Flórida inicia construção de centro de detenção para imigrantes cercado por jacarés e cobras

Em uma medida que vem causando polêmica dentro e fora da Flórida, o estado deu início à construção de um novo centro de detenção de imigrantes em uma pista de pouso pouco utilizada no coração dos Everglades. A instalação, apelidada de “Alligator Alcatraz” (“Alcatraz dos Jacarés”) pelo procurador-geral da Flórida, James Uthmeier, promete ser uma alternativa “eficiente e de baixo custo” para abrigar detidos sob a nova política de deportações em massa apoiada pelo presidente Donald Trump.

“Você não precisa investir tanto no perímetro. Se alguém tentar fugir, não encontrará nada além de jacarés e pítons”, afirmou Uthmeier em um vídeo de divulgação que mostra répteis em câmera lenta, enfatizando o isolamento natural como uma forma de segurança passiva.

O novo centro será erguido no aeroporto Dade-Collier, uma área remota de aproximadamente 100 km², localizada a 36 milhas de Miami e a apenas seis milhas do Parque Nacional dos Everglades. O local foi originalmente projetado para abrigar um ambicioso projeto de aeroporto internacional nos anos 1960, abandonado após forte oposição ambiental.

Segundo Uthmeier, a estrutura será composta por tendas e trailers reforçados, com apoio da Guarda Nacional e administração da Divisão de Gerenciamento de Emergências da Flórida. A previsão é que o centro esteja pronto para receber detidos já na primeira semana de julho. A meta é oferecer 5.000 novas vagas em centros de detenção espalhados por diferentes localidades do estado.

A iniciativa faz parte de um esforço federal coordenado com os estados para ampliar a capacidade de detenções, com uma meta de pelo menos 3.000 prisões relacionadas à imigração por dia. Parte dos detidos tem sido enviada à prisão de Guantánamo ou deportada para centros como o CECOT, megacomplexo penitenciário de El Salvador.

Críticas de ativistas e ambientalistas

Grupos de direitos dos imigrantes e ambientalistas reagiram com veemência à construção do novo centro. “Trata-se de uma estrutura improvisada, em plena estação de calor, no meio dos Everglades. É cruel, desumano e parece ter sido projetado assim de propósito”, afirmou Thomas Kennedy, porta-voz da Florida Immigrant Coalition.

Organizações ambientais como a Friends of the Everglades também se manifestaram contra o projeto. Em carta aberta ao procurador-geral e ao governador Ron DeSantis, o grupo alertou para os riscos de desenvolver uma das áreas mais frágeis do ecossistema americano. “Essa terra é vital para o futuro dos Everglades. Não abram as portas para a destruição de um dos ecossistemas mais icônicos dos Estados Unidos”, disse Eve Samples, diretora-executiva da organização.

Samples lembra que o mesmo local já foi alvo de protestos em 1969, quando o projeto do Everglades Jetport foi suspenso por ameaça ambiental. “É irônico que o procurador-geral diga que se trata de uma área abandonada, quando na verdade ela foi protegida graças à mobilização do povo da Flórida”, declarou.

Suporte federal e financiamento

O projeto poderá utilizar recursos do programa federal Shelter and Services Program, criado na era Biden para oferecer suporte humanitário a imigrantes, incluindo alimentação, higiene e cuidados médicos. O programa tem cerca de US$ 625 milhões disponíveis.

A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, elogiou a iniciativa nas redes sociais: “Vamos expandir instalações e leitos em poucos dias, graças à nossa parceria com a Flórida.”

Até o momento, o governo estadual não divulgou qual empresa foi contratada para construir o centro, nem os detalhes da aquisição do terreno pertencente ao condado de Miami-Dade.

Enquanto o governo da Flórida acelera os preparativos, opositores prometem intensificar os protestos. “Estamos diante de um retrocesso perigoso em direitos humanos e proteção ambiental”, resumiu Samples.

Com o avanço das obras e o aumento das tensões políticas em torno da imigração, o “Alcatraz dos Jacarés” promete continuar dividindo opiniões — e atraindo os olhos do país para os pântanos da Flórida.