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Publicado em 6/08/2022 as 6:00pm

Coluna da Arilda

Entrevista com a escritora Delasnieve Daspet Delasnieve Daspet   Conheci a poeta...

Entrevista com a escritora Delasnieve Daspet

Delasnieve Daspet

 

Conheci a poeta Delasnieve Daspet e conversamos longamente.

Ela nasceu na pequena cidade de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul em 1950.

Oriunda do meio rural e filha de agricultor e imigrante, ela aprendeu a ler em casa.

Na sua época o homeschooling já era uma realidade e ela aprendeu a ler e interpretar através dos Salmos em espanhole segundo ela me disse os Salmos de Davi são pura poesia.

Delasnieve cursou Direito e um pouco de jornalismo.

Atuou e atua sempre nas causas voltadas ao social, a humanidade, ao meio ambiente e em especial as ações que envolvem a paz.

Ela escreveu em jornais da faculdade, jornais de sua cidade, mas o primeiro livro que participou foi uma coletânea em 1973.

O seu livro solo foi o poético Por Um Minuto ou Para Sempre, onde em poemas, ela fala de eternidade e efemeridade.

Depois desse já vieram mais de 14 livros.

Publicou em francês, inglês, alemão, indiano, russo, sueco, espanhol e está traduzindo um livro seu Pã, Che Tetã para o guarani, uma língua ela que tem certo domínio. 

No prelo tem dois: O Som da Lágrima (bilíngue) português e espanhol que aborda o tema sobre a violência contra a mulher e o icônico e pandêmico Tessitura 2020 O Ano que Não Aconteceu aborda, em poemas e na sua ótica, a prisão a que a população foi submetida.

Quanto ao desrespeito aos direitos individuais, Delasnieve afirma que “foram anos que não existiram. Ficamos aquém da vida”.

Semana passada foi citada na obra do escritor e poeta da Academia Brasileira de Letras, ABL, Carlos Nejar, pág. 1099, no livro História da Literatura Brasileira da Carta de Caminha aos Contemporâneos, Editora Noeses, Edição 2022.

Tem trabalhos seus já levados aos palcos e muitos poemas musicados. Este livro será um capítulo à parte em sua literatura. 

Delasnieve estuda muito, lê bastante e escreve à noite.

Ainda advoga... e, muito de sua poesia veio de sua banca.

Há quanto tempo você se dedica a escrever livros?

Eu escrevo poemas desde os 9 anos de idade. Sou oriunda de fazenda, do meio rural, eu estudava em casa com meu pai.

Aprendi a ler através da Bíblia e os Salmos foram meu material de aprendizado, de interpretação e de entendimento.

Os Salmos de Davi são pura poesia. Assim, também são os de Asafe e de Hemã.

Escrevo em cadernos e/ou agendas e os guardo, depois os copio em Word para uma nova leitura e análise, mas em livros, minha primeira participação foi em 1973.

O meu solo veio em 2004 onde abordei a eternidade em Por Um Minuto ou Para Sempre.

Qual sua opinião de uma obra para conquistar seus leitores?

Penso que o escritor, em especial o poeta, realmente não se preocupa com esse quesito.

O poeta escreve mais para si do que para outrem. Tenho por premissa que se eu gostar outros se identificarão e haverão de apreciar também.

Poesia não é um amontoado de palavras sem sentido, necessário que diga algo, que faça sentido ou que tenha melodia, mas penso que de repente poderia se verificar algumas coisas, tais como: inspiração seria primordial.

O escritor poeta tem de oferecer o melhor de si com clareza, bom vocabulário, simplicidade, autenticidade, originalidade, que traga informações que alcance e que seja de interesse do público, e falando em público, procurar conhecer quem o lê e desenvolver suas ações dentro desse parâmetro.

Tem que falar de uma forma que seu leitor entenda, que possa se identificar com suas falas.

Inseri-lo no nosso contexto.

Poesias emboloradas com palavras difíceis cheirando naftalina já não condizem com a atualidade.

O seu tema favorito, o que te inspira?

O tempo, a solidão, a saudade, a paz, os direitos humanos, o meio ambiente, a tristeza, a família, as causas e coisas da atualidade.

Eu diria que também a solidariedade, a falta de empatia entre os seres humanos, a irracionalidade do homem, os animais, a poesia, a história, a violência e a mulher.

Sou uma poeta contemporânea, do tempo atual.

Fiz um livro inteirinho com poemas pandêmicos.

A prisão a que fomos submetidos, o desrespeito aos nossos direitos, o abuso do poder judiciário.

Foram dois anos que não existiram. Ficamos aquém da vida.

Utilizo muito em minhas falas, o transcendental, o metaverso, o surrealismo, na tristeza, na solidão, na saudade e nos social.

Qual o seu ritual no processo de criação dos seus textos?

Tento ser disciplinada, sou mais ou menos.

Me obrigo a escrever um pouco a cada dia e a ler muito. Leio outros poetas como clássicos.

Faço cursos de literatura poética, medieval, antiga, clássica... procuro ler os novos poetas.

Recebo muitos livros. É gratificante ver a produção literária de nosso país.

Tenho sempre comigo, dois ou três livros que leio, simultaneamente, uma agenda e canetas.

Se estou na cozinha, na rua, em qualquer lugar ou momento, pode acontecer algo que me motive e  que o poema surja.

Posso viver um momento intenso de poesia, de beleza, de encantamento, certamente, o poema virá.

Posso acordar no meio da noite para anotar algo que surgiu em minha mente.

Durmo tarde e acordo cedo. Não assisto televisão e já não vejo muitos filmes.

A leitura me abastece, me enriquece.

Tem livro que leio várias vezes e a cada nova leitura, descubro algo que não vi ou não senti.

Tudo isso é uma forma de construir minha poesia.

O que você escuta enquanto escreve ou você prefere o silêncio?

O silêncio é primordial e por isso anoto de dia e desenvolvo a noite.

Não tem telefone. Não tem neto. Só eu, comigo e a vastidão do universo que se descortina em minha mente e ações.

Posso passar o dia inteiro sem pronunciar uma palavra sequer.

O cérebro atua com perfeição e envia aos meus sentidos as emoções que preciso para desenvolver o que me proponho.

De onde vem sua inspiração?

Qualquer pessoa pode ter inspiração.

Sobre qualquer assunto ou tema. Alguns creem que é um dom. Será? Para mim, a inspiração é como um pensamento que surge de repente.

Uma pessoa, um momento, uma folha que cai, um vento suave que balança os cabelos, um sorriso... a inspiração está em mim e na minha forma de olhar, ver e sentir as coisas que me rodeiam e que me acalantam.

Quanto tempo você leva para escrever um livro?

Não escrevo por encomenda.

Meus poemas são frutos de mim. Eu os gero, os crio, os materno e no momento que estiverem prontos os trago à luz.

Tenho mais ou menos uns 8 livros prontos, sairão dois agora “O Som da Lágrima” em português e espanhol, a primeira edição é de 2014. Foi revista, ampliada e traduzida.

Ele fala da violência contra a mulher e o pandêmico “Tessitura – 2020 O Ano que não Aconteceu..

Livros editados tenho 14 em português, francês, alemão, espanhol, sueco, russo, indiano, etc.

Como seus defeitos interferem no que você escreve?

Defeitos? Sou virginiana. Tenho mania de perfeição e organização, sou muito critica.

É uma situação que ajuda e atrapalha.

Atrapalha! As coisas demoram para ficarem prontas.

Sempre tem algo para consertar. Ajeitar...etc...

Você aprendeu algo com alguma crítica? Se aprendeu, isso mudou o seu jeito de escrever?

A crítica literária é importante, ela nunca é definitiva.

O que é bom para um pode não ser para outro. É um estudo, discussão, avaliação e interpretação da sua obra.

Eu absorvo o que é bom e que pode melhorar minha escrita e o que na minha ótica nada tem a ver comigo, eu ignoro.

Você convive fraternalmente com alguém que, em público ou particular, declarou não gostar da sua literatura?

Até hoje tive apenas uma pessoa que me disse abertamente que não me apreciava, que não gostava de minha literatura e disse isso na frente de vários pró-reitores de uma universidade daqui de Mato Grosso do Sul onde a mesma era professora, desmerecendo-me.

O fato dela não apreciar minha literatura, acho normal e disse-lhe isso, afinal, nem todos tem bom gosto, não é?

 Mas não aceitei que me desmerecesse.

Obriguei-a desculpar-se e desagravar-me por escrito em um evento da própria universidade e na presença dos pró-reitores que estiveram no momento do agravo.

Não sou boazinha, não. Não, se estiver no meu direito. Sou um puro trator, se necessário.

No mais, tenho criticas e análises ótimas, que fazem parte de meu acervo, de nomes nacionais e internacionais.

Como você percebeu esta sua vontade e entendeu que seu destino era ser escritora?

Como disse acima, escrevo desde os 9 anos de idade. Só fui consolidando essa vontade. A vontade de ser poeta. Tive irrestrito apoio de minha família. Pais, esposo e filhos. Até meu neto Davi, fala comigo de poesia e me divulga entre seus colegas. Ele tem 8 anos.

Quais eram os passatempos que te levaram a querer contar histórias?

Muita leitura. Sou de origem humilde, nasci e cresci em fazenda, sou filha de agricultor e imigrante.

Nunca faltou nada em minha casa, tinhamos bons livros, clássicos brasileiros e internacionais.

Aprendi a ler em espanhol, os livros do meu pai eram todos em espanhol.

A bíblia com a qual ele me ensinou a ler, eram em espanhol. Esse hábito da leitura, eu trouxe para a minha vida, para o meu cotidiano e fui montando minha biblioteca.

Leio muito, até hoje.

De onde vêm os seus personagens? São inspirados em pessoas reais ou em fatos?

Sou advogada de formação e muitos dos meus poemas nasceram na minha banca, outros em fatos, em ocorrências da cidade, assuntos familiares. Enfim, da vida!

Qual será seu próximo livro?

Estão no prelo “O Som da lágrima e “Tessitura – 2020 O Ano que não Aconteceu”.

Três coisas que ainda estão na sua lista de desejos:

Quero aprender a escrever haicais, me encanta a harmonia.

Quero escrever haicais no Japão, perto das cerejeiras.

Fazer o caminho da Via Sacra, em Jerusalém. Imagino a sublimação na poesia.

Conhecer melhor a civilização helênica e seus clássicos.

Quem você diria que são seus antepassados literários aqueles de quem você aprendeu mais?

Li todos os clássicos brasileiros. Todos.

Leio sempre e continuo lendo os que me encantaram e encantam, tais como: Machado de Assis e Eça Queirós.

Gosto muito da poesia de Alvares de Azevedo, Castro Alves, Cassimiro de Abreu, Drummond e Mário Quintana.

Dos atuais, tenho muito apreço pelo Carlos Nejar e Deonisio da Silva, Marina Colassanti, entre outros.

Também li toda a obra de Gabriel Garcia Márques, Pablo Neruda, Flaubert, Gorki, Unamuno, Ghoethe, poetas franceses, dentre os quais Athanase Vantchev de Tracy.

Qual o livro da literatura mundial que você gostaria de chamar de seu?

Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Márques.

"O mundo era tão recente que muitas coisas não tinham nomes e para mencioná-los era preciso apontar o dedo para eles." "Você não morre quando deveria, mas quando pode."

“O fundamental é não perder a orientação”.

O que seus textos trazem como inspiração para outras pessoas?

Eu escrevo poesias e alguma prosa. O meu forte é a poesia.

A poesia possibilita o encontro do leitor com o lado humanístico.

Um espaço de reconhecimento, de fantasia, do prazer da leitura.

De forma curta, a poesia pode oferecer uma profunda critica dos valores da sociedade.

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