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Mineiro que “foi forçado a deixar os EUA” tem história destacada no Boston Globe

Frilei Brás, referência da comunidade brasileira em Boston, deixou o país sob pressão do governo Trump e virou símbolo de um sistema imigratório cada vez mais rígido


A história do mineiro Frilei Brás, que deixou os Estados Unidos após quase 20 anos de vida estabelecida, foi destaque recente no The Boston Globe, um dos jornais mais influentes dos Estados Unidos. A reportagem retrata o drama vivido por Brás, que se “autodeporto” — termo usado quando o próprio imigrante, diante de pressões e ameaças legais, opta por deixar o país por conta própria para evitar a prisão ou deportação forçada.

Ele disse que recebeu uma ordem do Departamento de Imigração (ICE, sigla em inglês) para deixar o país e assim evitar a deportação.

Brás vivia em Boston (Massachusetts) desde 2005. Entrou no país de forma irregular, mas ao longo dos anos construiu raízes profundas: abriu empresa, pagava impostos, apresentava um programa de rádio local de grande audiência, mantinha uma escolinha de futebol e era pai de seis filhos, todos nascidos nos EUA e cidadãos norte-americanos. Também ajudava a integrar a comunidade brasileira, sendo uma figura respeitada e carismática.

Apesar disso, em maio de 2024, ao comparecer voluntariamente a uma entrevista de rotina com autoridades imigratórias — procedimento comum entre imigrantes que aguardam regularização — foi surpreendido com a ordem de saída: teria apenas 15 dias para deixar o país. Com uma tornozeleira eletrônica no pé e sob ameaça de prisão imediata, não teve dúvidas. Comprou uma passagem e retornou ao Brasil, deixando para trás a mulher e os filhos.

“Eu não saí porque quis. Eu fui forçado a sair. Não tive escolha”, afirmou, já de volta à cidade natal de Central de Minas (Minas Gerais), próximo a Governador Valadares.

Durante o encontro com os agentes de imigração, Brás diz ter ouvido frases como “você deve se considerar sortudo por não estar sendo preso agora” e que seria apenas mais um número em uma meta diária de detenções. “Eles precisam de 3.000 casos por dia. A história de cada um pouco importa”, relatou.

Segundo ele, parte dos agentes admitia, nos bastidores, que a política imigratória em vigor era dura demais — e que ele estava entre os mais vulneráveis. “Chegaram a ameaçar deportar minha esposa e filhos, mesmo sabendo que todos são cidadãos norte-americanos. É uma forma de pressão psicológica muito forte”, destacou.

O caso de Bras reflete uma estratégia adotada nos últimos anos para incentivar a “saída voluntária” de imigrantes indocumentados, sem que o governo precise efetuar deportações formais. Segundo dados oficiais, mais de um milhão de pessoas já teriam deixado o país por esse motivo, mas esses números não foram auditados por fontes independentes.

No retorno ao Brasil, Brás enfrentou uma crise emocional durante a escala no Panamá. “Foi ali que entendi o que estava acontecendo. Chorei muito. Não sei quando vou ver minha família de novo”, contou.

Hoje, ele vive com familiares em Minas Gerais e tenta buscar meios legais para, um dia, reencontrar a família. Enquanto isso, a esposa — com problemas de saúde — e os filhos, de 1 a 19 anos, contam com a ajuda de amigos para se manter.

A repercussão no Boston Globe deu visibilidade internacional à história de Brás, transformando-o em símbolo da nova face das políticas imigratórias dos EUA: silenciosas, indiretas, mas extremamente eficazes. “Eles não precisam mais te buscar em casa. Te colocam contra a parede até você mesmo decidir ir embora”, resume.

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