Detentos do centro de imigração Bluebonnet, localizado na pequena cidade de Anson, no Texas, enviaram um grito silencioso, mas poderoso, ao mundo exterior nesta semana.
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Detentos formam “SOS” em centro de imigração no Texas e denunciam acusações sem provas de envolvimento com gangue

Detentos do centro de imigração Bluebonnet, localizado na pequena cidade de Anson, no Texas, enviaram um grito silencioso, mas poderoso, ao mundo exterior nesta semana. Com um drone da agência Reuters sobrevoando o local, 31 homens formaram com o corpo as letras “SOS” no pátio da instalação — um apelo por socorro diante do que consideram uma injustiça.
Segundo documentos, registros de chamadas e entrevistas feitas pela Reuters, a ação foi motivada por uma onda de notificações recebidas no início de abril por dezenas de venezuelanos detidos. As autoridades de imigração dos EUA acusaram os imigrantes de pertencerem à violenta gangue venezuelana Tren de Aragua e determinaram a deportação imediata sob base na Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 — uma legislação usada historicamente em contextos de guerra.
As famílias de ao menos sete detidos negaram qualquer envolvimento com organizações criminosas e afirmaram que os homens se recusaram a assinar os documentos. Apesar disso, no dia 18 de abril, vários deles foram colocados em um ônibus com destino ao aeroporto regional de Abilene para deportação, sendo retornados ao centro apenas após uma decisão emergencial da Suprema Corte dos EUA suspender temporariamente as deportações naquela mesma noite.
A situação continua incerta. Caso a Corte reverta a decisão, os venezuelanos correm o risco de serem transferidos para o CEOT, um presídio de segurança máxima em El Salvador conhecido por suas duras condições, onde ao menos 137 cidadãos venezuelanos já teriam sido enviados durante o governo Trump.
A instalação de Bluebonnet, situada a 322 km de Dallas e administrada pela empresa privada Management and Training Corporation sob contrato com o ICE (Departamento de Imigração e Alfândega), abriga em média 846 detentos por dia, segundo dados oficiais de 2025. O nome da unidade é uma referência à flor símbolo do estado do Texas.
Impedida de acessar diretamente o centro de detenção, a Reuters utilizou drones e pequenos aviões para obter imagens aéreas. Nas fotos, alguns detentos aparecem com uniformes vermelhos — usados para designar presos considerados de “alto risco”.
Entre os detidos estão dois casos citados pelo Departamento de Segurança Interna (DHS). Um deles, identificado como Millan, foi preso na Geórgia em março e transferido para Bluebonnet. O DHS alega que ele é um membro “documentado” da Tren de Aragua, mas não apresentou qualquer prova. A Reuters não localizou registros criminais em seu nome, e ele teria trabalhado na construção civil.
Outro caso é o de Escalona, detido em janeiro após uma acusação de fuga policial no Texas. O DHS afirma que ele admitiu espontaneamente fazer parte da gangue, mas também não forneceu evidências.
O episódio expõe as tensões em torno das políticas de deportação em massa do atual governo, que vêm sendo criticadas por defensores dos direitos civis por aplicar leis obsoletas para justificar a remoção de imigrantes sem o devido processo legal. A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) acompanha os casos, enquanto as famílias dos detentos esperam, com esperança e medo, o próximo desdobramento da decisão da Suprema Corte.
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