Número de imigrantes detidos pelo ICE atinge recorde histórico sob nova ofensiva do governo Trump

O número de imigrantes detidos em centros de detenção do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, sigla em inglês) atingiu o patamar histórico de cerca de 59 mil pessoas nesta semana, segundo dados internos obtidos pela CBS News. Trata-se do maior número já registrado na história do sistema de detenção imigratória do país.

A cifra supera o recorde anterior de 55 mil detidos estabelecido em 2019, durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump. A capacidade oficialmente financiada pelo Congresso é de 41.500 camas, o que indica uma superlotação superior a 140%.

Segundo os dados, aproximadamente 47% dos detidos atualmente não possuem antecedentes criminais e menos de 30% foram condenados por algum crime — o que revela uma ampliação do escopo da repressão imigratória em curso. Durante a campanha, Trump prometeu focar na deportação de “criminosos perigosos”, mas sua administração já declarou que nenhuma pessoa em situação irregular estará isenta de deportação.

“O compromisso do ICE com a segurança pública, a segurança nacional e a estabilidade econômica é inabalável”, declarou a agência em nota. “As operações em andamento visam enfrentar o enorme acúmulo de imigrantes indocumentados com antecedentes criminais ou considerados ameaça à segurança.”

Interior do país vira foco

Mais de 70% dos detidos foram presos no interior dos Estados Unidos, uma mudança significativa em relação ao fim da administração Biden, quando esse número era inferior a 40%. A maioria dessas prisões ocorre fora da fronteira, em operações realizadas em locais de trabalho, prisões estaduais e centros urbanos.

Durante o mês de junho, a média diária de detenções feitas pelo ICE superou 1.200 — com picos de mais de 2.000 detenções em dias isolados. O número é quase o dobro da média dos primeiros 100 dias do segundo mandato de Trump.

Entre as ações recentes, destacam-se operações em um hipódromo na Louisiana e em uma fábrica de processamento de carnes em Nebraska, locais onde dezenas de imigrantes foram detidos.

Capacidade além do previsto

Não está claro como a administração Trump tem acomodado os milhares de detidos acima do limite autorizado pelo Congresso. Fontes do governo confirmaram que há estudos para transformar bases militares, como Fort Bliss, no Texas, em centros temporários de detenção imigratória.

Além disso, autoridades da Flórida ofereceram apoio logístico ao governo federal, propondo a construção de novos centros de detenção. Um desses projetos, apelidado de “Alcatraz dos Jacarés”, seria erguido nos pântanos do Everglades com o apoio financeiro do Departamento de Segurança Interna (DHS).

O presidente propôs um pacote legislativo apelidado de One Big Beautiful Bill, que incluiria recursos para financiar até 100 mil leitos de detenção — mais que o dobro do limite atual.

Críticas e preocupações

Pesquisadores e defensores dos direitos civis expressam preocupação com as condições dos centros de detenção, especialmente diante da rápida expansão da população sob custódia da ICE. “Estou preocupado com a capacidade da ICE de garantir padrões mínimos de detenção civil e de oferecer o devido processo legal aos imigrantes”, afirmou o professor Austin Kocher, da Universidade de Syracuse, que estuda o sistema migratório norte-americano. “A administração tem tratado essas obrigações como opcionais, quando são, na verdade, exigidas por lei.”

Organizações de direitos humanos também alertam para os riscos à dignidade e ao bem-estar dos detidos, enquanto a administração Trump segue intensificando sua política de deportações em massa. Até o momento, representantes do DHS e da ICE não comentaram oficialmente sobre a superlotação nos centros de detenção.