A renúncia ocorre em meio a disputas políticas e graves denúncias sobre a gestão de um escândalo que deixou milhares de pacientes desamparados, muitos deles indígenas. A diretora da agência de Medicaid do Arizona, Carmen Heredia, renunciou ao cargo nesta semana, em meio a intensas críticas sobre sua condução diante de um vasto esquema de fraude que explorava, em sua maioria, pacientes indígenas. A saída ocorre dias antes de Heredia ser convocada para responder a questionamentos no Senado estadual.
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Diretora da Agência de Medicaid do Arizona renuncia após críticas sobre resposta a esquema de fraude que afetou indígenas

Da redação
A renúncia ocorre em meio a disputas políticas e graves denúncias sobre a gestão de um escândalo que deixou milhares de pacientes desamparados, muitos deles indígenas. A diretora da agência de Medicaid do Arizona, Carmen Heredia, renunciou ao cargo nesta semana, em meio a intensas críticas sobre sua condução diante de um vasto esquema de fraude que explorava, em sua maioria, pacientes indígenas. A saída ocorre dias antes de Heredia ser convocada para responder a questionamentos no Senado estadual.
A governadora democrata Katie Hobbs anunciou na quarta-feira (30) que aceitou a renúncia de Heredia, elogiando seu papel na liderança da AHCCCS (Arizona Health Care Cost Containment System), mas responsabilizando parlamentares republicanos por politizarem o processo de confirmação no Senado. Segundo Hobbs, ficou evidente que Heredia não seria aprovada para seguir no cargo.
Durante sua gestão, Heredia suspendeu pagamentos a mais de 300 prestadores de serviços de saúde comportamental enquanto investigava alegações de cobrança indevida ao Medicaid por tratamentos nunca realizados. As medidas, embora reconhecidas como necessárias para conter fraudes, tiveram efeitos colaterais devastadores. Uma investigação conjunta da ProPublica e do Arizona Center for Investigative Reporting (AZCIR) revelou que milhares de pacientes ficaram desabrigados e sem acesso a tratamentos contra dependência química.
O senador republicano Jake Hoffman, presidente do Comitê de Nomeações do Senado, afirmou que Heredia conduziu de forma desastrosa a suspensão de provedores. Ele declarou que a má gestão comprometeu o atendimento a populações vulneráveis e deixou o sistema de saúde “quebrado”. Hoffman também criticou outros aspectos da AHCCCS, como o setor de cuidados prolongados.
O esquema de fraude investigado operava, sobretudo, em Phoenix e envolvia empresas que inflacionavam cobranças ao Programa de Saúde Indígena do Medicaid (AIHP), que até a descoberta do escândalo não impunha limites de faturamento. Muitas dessas empresas recebiam milhões de dólares em reembolsos ao alistar indígenas em programas fictícios de reabilitação.
A procuradora-geral do Arizona, Kris Mayes, afirmou em coletiva que mais de 100 pessoas já foram indiciadas, com 25 condenações, e novas acusações devem surgir. Segundo ela, o prejuízo ao estado pode ultrapassar US$ 2 bilhões.
Apesar de a AHCCCS ter criado uma linha direta para vítimas e oferecido estadias temporárias em hotéis, os registros mostram que a maioria dos mais de 11 mil atendimentos não teve acompanhamento após seis meses. Em setembro passado, ao menos 575 pessoas estavam em situação de rua e 40 indígenas haviam morrido em residências terapêuticas, conforme revelado por ProPublica e AZCIR.
Alguns prestadores, inocentados após investigação, foram autorizados a retomar atividades, mas relataram prejuízos irreparáveis e interrupções no atendimento aos pacientes.
Em sua carta de renúncia, Heredia lamentou a politização do processo e disse que profissionais foram expostos a audiências prejudiciais para suas carreiras. A governadora Hobbs, por sua vez, defendeu sua ex-diretora: “Carmen Heredia ajudou a desmantelar um esquema bilionário de fraude no Medicaid ignorado pela gestão anterior. Sua atuação é um modelo para o país.”
A crise política também afetou outra integrante do alto escalão da saúde. Jennifer Cunico, diretora do Departamento de Saúde do Arizona, também renunciou nesta semana. Cunico estava prestes a enfrentar sabatina no Senado e optou por retirar sua nomeação ao perceber que também não seria confirmada. É a terceira rejeição de nomeações da área de saúde feitas por Hobbs em dois anos.
Enquanto republicanos acusam a gestão de Hobbs de falhas graves, a governadora responsabiliza a oposição por sabotar esforços técnicos com interesses partidários. “A politização sem precedentes do processo de confirmação pôs fim ao trabalho de duas profissionais que tornaram o governo mais eficiente e eficaz”, disse Hobbs.
A crise no Medicaid do Arizona expõe um embate entre a necessidade de combater fraudes e a urgência de preservar o cuidado com populações vulneráveis — especialmente indígenas, os mais afetados por um sistema que falhou em protegê-los.
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