violência. Estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas trabalhem para plataformas no Reino Unido, muitas delas sem condições de trabalho seguras e direitos garantidos.
O Fairwork, da Universidade de Oxford, destaca que a falta de condições de trabalho seguras e a discriminação de gênero no setor de plataformas contribuem para as desigualdades enfrentadas por essas trabalhadoras.
Apoio e Medidas de Proteção
O Itamaraty acompanha os casos de violência doméstica contra brasileiras no exterior e oferece apoio psicológico e jurídico por meio das embaixadas e consulados. As brasileiras em situação de violência doméstica são incentivadas a buscar ajuda no consulado, onde podem receber apoio sem risco de serem denunciadas.
Para se proteger, é essencial manter uma rede de apoio confiável, buscar assistência em instituições especializadas e informar-se sobre os serviços disponíveis para mulheres em situação de violência.
O crescente número de casos de violência de gênero contra brasileiras no exterior destaca a necessidade urgente de fortalecer as redes de apoio e garantir que todas as vítimas tenham acesso a proteção e justiça, independentemente de seu status migratório.
Fonte: Da redação