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Coluna Debora Corsi: E se tratássemos todos como clientes?

Trabalhei dezoito anos em uma multinacional americana que transformou o substantivo “cliente” em verbo. Nos corredores da empresa, havia diversos quadros com a pergunta: “Você já clientou hoje?”.

Trabalhei dezoito anos em uma multinacional americana que transformou o substantivo “cliente” em verbo. Nos corredores da empresa, havia diversos quadros com a pergunta: “Você já clientou hoje?”. Estávamos todos reunidos em um prédio onde não havia contato direto com clientes — essa função era da área técnica, localizada na matriz da empresa. Quem visitava o local não entendia como os departamentos de engenharia, controladoria, planejamento, diretoria… poderiam atender a um cliente. Para esses visitantes, a ideia parecia sem sentido, mas para os funcionários, a prática de clientar era essencial. Isso porque a empresa implantou uma nova cultura para todos que trabalhavam ali.

A filosofia partia do princípio de que toda empresa precisa tratar muito bem seus clientes, afinal, são eles que garantem a prosperidade da organização. Sem clientes, é impossível manter funcionários, pagar despesas e obter lucro. Por isso, quanto melhor o atendimento, maior a fidelidade e maior também a chance de atrair novos clientes. Seguindo essa lógica, criou-se o conceito do verbo “clientar” para ser exercitado internamente entre os colegas de todos os departamentos. Tratar um colega como cliente significava garantir sua satisfação com um atendimento exemplar e fazer com que ele desejasse continuar trabalhando ali, pois se sentiria respeitado e valorizado como profissional. Esse funcionário deixava de ser apenas um número funcional para ser reconhecido como um ser humano que a empresa não queria perder.

Essa cultura fez com que a multinacional permanecesse por anos na lista das melhores empresas para se trabalhar. A experiência que vivi ali pode — e deve — ser transferida para a vida pessoal. Devemos tratar todas as pessoas como clientes em potencial, seguindo normas de atendimento como: dirigir-se a elas com um sorriso genuíno, desejar um bom dia de forma calorosa, preocupar-se em ajudar no que for possível, buscar soluções para desafios e fazer com que a pessoa sempre queira voltar a esse convívio. Afinal, o bem-estar que ela sentirá ao ser acolhida por quem sabe “clientar” não será facilmente encontrado em outro lugar.

Imagine se isso ocorresse nos encontros de família, na vizinhança, nos clubes, em abordagens policiais, no trânsito… A convivência seria muito mais agradável e leve para todos. Infelizmente, os anos passam e vemos as pessoas cada vez mais frias umas com as outras: filhos que não têm o mínimo de interesse em compreender seus pais mais velhos, pais que não têm paciência para lidar com adolescentes. Nessa troca de incompreensão, caminhamos para relacionamentos cinzentos, sem brilho, entusiasmo ou vida.

Em 2020, vivemos o terror da pandemia, que nos obrigou a isolar e a não tocar ninguém. O abraço virou veneno, e qualquer aproximação mínima tornou-se perigosa. Foi um tempo sombrio, que todos ansiavam ver chegar ao fim. Vencemos a pandemia, mas ainda não vencemos a indiferença e a intolerância que ficaram nos contatos externos. O “clientar” poderia ser uma saída para muitas situações que nos assustam, como, por exemplo, as deportações. Ainda temos muito a aprender sobre como tratar uns aos outros, pois a violência que vemos nas ruas é reflexo do que acontece dentro de casa. Uma família desajustada gera moradores que não saem com o coração aberto para gentilezas — e isso se multiplica.

Hoje, meu convite é: vamos contagiar as pessoas com o melhor que temos a oferecer. Todas as vezes que sairmos de casa, perguntemos a nós mesmos: como posso clientar hoje?

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