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Imigrante grávida perde bebê após negligência médica sob custódia do ICE

Guatemalteca denuncia que autoridades ignoraram repetidos pedidos de socorro durante dias: “Ele estava morto dentro de mim por três dias”

Uma mulher guatemalteca detida pelo Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, sigla em inglês) sofreu um aborto após, segundo ela, ter seus pedidos por atendimento médico ignorados por dias enquanto estava sob custódia em um centro de detenção na Louisiana. O caso de Iris Dayana Monterroso-Lemus, de 38 anos, expõe mais uma denúncia de negligência médica envolvendo imigrantes em centros administrados pelo governo federal.

“Eu implorei aos médicos”, disse Monterroso-Lemus. “Pedi: ‘por favor, me levem ao hospital, estou com dores, estou tendo contrações’. Ninguém me escutou”.

A saga de Iris começou em março deste ano, quando foi detida pela polícia local em Lenoir City, no Tennessee, por conta de uma audiência judicial perdida num caso de custódia parental. Embora seu companheiro, Gary Bivens, tenha pago fiança imediatamente, a libertação foi impedida por um pedido de custódia emitido pelo ICE.

A partir daí, ela foi transferida por diversos estados—Illinois, Tennessee, Alabama—até ser levada ao Richwood Correctional Center, na Louisiana, em abril, já com cerca de cinco meses de gestação. Durante o período em que esteve sob custódia, relata ter vivido em condições precárias: comida estragada, infestações de baratas e falta de cuidados básicos. Ela também diz que recebeu uma série de medicamentos sem explicações, e jamais foi submetida a exames como ultrassonografia.

Segundo a guatemalteca, a negligência culminou em dores abdominais intensas e na perda dos movimentos fetais. Mesmo assim, afirma que agentes continuaram ignorando seus pedidos por socorro. Só após três dias com sintomas severos ela foi levada ao hospital, onde deu à luz um bebê já sem vida no dia 29 de abril.

“Ele estava morto dentro de mim há três dias”, relatou. “Eu nem pude ligar para o Gary.”

Gary Bivens, que ficou nos EUA cuidando dos seis filhos do casal, disse ter recebido a notícia do aborto através de outra detenta. Dias depois, um assistente social o procurou para saber o que fazer com os restos mortais da criança. Bivens optou pela cremação e teve de arcar com os custos do envio das cinzas.

“Foi desrespeitoso, como se quisessem se livrar logo disso”, disse. “Eu perdi o respeito por todo o sistema.”

Deportada e sozinha

Após o parto, Iris foi deportada rapidamente, sem direito a tempo de luto ou acompanhamento psicológico. De acordo com seu relato, foi forçada a assinar documentos legais em inglês, sem entender o conteúdo. De volta à Guatemala, está separada dos filhos e do companheiro, vivendo com apoio financeiro de Bivens e de uma campanha online.

Centros como o Richwood Correctional Center já haviam sido alvos de denúncias anteriores por maus-tratos e negligência médica. Parlamentares e organizações de direitos humanos afirmam que o caso de Monterroso-Lemus não é isolado. A deputada Pramila Jayapal classificou o episódio como “absolutamente repugnante” e pediu responsabilização imediata.

Para Iris, a dor segue sem respostas. “Só queria ajuda para meu bebê”, desabafou. “Em vez disso, perdi tudo.”

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