Os rostos estão cada vez mais iguais. Bocas projetadas, maçãs do rosto esculpidas, olhares eternamente descansados. Os preenchedores, antes privilégio de celebridades, viraram quase um “padrão de entrada” em tempos de selfie.
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Preenchida? De Expectativas…

Os rostos estão cada vez mais iguais. Bocas projetadas, maçãs do rosto esculpidas, olhares eternamente descansados. Os preenchedores, antes privilégio de celebridades, viraram quase um “padrão de entrada” em tempos de selfie. Mas o debate que emerge agora não é sobre o produto em si, e sim sobre o que ele está tentando calar: o medo de envelhecer, de perder espaço, de ser ignorada.
O rosto deixou de ser apenas uma parte do corpo. Tornou-se uma espécie de cartão de visita emocional e profissional. Em tempos de imagem, ele é lido o tempo todo. Preenchê-lo deixou de ser vaidade para se tornar estratégia. Uma linguagem silenciosa que diz: “Estou aqui. Ainda valho. Ainda pertenço.”
E aí vem a pergunta que incomoda: estamos escolhendo livremente ou apenas nos adaptando às novas exigências? É comum ouvir que os procedimentos são “por autoestima”, mas quando essa autoestima depende de uma agulha a cada seis meses, talvez a liberdade esteja mais condicionada do que gostaríamos de admitir. Há uma linha fina entre cuidar de si e estar aprisionada em um padrão que parece sempre escapar das mãos, ou do rosto.
Enquanto isso, a tal “beleza natural” se tornou um paradoxo. O natural virou filtro. Virou algo construído e mantido com técnica e investimento. Há um colapso da espontaneidade. Envelhecer com dignidade virou quase um ato subversivo. E, para muitas mulheres, essa escolha vem acompanhada de olhares de pena, de comentários disfarçados de preocupação e da sensação de que o tempo é um inimigo.
Não se trata de julgar quem faz. O problema não está na seringa, mas na necessidade silenciosa de apagar qualquer sinal de vivência. Quem dita esse padrão não está nas clínicas, mas no inconsciente coletivo que confunde beleza com juventude e ruga com fracasso. Enquanto não for possível olhar para uma mulher madura e enxergar potência ao invés de decadência, os rostos seguirão inflando, não por vaidade, mas por sobrevivência simbólica.
Talvez o que esteja faltando preencher não esteja no rosto…
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